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— Camaradas, eu vou chamar o Comissário – disse Teoria.
— Não é preciso – disse Kiluanje –, está tudo claro. Eu também não discuto mais.
— Parem mas é com as vossas ameaças – disse Pangu-Akitina. – Pensam que metem
medo? Nós também temos armas.
Teoria pegou no braço de Pangu-Akitina e puxou-o para fora. Mas o enfermeiro era
mais forte e foi Teoria que foi arrastado para dentro do quarto.
— Vocês não metem medo, hem?
Os guerrilheiros kimbundos riram e não responderam. Tinham segurado Milagre
violentamente, para evitar que discutisse mais. Kiluanje controlava-se bem.
— Nós também temos armas! Estão só para aí a ameaçar... O MPLA é vosso? O MPLA
não é só dos kimbundos, é de todos.
Os outros não responderam. Esperavam que os gritos de Pangu-Akitina, que já tinham
atraído outros guerrilheiros que espreitavam pela janela, chamassem o Comissário. Teoria
puxava-o, mas o enfermeiro repelia-o com brutalidade.
— Nós varremos muitos de vocês no passado. Os Dombos e Nambuangongos
pagavam imposto ao Rei do Congo. Vocês eram nossos escravos, como é que falam agora?
O barulho trouxe o Chefe de Operações. – Que se passa aqui?
— O camarada Pangu-Akitina veio aqui insultar-nos – disse o chefe de grupo Kiluanje.
— Não – disse Teoria. – Começaram a discutir, tentei interromper, mas dum lado e do
outro não queriam parar.
— Mas quem é que está a falar agora, a provocar? – disse Kiluanje. – Nós calámo-nos,
quando vimos o que Pangu queria. Mas ele continuou, continuou. Agora chamou-nos escravos
dos kikongos...
— É mentira! – disse Pangu-Akitina.
— É verdade! – disse Ekuikui. – Você foi burro, perdeu a cabeça, era o que eles
queriam. Disseste, sim, isso. Mas quem puxou a conversa foram eles e depois aqueceu. Não foi
o Pangu que veio aqui insultar.
— Bem, o Comando vai resolver isso depois – disse o Chefe de Operações. – E agora
dispersem!
Indo para o quarto que partilhavam, Ekuikui disse a Teoria:
— Não sei se o Pangu foi só levado ou se queria mesmo arranjar uma maka.
— Os outros foram malandros. Irritaram-no e depois calaram-se, para ser ele a enterrar-
se. Ele reagiu por tribalismo.
— Claro, camarada professor. Mas parece a mim que ele sabia disso e não se importou.
Estava a fazer de propósito.
— Para provocar?

mayombe (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora