A imensidão do mar que nada pode modificar ensinou-me a paciência. O mar une, o
mar estreita, o mar liga. Nós também temos o nosso mar interior, que não é o Kuanza, nem o
Loje, nem o Kunene. O nosso mar, feito de gotas-diamante, suores e lágrimas esmagados, o
nosso mar é o brilho da arma bem oleada que faísca no meio da verdura do Mayombe,
lançando fulgurações de diamante ao sol da Lunda.
Eu, Muatiânvua, de nome de rei, eu que escolhi a minha rota no meio dos caminhos do
Mundo, eu, ladrão, marinheiro, contrabandista, guerrilheiro, sempre à margem de tudo (mas
não é a praia uma margem?), eu não preciso de me apoiar numa tribo para sentir a minha força.
A minha força vem da terra que chupou a força de outros homens, a minha força vem do
esforço de puxar cabos e dar à manivela e de dar murros na mesa duma taberna situada algures
no Mundo, à margem da rota dos grandes transatlânticos que passam, indiferentes, sem nada
compreenderem do que é o brilho-diamante da areia duma praia.
VOCÊ ESTÁ LENDO
mayombe (Completo)
RomanceA história do livro tem como cenário Angola nos anos 70, período que marca as lutas pela independência do país. No primeiro capítulo intitulado "A Missão", os guerrilheiros no Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) chegam à selva de Mayomb...