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— A Base, Comandante, a Base...
Ondina escondia-se atrás da porta, agora aberta. Sem Medo foi procurar as botas
debaixo da cama. Vewê entrou, Sem Medo não o impediu.
— Procura-me aqui o raio das botas... A Base, dizias tu... Como foi?
Vewê agachou-se no chão para procurar as botas. Ao virar-se, Sem Medo apercebeu o
vulto branco do lençol e lembrou-se de Ondina.
— Vem, vamos para fora. Conta primeiro como foi.
E arrastou Vewê para fora do quarto.
— Os tugas atacaram.
— O Comissário?
— Não sei. Eu estava no forno, ouvi as rajadas, vi os camaradas a correr, a fugir, fui à
minha casa buscar a pistola que tinha deixado lá. Os camaradas fugiram para o sítio onde estava
o inimigo.
— Espera, depois contas. Vai chamar o Kandimba. Já venho, é só encontrar as botas.
Voltou a entrar no quarto. Ondina estava sentada na cama. Sem Medo procurou as
botas, enfiou-as, vestiu uma camisa de farda, passou a cartucheira à volta da cintura e pegou na
AKA.
— Vou buscar gente ao Depósito.
— O que vais fazer? – perguntou Ondina.
— Chegar à Base. Salvar o que se puder salvar.
Ondina apertou-lhe as mãos. Os olhos brilhavam com as lágrimas.
— Se o João foi apanhado?
Sem Medo encolheu os ombros.
— Tens de o salvar, Sem Medo. Tens de o salvar. Por esta noite, por mim, tens de o
fazer.
— Afinal gostas mesmo dele!
Ondina deixou-se cair, soluçando, sobre a cama.
— Se alguma coisa lhe sucedeu... Oh, se alguma coisa lhe sucedeu, sou eu a culpada...
— Disparates! Foste tu que levaste o tuga lá? Eu vou salvá-lo, se for possível.
Sem Medo beijou-lhe a nuca e saiu, fechando cuidadosamente a porta. A nuvem que
estava à frente dos olhos desapareceu. No jipe, largado a cem à hora para o Depósito, Vewê
contava.
— O camarada Comissário trouxe a notícia que os tugas estavam no Pau Caído.
Mandaram um grupo patrulhar a montanha à frente do Pau Caído. Afinal o inimigo já tinha
avançado, porque nos atacou.
— Quem chefiava esse grupo?

mayombe (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora