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— Como é? – disse Lutamos, nervoso. – E os trabalhadores da Diamang? E os da
Cotonang? São traidores? Têm de trabalhar para o colonialista...
— São, sim, pá – disse Muatiânvua. – Depois de tanto tempo de guerra, quem não está
do nosso lado é contra nós. Estes aqui estão mesmo perto do Congo. Talvez mesmo que
ouvem a nossa rádio. Veem que há exploração. Então porque não se juntam a nós? Deixa! É só
varrer, pá!
Milagre esperou a reação de Lutamos. Como este, ofendido, não respondia, Milagre
falou para o Comissário:
— Que é que o camarada Comissário pensa?
— Penso que devemos partir, por isso não há mais papos. Discutiremos depois. Mas ai
de quem tocar num trabalhador ou num homem do povo sem que se dê ordem. Ai dele!
— O Muatiânvua está a brincar com o Lutamos – disse o Comandante. – Estes lumpens
gostam sempre de brincar com coisas sérias...
Muatiânvua riu, acendendo um cigarro. Piscou o olho para Lutamos.
— Mas o aviso do Comissário é sério – continuou Sem Medo. – Quem vier fazer
tribalismo contra o povo de Cabinda será fuzilado. Fuzilado! Não estamos a brincar.
O silêncio pesado que seguiu a afirmação de Sem Medo não foi afastado para trás, como
as lianas que nos batem na cara. O silêncio era o Mayombe, sempre ele, presente, por muitas
lianas que se afastassem para trás.
Caminharam a direito, atravessando constantemente o rio, para encurtar caminho. Os
primeiros minutos foram o inferno para Teoria. Agora ia melhor. Vencera o primeiro combate,
o mais duro. Sabia que vencera mesmo todo o combate. Avançaram distanciados uns dos
outros, em fila indiana, por entre as folhas largas de xikuanga, onde vivem os elefantes. O
cheiro de elefante era persistente. Pena que não viemos caçar, pensou Ekuikui, o caçador; daria
comida para muito tempo. E, ao atravessarem de novo o rio, depararam com uma manada de
elefantes. Instintivamente, Ekuikui levantou a arma.
— Ninguém dispara! – gritou o Chefe de Operações.
Ekuikui contemplava os elefantes que se afastavam calmamente, agitando as trombas e
as enormes orelhas, nada alarmados por aquela fila de homens de verde que saíam do verde
imenso do Mayombe. O Comissário bateu-lhe no ombro:
—- Viemos procurar o tuga. Se fazemos fogo, o tuga pode ouvir e ficar de prevenção.
Ekuikui, o caçador do Bié, abanou tristemente a cabeça.
—- Eu sei, camarada Comissário.
Lutamos meditava no que discutira com os camaradas. O Comandante dissera que era
brincadeira. De Muatiânvua, sim; mas Verdade não brincava. Lutamos ia distraído, à frente da
coluna, guiando-a numa zona praticamente desconhecida. Em breve chegariam à picada que
servia para o transporte das arvores derrubadas. Também esse povo que não apoia! Só mesmo

mayombe (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora