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— Saberemos mais tarde. Quantos homens estão contigo?
— Nove, camarada Comandante.
— Trouxe trinta. É um grupo suficiente para atacar a Base, se o inimigo ainda lá estiver.
— Oh, ele nunca fica muito tempo numa base nossa, é melhor perder as esperanças.
— Eu sei. Mas devemos contar com tudo. Também não sabemos explicar como ele
chegou lá, portanto... Estamos em pleno mistério. Pode ser que, também contra todas as
previsões, ele ainda lá esteja. Daqui a bocado, acredito nos espíritos! Avancemos!
Sem Medo meteu-se à frente da coluna. Precisavam de ir a corta-mato, pois o inimigo
devia controlar o caminho de acesso à Base. O Chefe de Operações pôs-se ao lado de Sem
Medo.
— Desculpe, camarada Comandante. Mas o camarada deve ir no meio da coluna. Vou
eu à frente.
— Deixa-te disso!
— Não. Pode haver uma mina, nunca se sabe. O comandante é demasiado importante
para ir à frente.
Sem Medo não respondeu. Obedeceu. Vários guerrilheiros se puseram entre ele e o
Chefe de Operações, que abria a mata à catanada. Marcharam todo o dia, pois tinham de abrir o
caminho e dar voltas para não se aproximarem do trilho normal. As lianas defendiam o segredo
da sua impenetrabilidade, mas os homens eram teimosos e vergavam o deus-Mayombe a seus
pés. Às seis da tarde, exaustos, chegaram a quatrocentos metros da Base.
— Não podemos avançar mais – disse Sem Medo. —Atacaremos de madrugada.
Todos concordaram. Deitaram-se sem comer. Não tinha havido tempo de se pensar em
preparar comida, no momento da partida. Há cerca de 24 horas que nenhum de nós come,
pensou Sem Medo, e ninguém parece pensar nisso. Então o grupo do Das Operações talvez
esteja sem comer há muito mais tempo.
Alguns guerrilheiros adormeceram, mal se deitaram. Ninguém tinha trazido panos para
se cobrir. O frio do Mayombe ia penetrar-lhes os ossos, talvez viesse a chuva, mas quem se
importava? Mundo Novo aproximou-se de Sem Medo.
— Veio rápido.
— Ora, era o mínimo!
— Nunca pensei que pudesse arranjar um efetivo tão elevado.
— Nem eu. Mas, como vês, a realidade ultrapassa a imaginação. Às vezes subestimamos
os nossos militantes...
— O Vewê não devia ter vindo – disse Mundo Novo.
— Desde ontem que marcha sem parar, sem dormir e, possivelmente, sem comer. E
teve de andar toda a noite na floresta.

mayombe (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora