Quando a serra parou de zumbir, o grupo do Chefe de Operações ainda não tinha
cercado os trabalhadores que, a grupos de dois, atacavam a machado os colossos do Mayombe.
Pangu-Akitina, que ia à frente, travou logo: estavam a dez metros do primeiro par de
trabalhadores; os outros pares estavam distanciados uns dos outros. O silêncio chamou a
atenção dos operários, que se fizeram sinais, esperando a queda da árvore.
Os guerrilheiros esperavam, o coração apertado, que eles retomassem o trabalho. Mas o
fragor da queda da árvore não vinha e o mais velho dos trabalhadores disse:
— Há qualquer coisa. O motor parou à toa.
Todos espetavam as orelhas. Os guerrilheiros pararam de respirar, enroscados ao verde
da mata. Um dos trabalhadores mais afastado abandonou o machado e dirigiu-se para o par que
estava mais próximo dos guerrilheiros. O Chefe de Operações avaliou a situação: tinha de agir
rápido.
— Não se mexam! – gritou, saltando para perto do trabalhador velho.
A surpresa gelou os mais próximos. Mas os outros abandonaram os machados e
correram para o mato. Alguns guerrilheiros perseguiram-nos.
— Não disparem! – gritou Mundo Novo, correndo atrás dos fugitivos.
Mas o Chefe de Operações, para assustar os trabalhadores, fez uma rajada para as folhas.
Milagre, voando sobre os troncos caídos, aproximou-se dum trabalhador. De repente,
uma baixa e um regato. O trabalhador lançou-se de mergulho e foi rastejando sobre as pedras
do rio pouco profundo. Milagre levava a bazuka e hesitou: gastaria um obus no ar para o
travar? O trabalhador desapareceu na curva do regato, rasgando o ventre nas pedras, e Milagre
voltou para trás, trazendo como troféu a catana que caíra da cintura do homem.
Mundo Novo fez fogo para o ar e o trabalhador que perseguia parou, as pernas
trementes. Era um rapaz. Com afeição, quase carinhosamente, Mundo Novo conduziu-o para o
grupo dos três outros prisioneiros.
— Onde está o buldozer? – perguntou o Das Operações.
O mais velho dos trabalhadores apontou a direção. Tinha uma perna torta. Deve ter sido
uma árvore que lhe caiu em cima, pensou Mundo Novo.
— Leva-nos lá.
O grupo foi avançando para o sítio da picada, onde devia estar Sem Medo. O silêncio da
serra parando subitamente não interrompeu as reflexões do português, que se sentava ao
volante do camião. Acendera mesmo um cigarro, segundo se pôde aperceber Sem Medo. Mas,
quando a primeira rajada soou, o tuga acordou do torpor e tudo nele se pôs a vibrar. Sem
querer saber o que se passava, pôs o camião em marcha e arrancou. A vinte metros dele,
emboscados, os guerrilheiros visavam-no.
Sem Medo viu que o branco suava e fazia caretas, acelerando.
— Não atirem! – gritou Sem Medo.
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mayombe (Completo)
RomanceA história do livro tem como cenário Angola nos anos 70, período que marca as lutas pela independência do país. No primeiro capítulo intitulado "A Missão", os guerrilheiros no Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) chegam à selva de Mayomb...