MANUELA
O domingo na casa da minha mãe foi maravilhoso. Eu precisava muito desse momento pra renovar as minhas energias.
Por volta das 20h, depois de cumprir todas minhas obrigações, levei as crianças pro Rogério e foi ele quem veio me receber no portão. As crianças se despediram de mim, falaram com ele e saíram correndo pra dentro da casa da dona Joelma.
— Coé Manuela, tá felizona né?
— Com?
— Teu namorado abandonando a firma, ué. Vai poder viver tua vida dos sonhos.
— Graças a Deus, né? Mereço viver uma vida boa, depois de tudo que passei. — falei seca, entrando no carro.
— Não te dei uma vida boa não, Manu? — veio na porta do carro.
— Você sabe que não, cara. E não sei porquê você insiste no assunto. Chato a beça. Se as crianças precisarem, me liga. — liguei o carro e saí de lá.
Eu juro que não consigo entender o motivo do Rogério não desistir de mim, cara. Toda vez que eu venho trazer as crianças é esse papinho gostoso, toda vez um assuntinho diferente. Não cansa nunca.
Cheguei em casa, e quando botei o carro pra dentro, vi a moto do Henrique estacionada. Estacionei o carro, saí e dei de cara com ele na varanda, sentado na cadeira.
— Que susto! — falei no automático e não era mentira, não tinha o visto ali, imaginei que ele estivesse dentro de casa, ele sabe onde eu guardo a chave.
— Caô que tu não me viu aqui?
— Vi mesmo não. — falei andando e indo abrir a porta da sala. — Achei que você estivesse aqui dentro já.
— Eu não entraria na sua casa sem você, Manuela. — falou simples. — Pode me ouvir agora ou prefere que eu volte em outra hora?
— Posso te ouvir agora. — falei enquanto ia acendendo as luzes da sala e em seguida, da cozinha. — Já comeu? Quer empadão, tá fresquinho...
Engraçado que, diferente de todas as brigas que eu tive com Rogério, os desentendimentos, por menores que fossem, eu era consumida pela raiva. E hoje, não... Consigo resolver bem e tratá-lo de forma normal. Nem eu me reconheço.
— Pô, vou aceitar esse empadão sim, Manuela. — veio pra cozinha e sentou à mesa.
Botei todas as coisas na mesa, peguei o refrigerante na geladeira e ele se serviu.
— Como foi lá na sua mãe? — perguntei simples.
— Então... — deu uma pausa e comeu um pedaço do empadão que estava no prato. — Bagulho foi louco, po. Briguei com meu pai, descobri uns bagulho lá da história dele e, de outras pessoas também. Mas pelo menos, eu troquei ideia com o Merrão e tô livre.
— O que? Ai... Sério? Eu não acredito. — apoiei o cotovelo na mesa e o rosto nas mãos.
— Vamos poder viver tudo que nós planeja, Manuela. — abriu um sorrisão e eu me derreto toda.
— Vamos, já vivemos né? Mas agora, temos a liberdade de viver da nossa maneira. — ele esticou a mão, eu estendi a minha e deu um beijo na mesma. — Mas me fala um negócio... O que houve ontem?
— Ah Manuela... — ele riu tímido. — Quer esquecer isso não?
— Claro que não, ué. Você não veio aqui falar sobre isso? Então, fala logo. — olhava séria pra ele.
— Fiquei com ciúme, po. — falou rápido.
— Eu não acredito. — falei rindo. — Não é você que diz não ter ciúmes? Que é o brabão. "Não, Manuela, eu não tenho ciúme de tu não, fica tranquilinha". — falei a última parte imitando a voz dele.
— Qual foi? Vai ficar debochando memo?
— Debochando? Tô trabalhando com a sua verdade. — falei rindo. — Agora que tu não é mais bandido, vai perder toda a tua postura, vou pintar contigo.
— Mais? — falou em tom indignado. — Tu já manda em mim, Manuela. Tu não sabe aproveitar, mas é isso, o que você manda eu faço, seja lá qual for a ideia.
— Hm... Bom saber. — sorri sarcástica.
— Mas vamo com calma.
— Vamo sim, Henrique.. — dei risada. — Mas aqui, tu não precisa sentir ciúme não, sei que é algo que a gente não controla, mas já parou pra olhar como vivemos de forma intensa? E o quanto somos um do outro? Não consigo nem pensar em outra possibilidade, que não seja você, tá?
— Que isso, Manuela?! Assim eu fico tímido.
— Tu sabe que é verdade, po. Não faz o difícil. — levantei e fui na direção dele, ficando em pé, na sua frente. — Eu não sei o que você tá fazendo comigo não, tá? Porque se fosse em outros tempos, isso nunca estaria acontecendo. Eu já tinha te xingado todo... — rimos.
Ficamos um bom tempo conversando, ele falando a respeito das coisas que soube, umas histórias loucas do passado dos pais dele, sabe? Mas quem é que não tem passado. Ainda mais em lugares onde nós moramos, sabe? Tudo perto, pessoas se conhecem desde sempre, enfim...
Por volta das 23h, estávamos vendo um episódio da minha série favorita, quando o Esqueleto ligou pra ele, chamando pra ir num pagode que tava rolando do outro lado da favela.
— Quer ir?
— É, pode ser. Amanhã não trabalho, não saio aqui na área há tanto tempo. — falei simples.
— Angel tá lá com ele. Falou que te mandou mensagem.
— O quê? Angélica saiu? Com ele? Sem as crianças? Bora! — levantei. — Eu preciso ver isso com meus próprios olhos.
Tomei um banho rápido e não deixei o Henrique entrar, se não, já sabem, não sairíamos de casa hoje. Depois de mim, ele tomou o dele. Botei uma blusa oversized branca, um shortinho jeans e uma sandália rosa. Peguei uma bolsinha pequena e é isso. A maquiagem foi a mais simples possível e o cabelo nem teve finalização demorada.
— Como não sentir ciúmes de uma mulher perfeita assim? Tu me fala aí, Manuela.
— Não tendo. É você que dorme e acorda com ela, po. Foi você que ela escolheu, depois de 1 ano sem se envolver com ninguém. Olha a moral que você tem. — me aproximei dele e demos um selinho.
Fomos pro pagode de moto mesmo e eu nunca tinha vindo em evento algum desse lado da favela, não conhecia ninguém, enfim... Parecia outro lugar, sabe?
Henrique, por outro lado, conhecia todo mundo. Até chegarmos no Esqueleto e na Angel, ele parou pra cumprimentar umas 30 pessoas, e eu com essa minha carinha que todo mundo já conhece.
Cheguei perto do pessoal, que estavam estrategicamente parados na frente de uma barraca e a Angel tava toda animadinha. Sério, que coisa gostosa ver a minha irmã assim. Henrique logo comprou mais um balde de cerveja e um combo de vodka... Tava feliz a beça.
Fico tão feliz em momentos assim. Às vezes, eu não acredito que estou vivendo um relacionamento tão saudável, sabe? E isso me assusta.
META
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DONA DE MIM 💋
Teen Fiction(2017/2022) ⚠️ PLÁGIO É CRIME! ⚠️ Minha vida nunca foi exemplo, e nem quero que seja. Saio a hora que quero e volto a hora que acho que devo. Nunca dei satisfações pra ninguém além da minha mãe, e nem pretendo dar. Você acha que tá ruim? Eu só lame...