MANUELA
Henrique e eu temos pouco tempo de convivência, mas parece que vivemos uma vida inteira juntos. Chamei ele pra receber o bofe lá no portão, o mesmo que ficou me encarando lá no Fidel. Ele foi, voltou, ficou uns 20 minutos lá atrás e veio pra sala.
Andou do lado de fora, sentou do meu lado, olhou pra minha cara umas três vezes e levantou mais uma vez.
— Juninho, meu filho, o que tá acontecendo? — vó Madalena falou.
— Aposto que quer ir embora. — falei simples.
— Vamo? — ele olhou sério pra mim, mas não sério como se estivesse puto comigo.
— Tá cedo, não? — tentei convencê-lo.
— Tá não. Já deu já... — passou pra cozinha de novo.
— Foi o Henrique. — vó Madalena falou baixinho pra mim. — Meu genro e ele não podem passar muito tempo juntos, sempre tem briga.
— Entendi, vó. É melhor eu ir então, né?
— É, minha filha, mas venha sempre na minha casa, tá? A porta estará sempre aberta pra vocês. Você é uma mulher de uma luz incrível. — segurou na minha mão. — Não deixe que ninguém tente te convencer do contrário. Você é pura! Por isso que tudo dá certo pra você, tudo. É só confiar.
— Obrigada, vó! — dei um beijo em sua mão. — Vou lá ver o que ele resolveu.
— Se eu bem conheço, já tá até com a mochila nas costas. — falou rindo e eu me levantei, indo até a parte de trás.
E não é que ele já estava com a mochila nas costas e com a minha na mão? Meu Deus, que pressa!
Notei um clima muito diferente quando me aproximei, as meninas com cara de cu pro meu sogro, minha sogra, então, nem parecia a mesma mulher doce que havia me recebido.
— Tchau, sogra. — me aproximei e ela me abraçou forte.
— Tchau, minha filha. Volte sempre, tá? A nossa casa estará sempre de portas abertas pra você. E me desculpa por qualquer coisa.
— Que isso, sogra. Foi tudo maravilhoso, eu que peço desculpas. — sorri e nos soltamos.
Falei com as meninas também, até brinquei com a Amanda que ela não conseguiria mais se livrar de mim.
— Nem quero, cunha. Agora é pra sempre.
— Deixa um beijão pro Léo e fala que qualquer dia, eu venho buscá-lo pra brincar com meus filhos.
— Ih, ele vai amar. Perguntou a beça deles ontem à noite, na hora de dormir. Queria saber se vinham hoje.
— Poxa! Vamos marcar direitinho um encontro deles.
— Peraí, você tem filhos? — meu sogro apareceu do nada perguntando.
— Sim, tenho dois. — respondi simples, ainda sorrindo. Não tinha entendido o tom dele.
— E eles são filhos do seu ex marido?
— Pai, porra! Não viaja não. — Henrique falou, e estava visivelmente puto.
— Ué, o que tem perguntar? — falei completamente ingênua na situação. — Sim, são gêmeos e filhos do meu ex marido.
— Eu achei que você tava fazendo uma merda pequena, mas pelo que parece, a merda é ainda maior. — ele falou virando pro Novo.
— Henrique, menos! — minha sogra falou.
— Vambora logo, Manuela. — Novo me chamou.
— Quero entender o que tá acontecendo... — falei séria. O pai do Henrique não sabia com quem estava mexendo.
— Teu ex marido é gerente do morro onde vocês moram, e eu falei pro meu filho, que mulher que tem mania de pegar envolvido só pensa em dinheiro. Que não existe sentimento. E se ele tá achando que vocês vão viver um conto de fadas, ele tá muito enganado. Você mais velha que ele, com dois filhos e ex de bandido. Daqui a pouco, engravida dele, separa e é mais um malote pra conta. — meteu sério e eu ri.
Pude ver que todo mundo ficou em ação, ninguém esperava que ele fosse falar isso. Pelo menos, pelas caras, era isso que eu pensava.
— Com todo respeito, porque essa casa é de vocês. Mas o senhor não me conhece, não conhece a minha história. E não tem o direito de me atacar assim. Eu sempre trabalhei, eu nunca recebi dinheiro do tráfico e até hoje, meus filhos não tem pensão, não tem malote, não tem nada. Eu tenho uma situação boa, porque não tenho medo de trabalho, porque eu vou à luta, dou a cara pra bater e não tenho medo de nada e nem de ninguém. Se o senhor já teve problemas na sua vida com mulheres interesseiras, é um problema seu. Mas essa aqui... — bati no peito. — É mulher pra caralho de sustentar uma família sozinha sem um, um real do tráfico.
Novo veio na minha direção, me deu a mão e saiu me puxando.
— Por isso que não venho nessa merda. Desculpa, vó. Eu te amo, benção. Prometo que venho te buscar pra morar comigo. — saiu falando a beça. — Por isso que eu não gosto de pisar nessa porra de quintal, nada tá bom pra ele. Enche o cu de cachaça e fica nessa, falando merda sem legenda, atacando geral. Gosta de falar pra caralho, mas quando entrei no crime, tive que pagar dívida de droga dele, porra.
— Preto, não precisa disso. — falava com ele, tentando fazer com que ele entrasse no carro.
— Egoísta pra caralho, atrasa a vida da minha mãe, das minhas irmãs e quer atrasar a minha também. Por isso que eu demoro a vir, porque no começo é tudo maneiro pra caralho, bastou o álcool entrar que começa essa porra desse show desse infeliz, amargurado do caralho.
Com muito custo, depois da minha sogra e eu quase obrigarmos ele a entrar no carro, eu consegui sair de lá. Botei uma música que eu sei que ele curte, mas de nada adiantou, veio até a minha casa sem abrir a boca, sem nem olhar pro lado.
Assim que entramos, ele subiu direto pro meu quarto, foi pro banheiro, entrou no chuveiro e deixou a porta entreaberta. Eu não quis entrar, mas pude escutá-lo murmurando, chorando baixinho.
META
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DONA DE MIM 💋
Teen Fiction(2017/2022) ⚠️ PLÁGIO É CRIME! ⚠️ Minha vida nunca foi exemplo, e nem quero que seja. Saio a hora que quero e volto a hora que acho que devo. Nunca dei satisfações pra ninguém além da minha mãe, e nem pretendo dar. Você acha que tá ruim? Eu só lame...