O Comissário partiu para a escola do Movimento, em que Ondina ensinava, a um
quilómetro da saída da cidade. Os camaradas da Base devem estar praticamente sem comida,
pensou. Uma raiva surda invadia-o gradualmente.
O passeio ao Sol ardente ainda enfureceu mais. Não estava habituado ao Sol, sempre
escondido na sombra protetora do Mayombe. Ingratidão tinha ido para a cadeia, mas precisava
de informar André da decisão do Comando e combinar com ele qual o regime que Ingratidão
deveria seguir. E André escondia-se...
A escola encontrava-se numa elevação, escondida por arvoredo. As várias casas de
adobe espalhavam-se num raio de 50 metros, servindo de escola e hospital. Mais para cima,
havia casas de pau a pique, que eram o internato.
As crianças estavam nas aulas. Ondina também. Esperou por ela, cumprimentando as
pessoas, perguntando por André. No entanto, Ondina foi avisada que ele chegara e saiu da sala.
— Chegaste ontem, já sei.
— Sim. Mas tenho andado atrás do camarada André. Ele não aparece.
Ondina estava amuada, era evidente. Ele tentou segurar-lhe a mão, ela evitou, olhando
em volta.
— Que tem? – disse ele. – Todos sabem que somos noivos...
— É melhor não. Espera um pouco, eu vou já acabar a aula. Vens almoçar comigo?
O Comissário hesitou, desviou os olhos.
— Tenho de ver se apanho o camarada André à hora do almoço.
— Quer dizer que vais já para Dolisie? – perguntou ela, friamente.
Os camaradas tinham fome, ele viera por isso e por Ingratidão. Não viera por Ondina.
A custo respondeu:
— Tenho de seguir daqui a pouco. Não temos comida na Base...
Ondina não replicou. Virou-lhe as costas e partiu para a sala. O Comissário ficou vendo-
a, o chapéu guerrilheiro a passar duma mão para a outra, o nome dela atravessado na garganta.
Foi visitar os camaradas feridos, passando tempo, passando a esponja sobre a atitude dela. Ele é
que se sentia culpado.
O sino finalmente tocou e Ondina saiu, rodeada pela gritaria dos pioneiros libertos. O
Comissário dirigiu-se com ela para o quarto. Ondina habitava um quarto da única casa de
cimento, quarto que partilhava com uma aluna mais crescida, Ivone.
— Porque não vais a Dolisie? – perguntou ela bruscamente, quando chegaram ao
quarto.
— Ainda é cedo. O André só lá deve estar à uma hora.
Esperou que ela o convidasse e depois sentou-se na cama. Ondina ficou de pé, fingindo
arrumar as coisas, dominando a irritação.
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mayombe (Completo)
RomanceA história do livro tem como cenário Angola nos anos 70, período que marca as lutas pela independência do país. No primeiro capítulo intitulado "A Missão", os guerrilheiros no Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) chegam à selva de Mayomb...