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Hoje é sábado e as crianças estão desde quinta na casa do Rogério, ou melhor, da mãe dele. Não sei o que aconteceu, mas desde o episódio lá em casa de madrugada que as coisas mudaram. E não foi só em relação a ele... Rogério parece um anjo. Vamos ver até quando.

Eu não tenho encontrado com ele, graças a Deus. O nosso último contato foi pelo telefone, no dia em que ele implorou pros meninos passarem a semana lá, e eu depois de muito custo, deixei. Na realidade, quem me convenceu foi a minha mãe, ficou falando a beça na minha cabeça que só eu dou conta, que só eu acompanho em tudo, então, ele também tem que exercer a função de pai dele, mesmo que eu não tenha nada pra reclamar.

Essa semana, encontrei com a Geovanna pra entregar as coisas da Amanda, minha mais nova secretária. E acabei descobrindo que hoje é aniversário da mãe do Henrique e ele sequer comentou comigo, acho que foi pra eu não insistir em irmos lá, mas não vai adiantar nada, porque ele já contou que sai do plantão hoje e só volta na segunda, então, eu combinei tudo com as meninas, mandei dinheiro pra comprar as coisas pra fazermos um churrasquinho aqui em família e nós vamos passar o final de semana lá.

Organizei minhas coisas e pedi a ele que fizesse uma mochila pra ficar aqui em casa, e quando ele chegar, vou dizer que vamos fazer uma coisa diferente, enfim...

Mais tarde, por volta das 18h, ele chegou aqui em casa daquele jeito que eu já contei: cheiroso, com essa cara que eu adoro e um sorrisinho de canto, já achando que ia passar o final de semana todo no mete-mete. Tadinho!

— Tá toda arrumada assim por que? — me deu um selinho e me olhava com desconfiança.

— Eu tô normal. — falei rindo. Eu vestia uma blusa rosa da adidas, uma saia jeans de lavagem clara e um chinelo slide branco, nada demais.

— Tô maluco, então. — falou rindo.

— Tá mermo. — falei debochando. — Você também tá todo arrumadinho e falei que a gente só ia comer num lugar diferente.

Ele tava todo arrumado mesmo, uma oversized branca, bermuda preta da Nike, um tênis que eu nem sabia a marca e de boné pra trás, uma gracinha.

— Pra andar contigo tem que ser assim, po. — me olhou de cima a baixo, daquele jeitinho dele.

— Bora?

— Bó!

— Traz a mochila. — falei rápido e ele negou com a cabeça.

— Tem merda aí.

Entramos no carro e eu fui dirigindo, ele botou Filipe Ret no rádio em altura ambiente e a gente foi conversando o caminho todo. Quando estávamos próximos à rua que da entrada pra 2P, demos de cara com uma blitz. Mais de cinco carros da PM e ninguém passava, eles pediam todos os carros pra irem encostando.

Na mesma hora, o Henrique segurou firme na minha perna e arregalou os olhos.

— Respira fundo. Fica calmo. O carro tá todo certo, nós vamos passar, mas se você ficar nervoso, eles vão sentir.

— Manuela, minha pistola tá aqui. — falávamos enquanto eu ia enfileirando o carro atrás dos outros.

Olhei bem pra frente e não tinha uma policial mulher, a blitz não me parecia algo relacionado a tráfico, era coisa do DETRAN, mas mesmo assim, eu me arrisquei.

— Me dá!

— O que?

— Me dá a pistola, ué. Sem movimento brusco, mas me dá.

Nosso carro era o quarto da fila, os policiais não estavam pedindo pra ninguém sair, não pelo que acompanhávamos. Então, ele me deu a pistola de forma calma e sorrateira. Eu também sendo muito calma, enfiei na parte de frente da saia e respirei fundo.

Fiz exercícios de respiração até chegar a nossa vez. Acendi a luz de salão, peguei meus documentos, o documento do carro e o policial ficou me encarando por algum tempo.

— Manuela Barros Domingues. — falou olhando a cnh.

Do meu lado, o Henrique nem olhava pra cara do policial, mexeu no rádio pra abaixar o volume, relaxou o corpo no banco e continuou a olhar em volta, como se nada tivesse acontecendo. E realmente, não estava.

— Eu mesma, senhor. — respondi breve.

— Parece que eu conheço esse nome. Só um minuto! — afastou do carro e foi na viatura falar com um outro policial.

Eu sempre meto bronca de brabona, né?! Mas confesso que nessa hora, não passa nem Wi-Fi, já logo imaginei a minha associação ao Rogério. Fantasiei que meu nome poderia estar sendo relacionado a ele, afinal, temos filhos e pra esses caras, nada é difícil de saber.

Olhei pro Henrique, ele só negou com a cabeça e falou sem emitir som.

— Rodamos.

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