84

1.8K 137 0
                                        

ROGÉRIO

Tomar essa decisão foi foda pra mim. Difícil saber em quem vai doer mais, mas é bagulho de necessidade. Manuela tem todo direito do mundo de sentir ciúmes, eu também sinto e sinto pra caralho, mas ela tá pegando pesado demais nesses últimos dias, porque uma parada é sentir ciúmes, outra é fazer escândalo na frente de geral por nada.

Não aguento ver minha mulher chorar, mas foi preciso. Não to fazendo isso por outra mulher, nem pra curtir final de semana, tô fazendo por nós mesmo, se depois disso nada mudar, é porque a gente não tem que ficar junto.

— Eu te perdôo, mas mesmo assim quero que tu pense em tudo, po. — soltei sua mão e dei um beijo na testa. — Você é a mulher da minha vida, acredita.

— Você vai voltar pra cá depois do plantão?

— Sei não, depois eu vejo. — levantei, peguei umas paradas e saí. Sequei as lágrimas, chorei mermo, foda-se. Homem chora também, po. Ainda mais quando tem que tomar uma decisão difícil dessa.

Dia correu tranquilo, mas se eu tirei a Manuela da cabeça um minuto? Duvido. Fui almoçar na humilde, colei na pensão de lei e bati aquele preto de feijoada, tranquilão.

— Olha essa aqui, tá no de Madureira.

— Ela tá gata demais, que isso. Nem sabia que ela era modelo. — passei a prestar mais atenção na conversa da mesa do lado.

— Ninguém sabia, né? E certo fez ela, trabalho lindo, ela merece todo o sucesso do mundo, apesar da marra é uma das minas mais de boa desse morro.

Só eu que acho que elas estão falando da minha mulher? Ou parece que tudo é sobre ela, só porque não paro de pensar?

Levantei da mesa, paguei e saí fora. Sentei na praça com os cara pra dar aquela descansada no almoço, geral com o telefone na mão, vendo as paradas.

— Colfoi, Maiquinho. Que que cês tanto vê aí nessa porra?

— Primeira dama, po. Tá famosona. — me estendeu a mão com o celular.

— Ih, pode crer. Minha mulher tira muita onda, né? — olhei a foto e fingi satisfação, mas por dentro tava na pilha.

Falei pra Manuela, mano. Mas eu sabia que esse dia ia chegar, po. Fingi tranquilidade, mas ficava meio puto quando alguém vinha me falar alguma coisa.

— Tá bolado né irmão? — sentou na cadeira na frente da minha mesa.

— Tu acha? — ri de deboche.

— Pô, te entendo, mas é o trabalho da mina.

— To ligado, po. Mas tu ia achar maneiro a Rafaela estampado em outdoor?

—  Ia não, mas é um bagulho que a gente tem que aceitar, irmão. Elas num aceita a vida que nós leva? Então. Pensa nisso... — levantou e eu voltei a fazer as contas.

Fiquei pensando mermo, tá ligado que ela nem reclama da vida que eu levo, fica preocupada como qualquer mulher, pede pra eu me cuidar, cuida, me ajuda pra caralho e nunca deixou a peteca cair. Tem os defeitos dela, mas nessa parte, nunca vacilou.

Peguei o telefone e tinha umas mensagens dela, foi mais forte que eu, mas guardei de volta no bolso, sem responder. Preciso que ela pense mermo nas paradas que ela tá fazendo, além de viajar comigo, viajou com o Jaca que nem sabia da parada. O cara é meu parceiro e melhor amigo dela, po.

DONA DE MIM 💋 Onde histórias criam vida. Descubra agora