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— Ué Manu, tá fazendo o que aqui? — Herman, um dos meninos que estava na calçada, falou comigo. — Deu merda lá no baile? Pode falar que nós resolve.

Ele era um dos mais velhos ali do movimento, não sei o cargo, mas cresceu aqui na favela comigo, sabe do que rolou no casamento, sabe quem foi meu pai, enfim...

— Quem tá na responsa do plantão hoje? É você?

— Eu mesmo, po. Qual a ideia? — ele me olhava sem entender nada, até porque, eu nunca tinha ido ali. Ele sabia muito bem que esses lugares pra mim, eram impossíveis.

— Quero falar com o Fidel ou com o Gordão, não sei quem tá de frente... — falei simples.

— Mas agora?

— O quanto antes... — cruzei os braços e fiquei olhando pra ele.

Herman pegou o rádio e se afastou de mim. Ficou alguns minutos longe e voltou.

— Bó... — foi em direção a moto. — Vou te levar de volta lá no baile.

Subi na garupa do Herman e voltei pro baile. Na entrada, estavam o Fidel e seus seguranças.

— Fala, Manu. — ele veio na minha direção. — Qual é a ideia? Que urgência é essa?

O Fidel era o sucessor do meu pai na hierarquia e meu padrinho, mesmo que de boca, pois não fui batizada. Ele ficou muito tempo preso, enquanto o Robinho, o Gordão, ficou de frente. Meu pai e ele eram melhores amigos de uma vida, tinham feito muitas coisas pelo comando e eu lembro do dia em que eles foram na minha antiga casa, assim que o Domingos morreu, e disseram que enquanto eles estivessem na frente do comando, eu estaria protegida.

Nunca liguei pra essas coisas, afinal, todo mundo sabe que quanto menos me relacionarem ao meu pai, é melhor pra mim. Porém, chegou o momento de testar o meu poder, só pra mostrar pro Rogério quem manda mais nessa merda. Tudo bem que o pai dele também era do contexto, mas não como o meu pai e o Fidel.

— Desculpa atrapalhar o seu lazer... Mas até onde o Rogério pode mandar na minha vida?

— Que? O Kid? Não pode mandar em nada na sua vida, aliás, aqui ninguém pode. Quem podia morreu. Ele tá aí? — olhou pra trás como se procurasse alguém. — Vocês não estão separados?

— Estamos! E se ele não pode mandar na minha vida, por que o Novin tomou corretivo por minha causa? Se nem ficar com ele, eu fiquei. E mesmo que tivesse ficado, né...

— Tomou? Isso não chegou pra mim não, Manuzinha. Bó que teu padrinho vai resolver. — ele passou o braço por cima do meu ombro e, nós fomos andando na direção do Robinho que tinha acabado de chegar por ali.

— Fala, dona Manuela. — ele me cumprimentou e eu só balancei a cabeça.

— Quem deu o aval pro Novin tomar corretivo? — Fidel falou sério.

— Eu, po.

— Mas em qual condição? Por que a visão não foi passada pra mim?

— Não precisava, né Fidel. Bagulho que o Kid pede, nós executa.

— Só que quem tá envolvida é a Manu. E o que nos jura pra um irmão, nós não volta atrás. Tu lembra do juramento pro Domingos?

— Mas desejar a mulher do irmão de comando também tá no juramento, Fidel. Lei básica, geral sabe.

— Quando a mulher ainda é do irmão, né Robin...

— Foi uma vez, vai ser sempre. — ele falou simples.

— ISSO NÃO EXISTE. — falei alto e eles me olharam assustados. — Então, quer dizer que eu não posso mais ter ninguém na minha vida? Que depois de tudo o que o Rogério fez comigo eu ainda tenho que me privar de viver? Eu não posso nem conversar? As pessoas vão tomar prejuízo por vaidade do Rogério?

— Se acalma aí, Manuela. — o Robinho falou puto.

— Fala direito com a garota. Enquanto eu estiver aqui, eu vou honrar quem me ensinou tudo que sei. E vou entrar em contradição com qualquer um de vocês, não tá bom? Chama os superiores pra nós trocar ideia então. Já é? — Fidel falou simples.

— E eu não to nem aí pra cara de cu de vocês. Vou viver do jeito que eu quiser, sempre vivi assim. Rogério não é meu dono. NUNCA FOI! — falei grandona.

Eu meti mó marra na frente deles, até porque, se o Fidel tá na minha proteção. Eu tenho moral pra cacete! Mas por dentro, tava só a tremedeira, morrendo de medo de ficar careca, tomar uma madeirada na praça. Tá maluco, eu preciso do meu corpo e rosto intactos pra fazer dinheiro.

META
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