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— Não, João, é inútil. Eu não gosto de ti, compreendes? Quando compreendes isso
duma vez? Eu não gosto de ti, não te quero mais.
A voz alterada dela fez enfurecer o Comissário.
— Não é verdade! Eu sei que não é verdade.
O Comissário abraçou-a com violência, apertou-a de encontro a si. Ela tentou fugir mas
ele fez força. Beijou-lhe os lábios, quase mordendo. Ondina gemeu. Ele acariciou-a
brutalmente, depois derrubou-a sobre a cama.
— É melhor não, João.
O vestido voou com o puxão dele. Ele despiu-se rapidamente, dominando-a, enquanto
ela se debatia.
— Vou-te provar que me gramas.
Ele foi brutal, sem se importar que ela gozasse. Ondina ficou deitada, os olhos fechados,
as coxas na mesma posição, enquanto ele se levantava num repelão, já arrependido. Deixou-se
cair aos seus pés e soluçou baixo. Ela saiu do torpor e afagou-lhe a cabeça. O Comissário
voltou a deitar-se, a cabeça no seio, chorando. Até que os soluços fizeram endurecer de novo
os bicos dos seios de Ondina e ele sentiu. O amor foi menos brutal, da segunda vez.
— Vão ouvir – disse ela quando se afastaram.
— Que me interessa? Que te interessa? Diz-me que ficas comigo.
— Posso dizer-te agora, João, mas que valor tem isso dito numa cama, depois de se
fazer amor? Amanhã, a frio, poderei dizer-te o contrário.
— Não. Dirás a mesma coisa.
— Agora aceitaria ficar. Porque pela primeira vez nos entendemos realmente bem. Mas
depois será a mesma coisa e eu desejarei outros homens.
— Diz-me que me queres.
— Sim, João. Mas amanhã...
— Que me interessa amanhã?
Novamente se entrelaçaram. A noite caía lá fora e o quarto estava escuro.
Sem Medo esperou longo tempo na escola e acabou por voltar sozinho a Dolisie.
O Comissário só mais tarde apareceu em Dolisie, já o Comandante se deitara. João foi
ter com ele ao quarto.
— Está tudo arranjado, Sem Medo. Ela fica comigo.
Sem Medo viu os olhos luminosos do Comissário, procurando nos seus a aprovação.
— Que pensas, Comandante?
— Tu é que sabes. Se vês que as coisas se podem arranjar, tanto melhor para vocês. Fico
muito contente. O que se passou pode não ter importância...
— Não tem mesmo. Foi um impulso de momento. Não tem importância, Sem Medo.

mayombe (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora