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ALGUNS DIAS DEPOIS

Voltei a trabalhar, contra a vontade do Rogério, mas voltei. Odeio homem me bancando, me mandando e ele sabe disso. Discutimos feio, tá? Ele queria me dar um dote pra abrir minha loja, mas não quero, se eu for abrir, quero fazer com o meu dinheiro.

Movimento hoje foi babado, adoro. Trabalhei feito uma égua, as pernas doendo pra caralho, mas tá tranquilo, tem problema não. Fechei a loja, fui na moça que vende uns salgados maravilhoso aqui do lado, comprei alguns porque o Rogério ama e fui andando pro estacionamento, paguei meu amiguinho de lá, entrei no carro e saí. Andar de carro é bom? É bom, mas e esse trânsito? Puta merda!

Botei uma musiquinha e fiquei curtindo enquanto o trânsito não andava. Olhei pro lado e vi três crianças se revezando, pedindo dinheiro nos carros. Realidade nua e crua. Minha vontade era de enfiar os três no carro e levar pra comer em algum lugar. Um deles bateu no meu vidro e eu abri.

— Tia, você tem 1 real pra dar pra gente? Nossa mãe pediu pra esperar ela aqui e não voltou, tem um tempinho ja. — meu coração ficou em pedaços.

— Vou dar uma coisa melhor que dinheiro pra vocês. — sorri e sem pensar duas vezes, peguei a sacola com os salgados e dei tudo pra eles.

— Nossa, tia. "Cheiloso". — disse a outra menina. — Obligada, muito obligada. — inclinou no vidro e me deu um beijo na bochecha. Saíram os dois correndo pro outro lado e sacodindo o saco pro outro que estava esperando. Sentaram embaixo de uma marquise e comeram.

O sinal abriu e eu guiei pro morro com a sensação de dever cumprindo. Deus os proteja nessa noite.

Botei o carro pra dentro, mandei mensagem pra minha mãe avisando que eu cheguei. A coroa foi morar com o Jordão, moram na nossa outra casa, na rua de baixo. Estava alugada, mas a moça saiu e ela foi pra lá.

Tomei um banho, troquei a roupa e fui fazer a janta. Ouvi um barulho no quintal de trás, mas achei que fosse bicho. Rogério não ia demorar pra chegar, então fiquei tranquila.

Ouvi de novo o barulho, como se alguém tivesse andando. Fui pra fechar a porta da cozinha e não deu tempo, Tiguin entrou, com a arma apontada pra mim.

— Não grita, piranha. — encostou na minha testa, engatilhou. — Se gritar, já sabe.

Tateei atrás do meu corpo devagar, na esperança de achar uma faca, um garfo, sei lá, qualquer coisa. Ele estava transtornado, o nariz todo sujo de pó. Coisa horrível!

— Não faz isso. — falei com a voz trêmula, encostada no balcão da pia. — Pelo amor de Deus.

— Cala a boca, porra! — empurrou a arma na minha cabeça. — Tu vai ficar quietinha, sem caô. Tira a roupa.

— Não. — falei firme, mas morrendo de medo.

— Tira a roupa agora. — continuei firme, sem me mexer, olhando pra ele, que estava completamente fora de si. — Anda logo, piranha!  Tenho o tempo todo não, os caras vão descobrir que eu fugi...

Enquanto ele falava, fingi que ia tirar a roupa e peguei a faca. Em um só movimento, enfiei com toda força embaixo do braço que estava erguido com a arma na minha cabeça e em seguida, o barulho do tiro.

Tudo escureceu!

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