136

1.6K 119 1
                                    

Enquanto as chamas dançavam dentro do tambor, eu observava a cena com sangue dos olhos tal qual uma cena de novela das 9. O fogo subindo, várias labaredas e eu olhando pra lá, fixamente. Os olhos cheios d'agua, as pernas tremendo, o coração acelerado, mãos suando e eu firme.

- Tá maluca, cara? – o Rogério apareceu. – Tu tá maluca, Manuela? – segurou firme nos meus braços.

- Tira a mão de mim. – pedi séria e com o tom de voz baixo.

- Todas as minhas roupas estão aí? – ele ainda me segurava e eu respondi com a cabeça que sim. – Minhas blusas do Fluminense?

- Claro. – respondi simples. – Todas as suas roupas, cuecas, quadros, joias... – respirei fundo. – Tudo que um dia foi seu, tudo que você deixou na minha casa.

- Tá maluca. – me sacodiu. – Você tá maluca... Você não tinha o direito, meu irmão.

- Quem não tinha o direito, era você. Quem tá botando fogo em tudo, é você. Quem pôs tudo a perder... Foi você. Agora me solta! – falei o final de forma mais firme. E ele me soltou, sem esboçar nenhuma reação, sem dizer ou fazer nada.

Eu sabia que ele não esperava essa atitude de mim, só não imaginei que ele fosse ficar tão sem reação diante da situação. Também sabia que ele não ia me bater, nem tentar algo contra mim, mas confesso que tive medo. Muito medo.

Depois que ele me soltou, peguei as chaves da strada no bolso do short e joguei na direção dele.

- Toma a chave do teu carro. – virei as costas e saí em direção ao beco que dá na minha casa.

Andei tranquila, sem perder a pose, cara fechada e sem olhar pro lado. Não dei ideia pros fofoqueiros de plantão. Eu estava me sentindo uma verdadeira vilã, mesmo sabendo que quando chegasse em casa, ia chorar como uma criança e ainda teria que enfrentar estrada pra voltar à Coroa.

Cheguei em casa e fui direto pro banho. Perdi a noção do tempo embaixo do chuveiro, e mais uma vez, chorei até não saber se o que estava descendo pelo meu rosto eram lágrimas ou só a agua do chuveiro mesmo.

Depois de um tempo, saí do banho e vesti uma roupa qualquer. Fui até a cozinha, preparei qualquer coisa pra comer e voltei pra sentar na sala. Liguei a TV e acabei me distraindo com um filme que passava. Meu corpo relaxou e meus pensamentos já não estavam mais presos à situação do Rogério, eu finalmente estava relaxada, com a sensação de que tinha acabado de tirar um peso das minhas costas.

Algum tempo depois, ouvi passos na entrada. Em seguida, alguém tentou abrir a porta. Fiz silêncio e fiquei observando até onde iriam, o que iriam fazer, enfim... Medo eu não tinha, afinal, naquele momento, tudo o que eu tinha, estava completamente seguro e longe daqui.

DONA DE MIM 💋 Onde histórias criam vida. Descubra agora