Vamos amanhã avançar para o Pau Caído. Missão arriscada, pois ou são eles ou somos
nós. O Pau Caído ocupado pelo inimigo representa mais um punhal no povo de Cabinda. E
onde está esse povo?
Deixa-se dominar, não nos apoia. A culpa é dele? Não, a culpa é de quem não soube
convencê-los.
Amanhã, no ataque, quantos naturais de Cabinda haverá? Um, eu mesmo. Um, no meio
de cinquenta. Como convencer os guerrilheiros de outras regiões que o meu povo não é só
feito de traidores? Como os convencer que eu próprio não sou traidor?
As palavras a meia voz, as conversas interrompidas quando apareço, tudo isso mostra
que desconfiam de mim. Só o Comandante não desconfia.
Entrámos no mesmo ano na guerrilha. Eu era o guia, ele era o professor da Base. Não
queriam que ele combatesse, davam-lhe os comunicados de guerra para escrever. Até que um
dia ele exigiu que o deixassem combater. Nunca mais escreveu os comunicados de guerra,
passou a vivê-los.
Estivemos sempre juntos, ele sabe que não trairei. Mas quantos são os que pensam
como ele? Vai embora, foi dito que se vai embora para o Leste. Quem me defenderá dos
outros, quem terá a coragem de se opor ao tribalismo?
Terei de ser eu a impor-me, sendo mais corajoso que ninguém. E Nzambi sabe como
tenho medo! Mas que será feito do meu povo se o único cabinda se portar mal?
Às vezes penso que os outros têm razão, que era preciso liquidar os cabindas. É nos
momentos de raiva. Mas o meu irmão, bem mobilizado, não seria capaz de lutar? Seria, sim, é
só preciso que a luta avance.
Depois de amanhã, no combate, serei como o Sem Medo. O meu povo o exige.
A progressão até ao Pau Caído passou-se normalmente. Por vezes, viam novos trilhos,
abertos pelo inimigo, procurando a Base. As patrulhas de reconhecimento iam e vinham,
estudando minuciosamente o terreno. Qualquer choque prematuro estragaria o efeito de
surpresa. O grosso da coluna avançava em etapas curtas, de uma hora de marcha.
Às três da tarde estavam a quinhentos metros do acampamento. Ouviam-se vozes, gritos
e gargalhadas. O grupo de artilharia separou-se, foi ganhar o morro onde pernoitaria. O fogo
começaria exatamente às seis da manhã.
Os guerrilheiros descansavam, calados. Os responsáveis cochichavam, combinando os
últimos detalhes. Comeram às cinco horas. Nessa altura, deslocou-se o grupo de bazukeiros,
comandado pelo Chefe de Operações. Tomariam posições à noite, antes de dormir, e às seis
menos dez progrediriam para o acampamento. O grupo de assalto mantinha-se naquele local, e
começaria a progressão às cinco e meia da manhã. Era um grupo numeroso e, por isso, não
podia dormir demasiado junto do inimigo: há a tosse incontrolável ou o pesadelo que faz gritar.
Sem Medo aproximou-se de Teoria.
— Que tal?
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mayombe (Completo)
RomanceA história do livro tem como cenário Angola nos anos 70, período que marca as lutas pela independência do país. No primeiro capítulo intitulado "A Missão", os guerrilheiros no Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) chegam à selva de Mayomb...