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Acordei pensando que estava passando por um terremoto de tanto que fui sacudida.

— Oi, bom dia. Calma!

— Mãe, mãe. Vamo buscar o Gabriel, tem jogo. Acorda. — Nathan, com 4 anos, me acordando como se tivesse 10.

— Calma, filha. Deixa a mãe respirar.

Eles estavam eufóricos, até a Fernanda tava animada pra esse tal campeonato. Então, como não tinha muito jeito, levantei e fui ajudá-los com as roupas. Aqui em casa, eu procuro dar autonomia pra eles, sabe? Procuro fazer com que eles façam tudo sozinhos, óbvio que eu vou auxiliando.

Depois que eles escolheram as roupas, descemos pra tomar o café e na mesa, esse era o único assunto possível. Quando terminaram, subiram pro banho e depois de arrumados, foi a minha vez.

Depois que filho pari, nunca mais fiquei sozinha no banheiro, né? Pois bem, meu banho foi assistido pique Big Brother. Nathan sentado na tampa do vaso, Fernanda na banheira e os dois falando pelos cotovelos, meu banheiro parecia uma feira.

Como o sol estava dando porrada e ainda eram 8h da manhã, escolhi uma roupa bem fresquinha pra mim. Um cropped e branco, um short jeans normal e meus chinelos nuvem que andam sozinhos pela favela.

Enquanto eu procurava as chaves do carros, meu cartão e meus óculos escuros, as crianças me gritavam lá de fora sem parar.

Saí de casa, busquei a Angélica com as crianças e subimos pro campo, que era relativamente longe de onde morávamos, quase nas últimas duas da favela, antes da pedreira e do matadouro. Um lugar bem sinistro, eu diria.

Cheguei e achei uma vaga pro carro logo de cara. Estacionei toda bonitinha e as crianças já foram correndo pra onde o Kid estava. Rafaela e Renan também estavam lá, então, me aproximei pra não fazer a mal educada.

— Ué, Manuela no campo? — escutei o Rogério perguntar pro Renan.

Cumprimentei todos com dois beijinhos no rosto, sim, todos, até o Rogério. Exceto a Rafa, que abracei e xinguei, já que ela quer se reaproximar, mas demora 5 dias pra responder uma mensagem.

— Vão ficar aí com o pai de vocês? — perguntei.

— Não, mãe. — Nathan passou na minha frente. — Tchau, pai. Vamo, Arthur.

— E tu, Rafaela? Desgruda do bofe um pouquinho. Vamo lá comigo. — falei rindo e me virei pro Renan. — Ela pode? Ou tá proibida de falar comigo?

— Ih, tá de óculos, comadre? Pode ir lá, po. — falou tranquilo.

Entrei na parte das arquibancadas com as meninas, e ficamos bem na sombra e perto do bar, graças a Deus. Olhei no relógio e eram 9h40...

— Já pode ou tá cedo? — perguntei sincera.

— Que isso, gente. Nem 10h... — Angel falou.

— Ih, que fraca. — falei brincando.

As crianças que não sossegavam sentadas, ficaram na nossa frente, num corredor que tem e dá acesso aos outros locais, enfim...

Comecei a conversar com as meninas, enquanto o jogo não começava.

— Kid e Renan vão jogar, né? — Angel perguntou pra Rafa.

— Vão sim.

— Vão? — perguntei assustada.

— Ué, menina. Estão até de uniforme. — Rafaela falou simples.

— Gente, eu sou um fracasso com esse negócio de futebol mesmo. Não vi nada...

— Aliás, todo mundo assustado com a sua presença aqui, né? Você nunca veio aqui. — Rafaela quem disse.

— Nunca é muito tempo. Vinha quando tinha resenha, ué.

— O que o amor não faz, né? — Angel brincou e nós rimos.

Falando em amor, o bofe veio todo lindinho de uniforme e me deu até frio na barriga. Mochilinha nas costas, falando com o pessoal que vinha junto com ele e quando me viu, abriu aquele sorrisão como de costume.

— Coé, coé. Bom dia! — falou com as meninas e apoio aos mãos no meu joelho, me cumprimentando com um selinho. — Tu veio mermo, né Manuela?

— Tem coisas que só você consegue né?! — falei rindo, ele me deu mais um selinho e saiu em direção as crianças, que obviamente, fizeram festa com a chegada dele.

— Cara, chega a ser estranho ver a Manuela assim. — Rafaela falou. — São 25 anos de amizade e eu nunca vi essa mona tão apaixonada. Sério...

— Tudo no tempo certo! — Angel falou. — Eu acho muito fofo que ele só a chama de Manuela e são vários tons diferentes, dá pra gente saber cada coisa.

— Ih gente, sai do meu colo, hein. — falei rindo. — Abri meu coração pra creche. Ai ai...

Henrique veio, deixou o celular e a chave da moto comigo, pegou a mochila e foi pro vestiário. Não demorou muito tempo, escutei o apito e minutos depois, o jogo se iniciou.

O campo tava relativamente cheio, as arquibancadas são bem grandes, quase dão a volta em todo o perímetro, mas tem gente que perde a noção das coisas e quer sentar pertinho de mim, sabe? Acho que quer sentir meu cheiro.

Jaqueline chegou com as amigas e com uns amigos do Renan e do Rogério que eu já conhecia de longa data. Uns me cumprimentaram normal, outros abaixaram a cabeça, enfim... Não fiquei prestando muita atenção, porque não é do meu feitio dar moral a esse tipo de gente.

Rafa e Angel tentavam me explicar ao máximo o que estava acontecendo, mas eu continuava perguntando as mesmas coisas, até que: Novinho fez um gol.

Sim, ele apontou pra mim, fez coração e o caramba. Gritei, mandei beijo, falei que era lindo, enfim... Pelo menos quando é gol, eu entendo.

Nesse mesmo jogo, Henrique fez mais 2 gols, um deles, foi dedicado às crianças e teve mais um pra mim. O time deles ganhou de 5 a 1.

Assim que acabou o primeiro jogo, ele é o Esqueleto vieram ficar com a gente. Esqueleto sentou na frente da Angel, tentando disfarçar o que tá rolando entre eles e o Novo sentou entre as minhas pernas. Logo depois, as crianças vieram paparicá-lo.

Segundos depois, o Rogério chamou as crianças, elas desceram e ficaram um tempo com ele, até que ele foi pro lado do vestiário, acho que vai jogar agora.

— Vai beber não, amor? — perguntei, oferecendo a cerveja que a Angel tinha comprado.

— Só se meu time for campeão, po. — falou tranquilo. — Camisa 10 não pode jogar bêbado.

— Tá certo!

Todo mundo em volta comentando o jogo e eu só assistindo. Não vai ter jeito, vou precisar de um intensivão pra entender tudo.

Estava concentrada vendo o jogo e me esforçando pra acompanhar as explicações, quando o Rogério fez um gol. Minutos de tensão!

META
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