— É preciso saber retardar o prazer... Depois sabe melhor.
Os guerrilheiros abraçaram-se, como quando enfrentavam um perigo qualquer. Depois,
o Comissário, Lutamos e Mundo Novo partiram, cautelosamente, para junto do caminho.
Demoraram uma hora a chegar lá, com a preocupação de escutarem os ruídos e evitarem partir
os paus secos. Anoitecia, quando se sentaram a dez metros do caminho, invisível pelas
ramagens e pelo crepúsculo. Abraçaram-se às lianas, cobriram-se com as folhas que dos seus
braços nasciam, e prepararam-se para ali passar a noite.
Foram acordados pelas primeiras vozes que se libertavam do espaço limitado da sanzala,
para se irem combinar ao orvalho que avivava o verde das folhas. Sacudiram o torpor dos
membros e do corpo doído pelas raízes, sobre as quais se deitaram. Avançaram na noite para o
caminho. Emboscaram-se ao lado dele. Cada cão que ladrava trazia-lhos a impressão de ladrões
esperando a vítima. No entanto, eles esperavam um homem para lhe entregar o seu dinheiro.
Estranha situação que leva o que dá a esconder-se, pensou Mundo Novo. Só o colonialismo
poderia provocar tal aberração.
As vozes aproximaram-se. Dois homens conversavam, caminhando. Impossível ver-lhes
a cara, na escuridão. Não poderiam pará-los, para lhes perguntar quem eram. Os homens
chegaram à frente deles e Lutamos compreendeu que falavam do combate. O Comissário
segurou no braço de cada companheiro, indicando-lhes que nada fizessem. Os homens
passaram. Lutamos segredou aos outros que nenhum dos homens era o mecânico.
— Como sabes?
— Pela voz.
Quinze minutos depois, um vulto desenhou-se na obscuridade quase total. Era uma
mulher que ia para a lavra. Deixaram-na passar.
Já clareava, quando distinguiram a uns dez metros o rosto inteligente do mecânico.
Vinha com outro trabalhador, o velho que tinha uma perna defeituosa. Ao passarem junto
deles, o Comissário chamou baixinho:
— Malonda!
O interpelado virou-se para eles, atónito e assustado. Lutamos surgiu então da ramagem
com que se camuflava.
— Somos nós. Venham aqui só um minuto.
Os trabalhadores reconheceram Lutamos. Hesitaram, olharam para trás, em direção da
aldeia, depois interrogaram-se, mudos. Lutamos repetiu o convite e os homens decidiram-se a
entrar na mata.
Os guerrilheiros afastaram-se com eles alguns passos do caminho.
— Trouxemos-lhe o seu dinheiro – disse o Comissário. – Um dos nossos camaradas
tinha-o roubado. Vai ser julgado e castigado. Está aqui o dinheiro.
— Vieram só por isso? – perguntou o coxo. – Mas era perigoso...
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mayombe (Completo)
RomanceA história do livro tem como cenário Angola nos anos 70, período que marca as lutas pela independência do país. No primeiro capítulo intitulado "A Missão", os guerrilheiros no Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) chegam à selva de Mayomb...