MANUELA
Fiquei o final de semana todo em casa, Rogério não voltou e eu respeitei. Soube por fontes, vulgo Rafaela, que ele tava no baile sábado, mas muito na dele e bebendo só água.
Levantei cedo, fiz minhas higienes matinais, busquei as crianças e guiei pro serviço. Fiquei a manhã toda na loja resolvendo as coisas, até que um pouquinho antes da hora do almoço, dona Ana apareceu.
— Olá, meninas. — a dona Ana disse, enquanto entrava na. — Manuela, bom dia, tá ocupada aí? Quero um particular com você. — gelei na hora, né? Eu só penso merda quando ela vem com esse mistério.
— Tô tranquila, dona Ana. Pode falar. — sorri por fora, mas por dentro era só o desespero.
— Te promovi a gerente aqui, e a loja do dobrou o lucro. Agora com você saindo nas revistas, estampada nos outdoors e super famosa nas redes sociais, eu quero te propor uma sociedade.
— Oi? Não entendi.
— Quero que você seja minha sócia aqui e na loja de Madureira. O lucro que ganharmos será de 40% pra você, 60 pra mim, e ainda posso pagar por fora pra você modelar nas nossas coleções. O que você me diz?
— Dona Ana... — respirei fundo.
— Sem o dona, somos parceiras. — sorriu.
— Eu aceito. — falei e me segurei na prateleira, fiquei um pouco tonta.
— Aqui está o contrato, você pode levar pra um advogado de sua confiança pra analisar, sem problemas. — peguei o contrato em sua mão, e senti tudo rodar.
Acordei no hospital, com soro e tudo. Sem entender nada, me mexi naquela cama horrível, respirei fundo e tentei tirar o soro, mas fui contida.
— Foi a emoção do contrato? — brincou. — A médica já vem aqui com os exames, não liguei pra ninguém, porque não sabia se podia.
— Ai don..., Ana. Obrigada por não ter ligado, não quero assustar ninguém lá em casa.
— Por nada. Conheço o seu jeitinho. — riu. — Caso você precise, eu te levo.
— Não devo precisar não, mas te agradeço muito. Por tudo. — a médica entrou no quarto.
— Olá, Manuela. Não sei se você sabe, mas sou a Dra Letícia. Como está? Se sente melhor?
— Aham. Acho que sim. — ri descontraída, enquanto ela conferia os aparelhos perto de mim.
— Pelo que observei nos seus exames, você ficou sem comer, estou errada? — balancei a cabeça negativamente. — Então, não sei quais foram os motivos que te levaram a isso, mas a senhora não pode mais fazer algo do gênero, pois agora existe outra vida que depende da sua.
— Mas, oi? Vida que depende da minha? Como assim? Eu tô grávida?
— Você está grávida, de aproximadamente... — olhou na prancheta. — 10 semanas. Agora, vamos fazer um exame pra ver como esse bebezinho está, ok?
— Ok. — sorri, um pouco atordoada.
Fui levada na maca mesmo pra uma outra sala, onde fizemos uma ultrassonografia. Escutei pela primeira vez seus batimentos cardíacos e tentava assimilar que estava grávida. Eu não sabia como ia falar isso pro Rogério, no meio dessa confusão toda que está a nossa vida, mas ok.
Depois de terminar tudo, me levaram até o quarto, a Ana estava lá, foi incansável em me ajudar, peguei meu telefone, e mandei mensagem pra minha mãe, avisando que demoraria pra voltar. Esperei mais um tempo e a médica voltou.
— Olha eu de novo. — sorrimos. — Está tudo bem?
— Sim, me sinto mais disposta.
— Que bom, mas não tenho notícias tão boas assim. — gelei. — Devido a essa dieta dos últimos dias, e mais alguma ingestão de álcool, o feto está debilitado, pode ser que você o perca ou que, se ele crescer, que venha ter algum problema na formação, ou cognitivo. Mas também, há alguma chance de melhora, mesmo que mínimas. — deixei a lágrima cair. — Se você quiser, eu posso te acompanhar nessa gestação, visando o melhor pra vocês dois.
— Tudo bem, doutora. Quero que a senhora me acompanhe. Vou me dedicar pra esse quadro ser revertido.
— Aqui está o meu contato, vamos marcar um horário essa semana mesmo, ok? — me entregou alguns papéis. — A nutricionista do hospital te passou uma dieta e essas são vitaminas que você precisa começar a tomar imediatamente.
— Ok! Obrigada. — sorri, secando as lágrimas. Vesti minha roupa, peguei as coisas e saí do quarto junto com a médica.
— Por nada, viu? Vai dar tudo certo. Te espero essa semana. — nos despedimos no corredor.
Ana e eu voltamos pra loja, peguei o contrato, minhas coisas e ela me liberou.
— Não precisa ter pressa e se cuide, ok? — me abraçou.
— Pode deixar. — abracei de volta e logo saí da loja. Entrei no carro e guiei pro morro.
Passei pela praça e o Rogério estava em um bar com os caras e parecia muito feliz, carro com a mala aberta, som lá nas alturas, ele me viu, tenho certeza, mas como fui a última a mandar mensagem, não vou mandar mais.
Fui pra casa, entrei no banheiro e chorei. Chorei muito. Um misto de todos os sentimentos ruins que possam existir no mundo.
Preparei algo da dieta pra comer, tomei os remédios, comi, fiz um suco de laranja caprichado, bebi e deitei. Rafaela ficou me mandando mensagens, cismou de ir lá pra casa, mas eu não queria ver ninguém, não hoje.
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DONA DE MIM 💋
Teen Fiction(2017/2022) ⚠️ PLÁGIO É CRIME! ⚠️ Minha vida nunca foi exemplo, e nem quero que seja. Saio a hora que quero e volto a hora que acho que devo. Nunca dei satisfações pra ninguém além da minha mãe, e nem pretendo dar. Você acha que tá ruim? Eu só lame...