67

1.8K 150 0
                                    

— O quê? Por quê? Vou dormir aonde?

— Vai dormir lá na casa da Valquíria, ué. Não tá comendo o marido dela? Pede um cantinho. — andei até o colchão e comecei a tirar o lençol da cama. Ela deu um pulo quando me aproximei, chega foi engraçado.

Minha mãe ficou boquiaberta com o que eu disse, ela sempre falou pra gente que poderíamos fazer tudo, menos pegar homem casado, porque ela sabe como é ruim. E a Evelin fez...

Tirei o colchão da cama, e saí com ele pela casa.

— Tio Jordão. — chamei mais alto. — O senhor pode me ajudar a botar esse colchão na caçamba do meu carro? — ele assentiu e fomos. Amarramos direitinho e voltei pra casa da minha mãe.

— Posso pelo menos perguntar pra quem é isso? — fiz um resumo da história e ela me abraçou. — Filha, você é um anjo mesmo. Linda a sua atitude. Linda mesmo. Quer levar um pouco de sopa de ervilha pra eles?

— Quero sim, mãe. — abracei de volta.

Minha mãe até me deu umas coisas que ela não usava mais, e eu ajeitei tudo lá no carro. Peguei as marmitas que ela fez, fui em casa e o Rogério não estava, peguei uns cobertores que a gente não usava, uns travesseiros, todos cheirosos, e conservados porque sou chatíssima. Até ventilador botei na caçamba. Eu parecia a dona da muamba, risos.

Liguei pro Rogério buscar a geladeira lá na minha mãe. Fui com o carro pra quitinete e buzinei, outra cena impagável. Todos eles me abraçando, me beijando, e eu retribuindo. Fiz de coração, não sei o motivo, mas parece que Deus tocou no meu coração mesmo.

Tiramos tudo do carro, e arrumamos na casa. Ainda bem que tinha um armário de cozinha do último locador, deu tudo certinho. Rogério e Renan trouxeram a geladeira, e ainda conseguiram um fogão lá na Rafa.

— Prontinho. Amanhã o menino vem trazer o gás pra vocês. E eu vou passar cedinho aqui pra levá-los pra matricular na escola, tá? — dei um beijo em cada uma das crianças e um abraço forte na Angélica, que chorou bastante.

— Eu nunca vou conseguir te pagar tudo isso, mas muito obrigada, vou dar um jeito de recompensar você. Salvou a minha vida.

— Não precisa me agradecer, nem recompensar, só de vê-los bem, já é a minha recompensa. — me despedi e guiei pra casa.

Tomei um banho daqueles, vesti uma roupa e liguei pro Rogério, combinei de ir comer pela favela mesmo, muito cansada pra fazer janta, ele assentiu e eu desci andando, necessidade nenhuma ficar gastando gasolina nesse lugar.

Como sempre, a praça lotada, passei pela Valquíria e ela me chamou. Fui rapidinho, né? Adoro.

— Menina, quanto tempo não te vejo. — cumprimentamos de dois beijinhos.

— Muito tempo mesmo, né? Como você tá?

— Bem puta. — riu. — Aqui, soube que você magoou aquela Evelin na porrada, né?

— É o que dizem, mas não fiz nada não. Só me defendi.

— Mas parece que não adiantou, tá comendo meu marido, menina. Acredita?

— Do jeito que ela é, acredito mesmo. — fiz a maluca.

— Vou pegar ela hoje, não tem jeito. Depois te conto. Ou melhor, tu fica sabendo, né? — rimos. — Vou me inspirar em você.

— Ih mana, conta mesmo. Vou ali que meu bofe tá me esperando. — saí e fui pra pensão encontrar com o Rogério.

Na moral, a comida daqui é que nem comida de vó, tá ligado? Gostoso pra caralho. Sempre que venho, engordo 50kg, papo de até abrir o botão da calça. Tomara que tenha feijoada, tô na intenção.

Entrei, cumprimentei o pessoal que trabalha lá, e vi o Rogério sentadinho.

— Ah! Meu Deus. Que neném lindo. — dei um beijo no pescoço dele, e sentei ao lado dele.

— Tu é muito maravilhosa mesmo, amor. Na moral. Não to acreditando no que tu fez hoje, se eu já te admirava antes, imagina agora. — me deu um selinho.

Adivinha? Tem feijoada, arrumei logo um prato caprichado. Gosto muito. Pedimos uma coca de vidro, melhor coisa. E uma caipirinha, né? Não pode faltar. Comemos muito, papo reto, eu fiquei até tonta quando levantei.

Pagamos, Rogério ficou trocando uma ideia com um doido lá e eu fiquei em pé na calçada, olhando o movimento. Saiu, botou a mão na minha cintura e fomos andando.

— Amor, vamos tomar um sorvete aqui na praça?

— Cabe? — deu risada.

— Sempre cabe, né. Você sabe. — fomos na barraquinha, pedi uma casquinha de baunilha e ele uma mista. Sentamos em um banquinho e ficamos olhando o movimento.

Muita mãe levando as crianças pra passear, a galera chegando do serviço, o pessoal que fica com o cu o dia inteiro na praça e algo me chamou a atenção. Fiquei olhando uma menina vir andando com umas bolsas do beco da minha mãe, semicerrei os olhos e vi a Evelin.

Uns garotos chegaram pra conversar com o Rogério e eu continuei olhando fixo. Parece que saiu da casa da minha mãe, né? Cheia de tralha. Ela vinha andando tranquilamente, ouvi um grito e pronto: Valquíria.

DONA DE MIM 💋 Onde histórias criam vida. Descubra agora