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A imensidão do mar que nada pode modificar ensinou-me a paciência. O mar une, o
mar estreita, o mar liga. Nós também temos o nosso mar interior, que não é o Kuanza, nem o
Loje, nem o Kunene. O nosso mar, feito de gotas-diamante, suores e lágrimas esmagados, o
nosso mar é o brilho da arma bem oleada que faísca no meio da verdura do Mayombe,
lançando fulgurações de diamante ao sol da Lunda.
Eu, Muatiânvua, de nome de rei, eu que escolhi a minha rota no meio dos caminhos do
Mundo, eu, ladrão, marinheiro, contrabandista, guerrilheiro, sempre à margem de tudo (mas
não é a praia uma margem?), eu não preciso de me apoiar numa tribo para sentir a minha força.
A minha força vem da terra que chupou a força de outros homens, a minha força vem do
esforço de puxar cabos e dar à manivela e de dar murros na mesa duma taberna situada algures
no Mundo, à margem da rota dos grandes transatlânticos que passam, indiferentes, sem nada
compreenderem do que é o brilho-diamante da areia duma praia.

mayombe (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora