MANUELA
Eu podia sentir o gosto do sangue na minha boca, podia sentir a facada no peito, nas costas, enfim, todo o meu corpo doía e eu não conseguia parar de tremer.
Sei que preciso e vou ser forte pelos meus filhos, mas hoje, eu necessito do colo da minha mãe.
Assim que o Rogério saiu, peguei meu celular e liguei pra minha mãe. Não disse muitas palavras, aliás, nem que precisasse eu conseguiria, mas ela entendeu o recado e veio de mala e cuia passar a noite comigo.
Por mais que eu quisesse ficar em posição fetal e chorar durante toda a noite, eu não tinha essa opção. Eu tenho filhos pequenos, eles dependem de mim e eu preciso fazer por eles.
Enquanto minha mãe os distraia, fiz um estrogonofe de frango e eles vieram pra jantar. Assim que terminaram, minha mãe foi ajudá-los a guardar os brinquedos e terminar com a rotina noturna deles. Eu não tinha mais forças.
Eu não jantei, só fui pro meu quarto depois de lavar a louça, tomei um banho demorado, vesti qualquer pijama e deitei.
Por muito tempo, eu rolei na cama. Botei em todos os filmes de comédia possíveis, mas nenhum deles me mantinha distraída. Quando dava por mim, estava chorando. Estava lembrando das palavras daquela maldita.
"Adorei conhecer seus filhos. Sua família podia ser comigo." Assim dizia uma das mensagens dela, no celular dele.
Tenho certeza que ele apagava as antigas e também tenho certeza que no dia em que peguei aquela merda pela primeira vez, a notificação do número não salvo, era ela.
Dentro de mim, existia uma voz que pedia por vingança, que implorava por saber mais. Porém, também existe uma voz que pede para que eu não me machuque mais. E aí, o que fazer?!
Mil vezes as frases ecoavam na minha cabeça, eu imaginava como eles poderiam estar juntos naquele momento, enquanto eu estava chorando.
— Você pode me explicar o que aconteceu agora? — minha mãe entrou no meu quarto. — As crianças dormiram, mas elas sentem, tá? Principalmente o Nathan.
— Eu peguei o celular, mãe... — foi o que eu consegui dizer.
Minha mãe respeitou o meu choro e não insistiu, se aproximou de mim, e eu deitei em seu colo. Era disso que eu precisava: cafuné de mãe.
Não tocamos mais em nenhum assunto, fiquei em seu colo recebendo o cafuné até dormir. Sabe quando você toma um calmamente e só acorda no dia seguinte? Foi assim. Meu corpo desligou por completo.
Quando acordei, percebi que minha mãe já tinha saído com as crianças. Fui até a cozinha ver se conseguia comer alguma coisa, até porque, nem me lembrava da última vez que tinha comido alguma coisa, então, me obriguei a comer um misto-quente e tomar um suco de laranja. Eu não posso me deixar levar.
Em todas as minhas brigas com o Rogério, em todas as vezes que eu pensei que pudéssemos nos separar de verdade eu nunca cogitei a possibilidade de uma traição, sabe? Depois de tudo o que passamos, de todos os perrengues, depois de toda a insistência dele em fazer parte da minha vida, eu não entendi o porquê.
Minha mãe sempre fala que existem coisas na vida que não valem o esforço pra entender, e eu vou fazer disso um mantra. Não vai ser fácil e eu sei, tenho plena certeza de que ainda cairão muitas lágrimas dos meus olhos, mas também sei que nenhuma delas será na frente dele e muito menos dela.
Depois de comer, lavei o que havia sujo e fui pro meu quarto. Comecei a tirar as roupas dele do armário e botar em sacos pretos de lixo...
— Vai fazer o quê com isso? — minha mãe chegou. E eu dei um pulo ao ouvi-la.
— Que susto, mãe. — dei uma pausa. — Ainda não sei...
— Ele estava no portão da creche.
— Hm. — dei de ombros.
— Pediu desculpas pras crianças, ficou um tempão abraçado neles.
— E a senhora fez o que?
— Eu? — olhei pra ela, como quem diz "claro, né mãe?!" e ela completou. — Eu só disse que estava na hora deles entrarem.
— Pois bem, é isso.
Ficamos conversando mais um pouco sobre o que rolou, visto que eu já estava mais calma e conseguia formar frases sem chorar. Enquanto falávamos, eu não parava de pensar nas possibilidades daqui pra frente, até que tive uma ideia brilhante.
— Mãe, você se importa de ir com as crianças pra Coroa hoje?
— Hoje, Manuela? Assim, do nada?
— Do nada não, mãe. Já tínhamos combinado, né? — ela concordou com a cabeça. — Então, vocês vão pra lá, eu levo a Angélica com as crianças e volto, depois eu busco vocês.
— O que você vai arrumar, Manuela? — cruzou os braços.
— Nada. — respirei fundo. — Bom, eu acho que nada. Mas se as coisas saírem do controle, todo o meu dinheiro está na sua conta.
— Para de falar merda. — bateu na madeira. — Tá repreendido, garota.
— Eu só preciso terminar tudo com ele, sem que as crianças estejam perto, sem que ela possa usá-las pra me amolecer. Confia em mim, eu não vou fazer besteira. — olhei séria pra ela, que pareceu acreditar.
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DONA DE MIM 💋
Teen Fiction(2017/2022) ⚠️ PLÁGIO É CRIME! ⚠️ Minha vida nunca foi exemplo, e nem quero que seja. Saio a hora que quero e volto a hora que acho que devo. Nunca dei satisfações pra ninguém além da minha mãe, e nem pretendo dar. Você acha que tá ruim? Eu só lame...