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Assim que ouvi o carro sair, comecei a chorar na sala, quietinha, mas chorei muito. Parece que enfiaram uma faca no meu peito, sabe? Não desejo isso pra ninguém.

Fui pra cozinha, fiz algo pra comer e voltei pra sala. Liguei a TV e fiquei procurando alguma coisa pra ver, ouvi um barulho no portão, levantei pra ver e era minha mãe chegando. Agradeci a Deus e sentei no sofá de novo.

— Aquele menino quer falar com você, filha. Esqueci o nome. O filho da Fátima, que era amiga da sua tia. — minha mãe falou comigo baixinho, pra minha sogra não ouvir.

— Hércules?

— Isso mesmo.

— Ah tá, outra hora eu falo. Obrigada, mãe. — continuei a comer. — Como foi lá no forró?

— Você não tá bem, né? — concordei com a cabeça. — Foi bom, nos divertimos muito.

— Que bom. Rafaela já foi embora, Renan veio buscar.

— Você não quis ir?

— Tenho nada pra fazer lá não, mãe. — respirei fundo.

— O que o Rogério arrumou? — se meteu.

— Pergunta pra ele, Jô. Prefiro não falar nada. — segurei o choro e levantei do sofá.

Fui pra cozinha, lavei a louça, voltei pro quarto, tomei um banho e fui na varanda. Ouvi um barulho na calçada e os meninos ainda estavam por ali. Vou ou não vou? Fui, não tô fazendo nada também.

— Apareceu, né? — sorriu ao me ver saindo do portão.

Fui pra perto dos meninos, cumprimentei de novo e o Hércules saiu da cadeira que estava pra eu sentar.

— Obrigada. — sentei.

— Quer? — um dos meninos me ofereceu um copo que parecia ser de whisky.  Ah meus tempos!!

— Quero não, obrigada. — sorri tímida. Gente, quem sou eu sendo tímida? Fala sério. Mudei muito com esse casamento.

— E uma cervejinha, tu bebe? — outro amigo do Hércules falou.

— Gente. Até bebo, mas não to podendo. — ri.

— Ta tomando antibiótico? — voltou com outra cadeira pra ele e sentou do meu lado.

— Não, não. Tô grávida mesmo. — eles me olharam assustados.

— Com todo respeito. Grávida e com esse corpinho aí? Caô.

— São só 3 meses, quase 4.

— Ih, Hércules, rodou. — um deles debochou.

— Cala a boca, Max. — riu coçando a cabeça, pareceu tímido.

— Explica a piada aí, gente.

— Não é nada não, Manu. — bebeu do copo dele. — Esse moleque viaja.

— Vou dar o papo porque não sou baú. Hércules tá falando de você desde o dia que te viu na orla.  — o tal do Max falou, sem cerimônia alguma.

— Tá mermo, tá?! — o outro falou e eles riram.

— Vocês são amigos pra caralho, po. Gosto disso. — Hércules falou e logo ficou vermelho.

— Falando o quê? — botei pilha, não sou boba nem nada.

— Quem vai falar, Cézar? Eu ou tu?

— Falou que você é o primeiro amor da vida dele, disse que tinha mó tempão que não te via e que se o destino juntou vocês agora, depois que ele separou da mulher, é porque tem alguma coisa. — riram debochando do Hércules que a essa altura, já era um pimentão.

— Ué, Hércules. Verdade? — olhei pra ele.

— Vai na desses cara não, po. Tudo fanfarrão. — deu de ombros e foi cortar as carnes.

Fiquei conversando com eles até tarde da noite. Hércules estava bebíssimo quando os meninos foram embora, ainda fiquei um tempinho com ele na varanda.

— Senta aí, vou tomar a saideira, depois te levo em casa. — riu.

— Tá bom. Muito longe, né? — rimos e ele abriu mais uma cerveja.

— Sabe, neguei ali na frente dos moleques, mas te encontrar ali me deixou bolado mesmo. Coração acelerou na hora. — fiquei sem reposta. — Não precisa ficar tímida não, pô. Aquele cara que tava contigo cedo, é o pai do seu filho?

— Filhos. — ri. — É sim.

— São gêmeos? Que legal, po. Meu sonho. — riu. — Vocês não pareciam bem, desculpa ter prestado atenção.

— Tudo bem, a gente não tá bem mesmo, terror nenhum.

— Posso pôr a mão? — olhou pra minha barriga.

— Pode, mas não vai sentir nada, tá? — sorri tímida.

— Tem nada não, só quero saber como é. Fico me imaginando sendo pai. — o olho dele começou a marejar.

— Ei, não chora que eu tô emotiva, hein.

— E eu tô bêbado. — rimos e ele tomou mais um gole da cerveja.

DONA DE MIM 💋 Onde histórias criam vida. Descubra agora