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Passado um tempo, entrei pra ir ao banheiro e pedir mais um litrão. Na volta, pude ver melhor quem estava com ele e era ela, a tal da Jaqueline.

Não sei dizer o que senti, e confesso que não estava esperando sentir como senti. A sensação foi de estar sendo rasgada mais uma vez. Eu respirei fundo e voltei pra mesa tentando disfarçar.

— Aconteceu alguma coisa? — Angélica percebeu na hora.

— A mona que tá com o Rogério... — minha voz falhou e eu quase chorei.

— É a da traição? — ela completou e eu só consegui concordar com a cabeça. — Quer ir embora?

— Não, não. Vou respirar, me recompor e encarar isso mais uma vez, como lá atrás. — respirei fundo. — E outra, acabei de pegar mais um litrão.

Angélica foi perfeita comigo, me distraiu o máximo que pode e pra melhorar ainda mais a nossa noite, o Jaca chegou.

— Pra boa ninguém chama, né? Tá maneiro. — cumprimentou nós duas.

— Foi do nada. — falei simples. — Mas tá de bobeira? Fica aí, po.

— Saindo da missão agora. — tirou o boné. — Vou pegar mais uma pra nós, mas não vou marcar muito não.

Ele foi, demorou um pouquinho e voltou com mais uma porção de torresmo e um litrão.

— Teu marido tá ali... — falou debochado, enquanto nos servia.

— Marido de todas. — completei. — Não quero falar sobre.

— Foi mal, foi mal. Mas tem um assunto que tu vai querer falar, e ele tá vindo ali de moto.

Olhei sem disfarçar e era o Novinho. No dia certo, na hora certa. Não que eu quisesse estar com ele ali só pra provocar o Rogério, mas acho que não existe nada melhor do que sair por cima de uma situação como essa. E só ele aparecendo pra isso acontecer...

Assim que nossos olhares se cruzaram, nossos sorrisos abriram. Ele parou a moto perto da moto do Jaca e veio na nossa direção. Cumprimentou a Angélica, o Jaca e parou na minha frente.

— Tá sem telefone tu? — esticou a mão pra mim e eu segurei. Ele me puxou e eu fiquei em pé na sua frente, encarando aqueles olhos verdes e aquela boca que ainda não experimentei, mas morro de vontade e nós abraçamos.

— Deixei em casa, to com as crianças aqui. Por quê? — falei depois de nos soltarmos.

— Tava afim de te ver. Mas já resolvi... — sorriu. — Caô d'eu ficar aqui com vocês?

— Nenhum. — Jaca e Angel responderam em coro, antes mesmo que eu pudesse abrir minha boca, e eu só ri.

— Acho que isso é mais do que um convite pra você ficar com a gente. — voltei pro meu lugar e ele foi buscar uma cadeira.

Nesse meio tempo, as crianças chegaram pra comer e beber, então, eu também entrei, pra pedir uma porção de pastéis e uma de batata com bacon e queijo.

Pedi tranquila, e na hora que estava voltando pra calçada, escutei uma conversa próxima ao banheiro, reconheci as vozes na hora, e pareciam bem exaltadas.

— Tu não aprende mermo, né? Quer entrar no rock de novo, só pode.

— Respeito a hierarquia, mas não tenho medo de você... — ele ia dizer mais alguma coisa, mas eu me meti.

— Você acha que é bonito ser feio, né Rogério? No mínimo... Você não tá com a sua namorada aí? Não tá vivendo a sua vida? PARA DE ENCHER O SACO DAS PESSOAS AO MEU REDOR. — passei a gritar e o Henrique encostou no meu braço, talvez pra me chamar pra realidade.

— SAI DAQUI, MANUELA. — o Rogério se exaltou ainda mais. — EU VOU PERDER A CONDUTA CONTIGO. É PAPO DE HOMEM, PORRA.

— ENTÃO NÃO ERA PRA VOCÊ ESTAR FALANDO, VOCÊ NÃO É. — falei sem pensar, mas botei pra fora o que meu coração pediu.

Os olhos dele viraram brasa e ele veio pra cima de mim. Imediatamente, o Henrique pulou na frente e ele se afastou.

— Isso mesmo, enfia o rabo entre as pernas e sai daqui. E as crianças não vão pra sua casa, só quando eu quiser.

Ele nem olhou pra trás. Henrique ainda ficou tentando me acalmar por uns minutos, e quando saímos do corredor do banheiro, todo mundo nos olhava, o burburinho tava formado. E eu, meti a bronca de brabona mais uma vez, Manuela de 6 anos atrás ressurgiu.

Voltamos pra mesa e meus filhos estavam do outro lado da rua com o pai, que não parava de olhar pra nós e parecia que a qualquer momento ia voar em mim.

As coisas que eu havia pedido chegaram e eu fui lá perto chamá-los, mesmo com todo mundo dizendo que não era pra ir.

— Bonitinhos, vamos comer. A batata chegou! — Nathan veio na mesma hora, nem se despediu do pai.

— Pai, quer batata? — Nanda perguntou.

— Ele não quer não, já comeu. — respondi no impulso e ele me olhou.

— Papai não quer não, filha. Mas amanhã papai come um lanche com vocês.

— Amanhã não, só semana que vem. — sorri amarelo e ele, se pudesse, pegava a arma pra me dar um tirão ali, na frente de todo mundo. Fernanda deu um beijo nele e veio comigo pra mesa.

META
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