— Viemos só três. Não chega.
— Bem, então vou organizar um grupo de reabastecimento. Logo que arranjar o
dinheiro...
— Têm de partir esta noite – disse o Comissário.
— Sim, sim. Quando nos encontramos? Aqui, às seis horas, está bem?
— Está bem – disse o Comissário, contrariado. Mais uma vez lhe ia cortar o encontro
com Ondina.
André desapareceu e o Comissário meteu-se a caminho da escola. Cruzou-se com
Verdade, que acompanhava uma mulher.
— Prepara-te para partir esta noite. Vai um grupo de reabastecimento.
— Mas, camarada Comissário, eu tenho um problema...
— Partes esta noite! Prepara-te!
Verdade calou-se e continuou o caminho. Vai furioso, pensou o Comissário. O seu
problema é aquela mulher, com quem queria passar a noite, é evidente. Mas ainda tem tempo, a
partida é sempre de madrugada. Com que direito fico eu aqui mais uns dias e mando o Verdade
para a Base? Mando-o, porque lá há pouco efetivo, porque veio para uma missão que já
cumpriu. Por isso, não tem razão de ficar. E eu? Porque fico eu? Esta noite posso
perfeitamente combinar com o André o que fazer sobre o Ingratidão. Não tenho outra razão
senão Ondina. Que direito tenho de mandar o Verdade para a Base, se, pela mesma razão, eu
não vou?
A dúvida foi aumentando à medida que se aproximava da escola. Os responsáveis
formavam uma casta que se arrogava todos os privilégios, diziam os militantes. E era verdade.
Era verdade, ele ali estava a prová-lo. A decisão já estava tomada ao chegar à escola.
Ondina recebeu-o a princípio com hostilidade. Mas Ivone depois saiu do quarto e ela
enterneceu-se. Saíram abraçados e foram-se meter pelo capim, o mais longe possível da escola.
Pararam em baixo duma mangueira majestosa, à sombra da qual se sentaram.
Fizeram amor uma, duas vezes, ele sempre desajeitadamente. O Comissário convencia-
se que ela não tinha prazer e perdia-se em divagações, auscultando as reações dela, sem se
entregar realmente, e sem gozar. Ela sentia-se espiada e deixava de gozar: o orgasmo era um
resultado mecânico dum ato maquinal. Mentiam-se depois um ao outro, dizendo terem tido um
vivo prazer. Cada um sabendo que o outro mentia. Ondina não ousava falar desse problema,
pois o noivo ficaria chocado: ele não permitia que se formasse a verdadeira intimidade dos
amantes que podem falar naturalmente, sem preconceitos. Eram noivos, não amantes. E ela
pressentia ser necessária uma explicação. Resolvera optar pela prática: com o tempo ele acabaria
por se descontrair e se entregar. Mas o tempo parecia ser incompetente para resolver a questão,
pois era raro verem-se; encontravam-se por dois ou três dias, de dois em dois meses, ou mais.
Só com o casamento. Ondina sabia, no entanto, que o casamento não provocaria uma mudança
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mayombe (Completo)
RomanceA história do livro tem como cenário Angola nos anos 70, período que marca as lutas pela independência do país. No primeiro capítulo intitulado "A Missão", os guerrilheiros no Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) chegam à selva de Mayomb...