abrirem-se... Olhei-a e ela fixava-me. Viu que eu mirava as coxas e aproveitou um solavanco do
carro para as afastar mais, imperceptivelmente mas o suficiente. Parei o jipe, quem o não faria?
Um homem não é de pau! Fui eu que a beijei ou foi ela que fez o primeiro movimento? A puta
aceitou logo ir para o capim. Que fogo, meu Deus! Que vulcão! Perdi o meu lugar, mas valeu a
pena. Tinham emboscado uma série de militantes na estrada, para testemunharem. E ela
aprestou-se ao complô, porque é uma vaca que gosta de homem e porque assim o seu
Comissário vai subir. O Sem Medo vai para o posto que pretendia e quem será o novo
Comandante da Base? Claro que será o Comissário.
Foi tudo um plano arquitetado pelo Sem Medo, não pode haver dúvidas. Foi-lhe fácil
convencer o Comissário, que só faz o que ele quer e que tem ambições. Simples como água! Fui
levado, mas desforrei-me. Que momentos! E ela gozou, a cabra! Não parava, queria mais,
sempre mais, nem sentia os mosquitos a picarem-lhe a bunda. Quando veio para o jipe, mal
podia andar, estava derreada. Ela também aproveitou para ter um homem. Porque não é aquele
miado do Comissário que lhe dá gozo, isso vê-se logo. Era um plano em que ela quis ainda
beneficiar duplamente. O Comissário terá querido que ela fosse só para o capim e aí recusasse e
fugisse para o jipe. Tanto bastaria para me tramar. Devia ser esse o plano. Mas a cabra quis
também tomar a sua parte. E que parte! Foi zelosa, as mulheres são sempre assim, têm de
modificar um plano a seu favor, se quinze minutos lhes bastam. Elas demoram duas horas.
E este cara-de-pau não percebeu nada. Quem acreditará no complô? Ninguém. Nem
vale a pena denunciá-lo, ninguém acreditará. Pensarão que é desculpa.
De qualquer modo, estou-me marimbando. O pior momento já passou. Em Brazzavile
não me liquidarão. E sempre tenho os meus apoios. Não destes tipos que nem ousaram
defender-me, não da plebe. Tenho apoios bem colocados, que têm influência. Farei a minha
autocrítica para desarmar os adversários e isso dará possibilidades aos meus amigos para
advogarem a minha causa.
Lenine teve razão ao inventar a autocrítica. Que boa coisa que é a autocrítica! Há uns
burros que sempre a recusam. Ainda não descobriram o furo. Quando estiveres em maus
lençóis, faz a tua autocrítica. Todos os ataques pararão imediatamente. É a teoria da ação e da
reação: uma força que faz haja uma reação para se exercer. Se tu eliminas a reação, que no caso
seria a tua defesa, que acontece? A ação deixará de se exercer. É simples como água. Faço logo
de começo a minha autocrítica, aí os ataques serão só para a forma, já terão perdido toda a
força da raiva. Quem pode atacar um homem que se não defende? Considerarão que sou um
bom militante, pois autocritiquei-me. E não me fazem baixar de posto, mandam-me para outro
sítio.
Só os burros são teimosos, se mantêm no erro. Porque eu cometi erros, para quê negar?
Deveria ter desconfiado da Ondina e tê-la levado para um sítio bem escondido, onde não
pudessem arranjar testemunhas. Falar-se-ia mas não haveria provas. E ela acabaria por aceitar,
já estava ao rubro: o plano cairia, mas ao menos ela sempre teria uma parte. Outro erro foi o de
confiar nalguns militantes. A plebe é toda igual, não merece confiança, o responsável para ela só
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mayombe (Completo)
RomanceA história do livro tem como cenário Angola nos anos 70, período que marca as lutas pela independência do país. No primeiro capítulo intitulado "A Missão", os guerrilheiros no Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) chegam à selva de Mayomb...