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— Que pensas então que se deve fazer? Pôr nas cordas dois guerrilheiros que se
insultem?
— Não, isso não.
— Pô-los de guarda suplementar?
— Com a fome, ninguém aguenta de guarda mais que o tempo normal. Vão dormir na
guarda.
— Então? – perguntou Sem Medo.
— Não sei, não sei. Mas penso que também não se pode deixar abandalhar...
— Claro, também acho. O problema é que não se pode castigar agora. Mas deves
criticar os faltosos, mesmo muito duramente, não podes registar apenas.
— Não faço outra coisa!
— Então, que é que queres modificar na tua atitude?
— Eu, nada. O Mundo Novo é que queria.
— Parecia-me há pouco que não estavas totalmente seguro da tua posição.
O Comissário olhou Sem Medo, soerguendo-se na cama até ficar sentado.
— Alguém pode estar seguro nesta situação? Diz, Comandante, alguém pode estar
seguro?
— Sim, pode. O Mundo Novo! Ele tem uma Bíblia... Toda a verdade está escrita,
gravada em pedra, nem dois mil anos de história poderão adulterá-la. Felizes os que creem no
absoluto, é deles a tranquilidade de espírito! Não queres ser feliz, seguríssimo de ti mesmo?
Arranja um catecismo...
O Comissário sorriu. Voltou a deitar-se.
— Que devemos fazer?
— Nada. Esperar.
— O povo é tão longe! – disse o Comissário. – Se houvesse povo perto, poderia dar-nos
comida. Aquela aldeia em que estivemos na última missão podia abastecer-nos. Temos de levar
a Base mais para dentro, lá para aquela zona. Podia abastecer-nos, não achas?
— Podia, poderia... Agora só resta esperar o Das Operações. Se o senhor André se
dignou abrir a bolsa.
— Mas não terá mesmo dinheiro?
— Quem?
— O André?
— Deve ter dinheiro, sim. Aquilo é sabotagem.
— Mas porquê? – perguntou o Comissário.
— Vai lá saber porquê um burocrata sabota a guerra! Ou porque a guerra leva à
formação de mais quadros, que um dia o podem substituir... Ou porque as coisas devem ser

mayombe (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora