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sinal de abrir fogo. A vanguarda inimiga aproximava-se do último guerrilheiro, enquanto os da
cauda entravam na emboscada.
Está lindo, entraram que nem patinhos! – pensou Sem Medo. E disparou, visando os
que estavam à sua frente, a menos de quatro metros. Imediatamente crepitaram as pépéchás
com o seu barulho de máquina de costura. Dois segundos depois, Milagre erguia-se e bazukava
sabiamente o grupo avançado. Os soldados, apanhados na mais completa surpresa, só placaram
ao solo ou cambalhotaram, quando já muitos tinham caído. Os gemidos confundiam-se com o
cacarojar das pépéchás e o estrondo das granadas. Finalmente, os primeiros soldados
começaram timidamente a responder ao fogo, para permitir que os que estavam na estrada
pudessem ganhar a mata protetora.
Sem Medo mudou o carregador, no momento em que apercebeu o soldado à sua frente,
deitado na borda da estrada, tentando febrilmente desencravar a culatra da G3. O soldado
tinha-o visto, mas a arma encravara. Sem Medo apontou a AKA. O soldado era um miúdo
aterrorizado à sua frente, a uns quatro metros, as mãos fincadas na culatra que não safava a bala
usada. Os dois sabiam o que se ia passar. Necessariamente, como qualquer tragédia. A bala de
Sem Medo abriu um buraquinho na testa do rapaz e o olhar aterrorizado desapareceu.
Necessariamente, sem que qualquer dos dois pensasse na possibilidade contrária.
Os soldados que se encontravam na estrada estavam mortos ou feridos. Os outros
disparavam agora furiosamente, visando as árvores. Tinham ficado muitos vivos, era impossível
passar ao assalto. Sem Medo deu ordem de retirar. Era o mais difícil: as balas silvavam acima
das cabeças, cortando os ramos ou cravando-se nos troncos das arvores. Milagre, expondo-se
perigosamente, bazukou uma moita donde vários inimigos faziam fogo nutrido. A ação de
Milagre fez parar o fogo inimigo e os guerrilheiros aproveitaram para recuar, rastejando, até
ficarem ao abrigo dos tiros adversários. Grande combatente, esse Milagre, pensou Sem Medo,
enquanto rastejava. A dez metros do sítio onde se encontravam, já puderam erguer-se um
pouco e afastarem-se, pois tinham árvores interpostas. Os soldados colonialistas aumentaram o
volume de fogo. Os guerrilheiros recuaram até ao ponto de encontro. Os soldados lançavam
insultos, de mistura com balas, certos agora que os guerrilheiros já tinham partido. Do Sanga
começaram a cair os primeiros obuses de morteiro, atirados à toa, só para desmoralizar.
No ponto de recuo, os responsáveis controlaram os combatentes: Alvorada tinha um
ferimento ligeiro no ombro e Muatiânvua ainda não tinha chegado. Esperaram Muatiânvua,
enquanto Pangu-Akitina tratava do ferido. Muatiânvua não aparecia.
– Deve ter apanhado – disse o Comissário. – É preciso ir buscá-lo.
— Não pode – disse Milagre. – Eu estava ao lado dele e não o vi apanhar.
— Viste-o recuar? – perguntou o Comandante.
— Não.
— Então, pode ter apanhado no recuo. Quem é voluntário para o ir buscar?

mayombe (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora