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Acordei 10h, tomei um banho caprichado, vesti um short, uma blusinha e fui ajudar minha mãe com o almoço. Ela é chata, mas é a melhor do mundo, por isso sempre dou moral pra ela mesmo.

Rafaella veio logo depois e ajudou a gente também. Fui no barzinho da esquina comprar umas cracudinhas pra gente, almoçamos juntas e ficamos vendo tv, minha mãe contou umas histórias da adolescência dela e tudo. Acabamos cochilando depois disso.

Acordei umas 15h, sacudi a Rafa e minha mãe já tinha saído, deixou um bilhete dizendo que ia pro forró e não ia dormir em casa. Por isso eu digo pra ela que somos iguaizinhas, e ela ainda quer reclamar de mim. Amo essa velha.

Começamos a nos arrumar, porque hoje é dia de quê? De pagode na quadra, bebê. Tomei meu banho, fiz minha make, e me arrumei linda, adoro causar aqui nesse lugar, raras são as pessoas que gostam de mim. Liguei pro Luan, minha mona preferia e ele vai esperar a gente lá, pra garantir a mesa.

O que eu ganho não é muito, mas banca minha vaidade e meus rolês. A Rafa trabalha num escritório lá na Barra, também tem seu dinheirinho, não dependemos de homem algum nesse morro. As mona fica tudo emocionada quando a gente brota.

— Anda logo, cara. - já estava na rua esperando ela.

— Tô indo. - veio atrás de mim, ajeitando a saia.

Guiamos pra quadra, pertinho de casa. Encontramos a Luan e fomos pra nossa mesa, pedimos logo dois baldes de cerveja e começamos.

Olhei e vi um aglomerado com os mavambos, tinha até uns bonitinhos, mas eu não dou moral não. Essas meninas aqui são emocionadas demais e eu não tenho é tempo pra elas.

— Que que tá acontecendo ali? - falou do caras.

— Lembram do Kid? - Luan perguntou e nós fizemos que não com a cabeça. - Ah fala sério, bofe era sucesso nesse morro. Rogério o nome dele.

— Ah, sei qual é, irmão do Mister M? — Rafa perguntou.

— Esse mesmo. Ele voltou, boatos que tá melhor do que antes.

— Tava preso? — perguntei curiosíssima pela história do bofe.

— Parece que tava fora, se escondendo, dando um tempo daqui.

— Ah tá. Tem disso? - ri debochada e continuei a beber.

O pagode tava lindo, coisa maravilhosa, sambei horrores e as mona tudo me olhando. Dá alguma coisa? Duvido que dá.

Tava na minha vez de comprar um balde, fui até o bar, comprei, enchi meu copo, peguei o balde e na saída um cara me deu uma ombrada.

— Desculpa, morena. - me olhou e sorriu.

— Suave, se derrubasse eu ia cobrar outra. - falei brincando, rindo e voltei pra mesa.

Começou a tocar uma sequência romântica, só música antiga. Comecei a dançar agarradinha com a Rafa, até sentir uma mão no meu braço, me cutucando.

— Posso? - fez sinal como se chamasse pra dançar. Era o cara do bar.

Fiz que sim com a cabeça, me soltei da Rafa e comecei a dançar com ele. Né que ele sabia dançar direitinho, gente?

— Dança muito. - sussurrou no meu ouvido.

— Danço mesmo. - sorri e ele negou com a cabeça. Ficamos conversando até a sequência acabar.

— Teu nome?

— Manuela. E o teu?

— Rogério. Kid, o vulgo, né? - riu.

— Kid de quê? De criança? — perguntei inocente.

— Não, po. Ai fica o mistério. — me respondeu sem graça e como eu não entendi, fingi demência.

Ficamos conversando e ele ficou na mesa com a gente, pagou um balde contra a minha vontade e logo uns outros mavambos chegaram perto também. Rafaella já sabem, né? Ficou toda ouriçada, porque ela não pode ver uma cintura ignorante que chora e eu nem preciso dizer por onde.

Depois do pagode, rola o funk de lei, não gosto de dançar as que chamam o nome deles, porque isso é pra fiel e amante, rola porrradeiro e tudo, eu só assisto.

— Tu sempre morou aqui? - encheu meu copo.

— Aham, mas era raro sair de casa, era da escola pra casa, de casa pra escola. Meu pai era impossível.

— Tu é filha do falecido Domingos?

— Infelizmente. - tomei um gole.

— Era amigão do meu pai, po.

— Ah tá, não conheci ninguém. Não podia. - revirei os olhos. Eu hein, papo chato, odeio falar sobre o meu pai. Batia na minha mãe, em mim, fazia a gente ficar só em casa, era um inferno de verdade, tá louco.

Já tava um pouco tarde, a quadra foi ficando vazia e eu tava doida.

— Vamo de rolê?

— Vamos, ué. — respondi no automático, não tava fazendo nada, não tinha que acordar cedo amanhã.

Avisei aos meus amigos, dei um beijinho neles e guiei atrás do Kid.

DONA DE MIM 💋 Onde histórias criam vida. Descubra agora