Não quis entrar no banheiro, deixei que ele ficasse o tempo que fosse necessário lá. Ele precisava de um tempo sozinho, e eu preciso respeitar.
Sentei na cama e peguei meu celular que não parava de vibrar. Eram as meninas me mandando mensagem, pedindo mil desculpas, etc...
Confesso que não entendi nada quando o pai dele começou a falar e também, não me senti mal pelo que ele disse. Afinal, minutos antes de tudo acontecer, a avó do Henrique me falou coisas importantíssimas e eu guardei. Mas, nisso tudo, eu consegui perceber que o problema do Henrique em ir lá, não é com o fato de não ter coragem, ou se sentir envergonhado. Ele não vai, porque sabe o que o espera.
Enquanto eu as respondia, ele saiu de lá, toalha amarrada no cintura, o corpo meio molhado e cara: das piores possíveis.
— Me desculpa, Manuela. — sentou nos pés da minha cama, virado pra mim. — Eu não soube o que responder na hora, porque eu simplesmente não esperava que o cara fosse falar aquilo tudo pra você.
— Você não me deve desculpas, preto. — peguei na mão dele. — Tá tudo tranquilo.
Ele não conseguia olhar nos meus olhos, seu olhar era disperso e eu sabia que ele não queria chorar na minha frente. Queria meter a marra de durão dele.
— Eu tô com um ódio que você não tem noção. Parece que os bagulho vão tudo explodir aqui dentro, tá ligado? — respirou fundo. — Quando nós chegou lá, eu achei mermo que ele ia conseguir manter a dele, que ele não ia estragar a porra toda como sempre fez e como sempre faz, até porque com gente de fora, nós nunca espera essa postura.
— Ele tem medo que você se machuque, conhece as leis da vida, do movimento, enfim... — eu dizia querendo apaziguar a situação.
— Tem essa não, Manuela. Ele sempre foi assim, ele gosta de humilhar os outros, tá ligado? E só minha avó batia de frente com ele, agora nem isso mais, ela nem pode.
— Me dá um beijo aqui, vamos esquecer isso.
— Não consigo nem olhar no teu olho, Manuela. Puta que pariu. Tô com vergonha pra caralho dessa porra.
— Henrique, por favor, né? Não dá pra se responsabilizar pela conduta dos outros, po. — eu me aproximei dele, já que ele não conseguia fazê-lo. — Ele só tem isso pra oferecer, essa é a carga dele.
— Promete pra mim que nós não vai mais lá? Que tu não vai mais combinar os bagulho cas minhas irmãs?
— E tua avó, cara? Conversei tanto com ela, falamos tanto sobre você, sobre o quanto ela te ama, como sente a sua falta. — ele passou a me olhar. — Ela me contou o quanto vocês eram cúmplices um do outro. E a gente nem sabe o dia de amanhã, o que essa doença pode ou não acarretar. Quer perder mais tempo de qualidade com ela?
— Não, Manuela. — abriu um sorrisinho fraco, mas abriu. — Mas não quero te deixar na bola, po. Não quero tu passando por bagulho de gracinha do meu pai.
— Henrique, teu pai não importa pra mim. A vida fez com que ele fosse assim, e isso é um problema dele. Não seu, tá? — falei séria. — Até desculpa falar isso, quem importa pra mim é você. Nada mais. Pai por pai, o meu fez pior comigo e eu tô aqui viva. O que importa nisso tudo é que você acha disso tudo, digo, de nós. Da porta pra fora, o que A ou B acham, não me importa nem um pouco.
— Manuela... — ele se aproximou mais um pouco. — Nunca fiz essa porra, sei nem como faz.
— Que?
— Namora comigo?
— Achei que a gente já namorava, po. — falei dando risada.
— Tu nunca me pediu, ficou esperando a beça aí. — falou rindo também e agora, mais tranquilo. — Vai fugir da responsa igual fugiu do "eu te amo" de madrugada?
— Fica quietinho, fica. — dei um selinho demorado nele. — Eu já era tua antes de ser.
— Manuela, dá teu papo.
— Eu aceito ser sua namorada, Henrique. Eu já sou sua namorada.
— É isso mermo que eu queria ouvir. Minha dama, po. Minha mulher. Dona da porra toda.
Depois que ele se secou, ficamos deitados no meu quarto vendo série, ou melhor, ele ficou. Eu dormi de novo, com um carinho maravilhoso na cabeça, sentindo um dos meus cheiros favoritos.
Há 6 meses atrás, eu não imaginava poder viver isso. Poder viver uma história leve, sem o medo do que a pessoa pode fazer na sua ausência.
Eu tive meus momentos bons com o Rogério e não posso negar, nunca. Mas se me perguntarem se eu estava cem por cento segura do que nós vivíamos, a resposta é não.
A atitude do pai dele não mudou o meu carinho pelo pessoal, exceto por ele, obviamente. Mas também não vou querer que o Henrique viva longe da família, nunca esperem isso de mim.
Esse comportamento diz sobre quem ele é, sobre as angústias e amarguras que ele traz, não eu. Nunca vesti personagem nenhum que não fosse quem eu sou, nunca esmoreci por palavra de ódio ou humilhação de ninguém. E não vai ser ele quem vai fazer com que isso aconteça.
Não que eu tenha que provar alguma coisa pra ele, mas o melhor jeito de calar sua boca é sendo quem eu sou. Assim como meu pai, que depois que eu já estava mais velha e antes dele morrer no acidente, vivia achando formas de pedir desculpas, com o pai do Henrique, vai ser a mesma coisa.
META
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DONA DE MIM 💋
Teen Fiction(2017/2022) ⚠️ PLÁGIO É CRIME! ⚠️ Minha vida nunca foi exemplo, e nem quero que seja. Saio a hora que quero e volto a hora que acho que devo. Nunca dei satisfações pra ninguém além da minha mãe, e nem pretendo dar. Você acha que tá ruim? Eu só lame...