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NOVINHO

Eu tenho que ver legal esse meu bagulho de ciúmes, que onda errada. Falei pra Manuela que não queria ir nessa festa, porque eu já sabia que não ia ter ninguém que eu conheço, que ela conhece uma boa parte das pessoas, então ia ficar complicado, não tem como fazer os dois: dar atenção pra mim e dar atenção pra geral.

Mas o bagulho foi pior do que eu esperava. E nem foi culpa dela.

Fiquei de cantin, tomei duas cervejas no máximo porque se eu deixasse o álcool me dominar, ia ficar igual meu pai e eu não me permito ser esse homem, tá ligado? Tenho pavor desse comportamento.

Toda hora ela me chamava pra ir onde ela tava, vinha falar comigo e tal, mas eu não tava me sentindo bem. Tava me sentindo um ET, ou melhor, se eu fosse um ET tava mais interessante o bagulho.

Nessa de ficar só de cantinho, eu vi os caras falarem da Manuela, eu vi os maluco desejando a minha mulher, tá ligado? Ela é simpática com todo mundo, mas não deu moral pra ninguém e mermo assim, eu fiquei cego, po.

Na minha cabeça, uma voz dizia que era pra eu ter orgulho e me sentir foda por saber que ela é minha namorada. Mas de outro lado, tinha a voz que não parava de diz que eu nunca seria como eles, que eu poderia tranquilamente perdê-la pra um deles, tá ligado? Afinal, os cara são alguém po.

Eu odeio me sentir inseguro no bagulho, isso foge muito da minha zona de conforto, já que dentro da minha realidade, eu sempre sou usado como referência, mesmo com a minha pouca idade. Não sei lidar com esses bagulhos e é algo que eu preciso melhorar.

Vim pra casa com ela doido pra conversar, mas eu sabia que se abrisse a boca naquele momento, eu ia falar merda e assim, ia piorar o que já não estava bom.

Fiquei a madrugada toda pensando que poderia ter feito diferente, mas to ligado que se vou pra lá, nós ia se estranhar feio. Manuela quando tá puta, fica cega e eu, apesar de parecer sempre calmo, também não sou muito maneiro carregado de raiva não. Melhor previnir.

Acordei cedo, tomei um banho gelado, vesti qualquer parada, botei a peça na cintura, meu medalhão de proteção e vim pra minha mãe. Cheguei aqui às 9h, acho que nem dormi direito.

Minha avó tava na calçada tomando sol na cadeirinha dela, enquanto o Léo brincava com seus brinquedos numa areia que tinha ali do lado.

— Tio Juniô! — gritou quando parei a moto e desci.

— E aí, molecão. — me abaixei e ele veio na minha direção, me abraçando. — Saudade de tu, cara. Como é que tá a merenda na escola? Tá comendo muito?

— Tô sim, tio. Comida lá é gostosona, sabia? — falou rindo. — Cadê minha tia Manu?

— Tia Manu tá em casa dormindo, ela trabalha muito.

— Poxa... Que dia que você vai me levar lá pra brincar?

— Vou ver um dia com a sua mãe, show? — fizemos um toque de mão. — Falando na sua mãe, cadê ela?

— Lá dentro, tio. Vou lá chamar... — saiu correndo.

Fui na direção da minha avó, tava toda marrenta de óculos e boné.

— Qual foi, velhota. Sua benção. — sentei na calçada, do lado da cadeira dela.

— Velhota seu rabo, seu filho da puta desnaturado. Deus te abençoe. — falou séria. — Se amarrou no kit da velhota, né?

Minha avó é a melhor pessoa que eu conheço no mundo. E quando a Manuela me chamou pra realidade de que a cada dia tenho menos dela, eu decidi que quero poder aproveitar mais, tá ligado?

— Cadê Manuela? Brigaram? — ela me perguntou.

— Não, vó. Que isso!

— Vai deixar escapar não, hein. Aquela ali tá contigo só pra te puxar pra cima, se você for na onda dos outros, a tendência é só cair. — falou simples. — Aquele Leandro, que sua mãe odeia, veio falar com seu pai e eu bem escutei o assunto deles. Fiquei feliz contigo, mas não contei pra ninguém aqui em casa não.

— Tu é muito fofoqueira, na moral. — falei rindo. — Qual era a ideia?

— Você sabe, Júnior. Fez a escolha certa. Mas ele acha que é por causa da Manu, falou um monte dela aqui com seu pai, e o bocó do Henrique deu razão à ele. Sua mãe tá brigada com seu pai, já to avisando que o clima tá insuportável aí.

— Eles cismaram com essa porra. Manuela nem sabia que eu tinha essa ideia, até voltei a estudar e ela só soube na semana. Esses cara tem a ideia muito errada quem sou eu... — minha irmã chegou na rua.

— Vai cair uma chuva hein. — veio na minha direção e eu levantei pra falar com ela.

— Fala comigo. — nos abraçamos forte. — Já to ligado que o clima tá tenso.

— Nem fala, bora entrar.

— E com a minha presença vai piorar.

Fui empurrando a cadeira da minha avó e minha mãe tava lá na cozinha, já adiantando o almoço. Ficou toda feliz quando me viu, toda vez a dona chora, não é possível.

Pedi bença, ela me abençoou, trocamos uma ideia rápida e chamei meu pai, que tava mexendo no quintal. Também ficou feliz ao me ver, mas a cara não tava muito boa não.

Sentamos na mesa que tem na varanda e eu já comecei a falar.

— Não quero mais essa vida, o crime não me proporcionou nada e já to há quase 5 anos nessa porra e é só prejuízo. Eu to ligado que o dinheiro é maneiro, ajuda vocês aqui, mas agora a Amanda também trabalha e é isso aí. Eu sei que sair não é fácil e já to ligado que o Merrão veio na direção do meu pai.

— Veio mesmo, e eu to puta porque seu pai já veio falar um monte de merda. — minha mãe falou visivelmente puta.

— Ele veio me dar o papo reto, Lena.

— Que papo reto, pai?

— Que tu tá saindo do crime por causa da Patrícia, porque ela que tá te influenciando, po.

— Vocês tem uma ideia muito errada de quem eu sou, achando que as pessoas me influenciam e eu não tenho capacidade de tomar minhas próprias decisões. — comecei a ficar puto. — Minha mãe nunca quis que eu entrasse, minha avó me deu uma surra quando entrei e nem isso me tirou de ideia. Se fosse pra eu ficar nessa porra, não adiantaria ninguém falar, nem mermo a Manuela. Eu quero sair, e não adianta encher a porra do meu saco. Eu não fico.

— Só que os cara vão atrás de você. — meu pai falou simples.

— Igual iam vir atrás de tu e eu tive que assumir a pica?

— O que? Que história é essa? — minha mãe perguntou  indignada.

— É isso mermo. E meu pai tá cômodo aí, porque a metade do meu dinheiro cai na mão dele, po. — falei mermo, cansei.

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