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NOVINHO

Os caras podem até tirar minha paz, mas se tem um bagulho que eu sou é calmo, tá ligado?! Por isso que eu tô aqui, aos 19 anos, vivendo uma das melhores paradas da minha vida, tá ligado? Porque eu sei chegar onde eu quero, sem atrasar ninguém, na humilde e sem estresse.

Tava ansioso pra caralho pra ver minha irmã e meu sobrinho. Nem lembro quando foi a última vez que passei um tempo maneiro com eles, mas tudo caiu por terra quando Macula me passou o rádio, dando o papo que o patrão queria trocar meu horário. Tem nada não, po. Pelo menos não to de ronda a noite, melhor pra nós.

Busquei Amanda e Léo no pé do morro e deixei os dois lá no salão, sabia que a Manuela e a família dela cuidariam super bem deles, afinal, dentro desse morro não conheço mulher mais acolhedora que a mãe dela. Minha sogra brabíssima.

Quando dei o papo pra Manuela, ela já ia virar no seiscentos, mas como, pedi pra ficar tranquila, bagulho que ele tá fazendo é do contexto dele mermo, tá ligado? Fica feio só pra ele, pra mais ninguém, geral comenta, mas como, ele é homem do Gordão, po. Tem que respeitar!

Mais tarde, plantão chegou ao fim e fui buscar minha irmã e meu sobrinho na festa. Manuela veio cheia de coisa, uma caixa imensa de bagulho pra levar lá pra minha mãe. Na moral, não existe essa mulher. Jogou a chave nos meus peitos, sem rodeio e mandou eu levar eles em casa.

— Cara, a Manu é perfeita! — Amanda comentou no carro. — Ela me tratou super bem, toda hora vinha saber se eu comi, se eu tava satisfeita, se queria algo diferente. Léo também amou ela, antes de dormir ficou falando a beça na "tia Manu", ele até comeu açaí com ela, tá?

— Ih, quer levar pra tu? — falei brincando.

— Tinha que ver o fora que ela deu na mãe do ex dela, tá?

— Ih, solta a voz. Qual é dessa fofoca?

— A senhora chegou lá metendo a mão em uma das caixas. Ai a Manu falou: "oi, desculpa, isso aqui é da minha sogra". Ai a senhora: "ué, Manu. não sou sua sogra?", a resposta da Manu foi: "é a avó dos meus filhos, mas não minha sogra".

— Ela não fez isso não, na moral. — neguei com a cabeça. — Ela vai tomar um esporrin quando eu voltar.

— Ah não, Juninho. Ai ela vai me chamar de fofoqueira, cara. Ê ê, não te conto mais nada.

— Ué, irmão. — dei risada. — Foi só isso?

— Depois na hora que a gente tava saindo, a senhora tava lá resmungando com o pai dos filhos da Manu. — completou.

— Ai fodeu, o cara já não gosta de mim, é meu superior, vai querer minha cabeça na mesa dele quando eu voltar.

— Você fala muita merda.

Fomos até a minha mãe falando pra caralho. Minha irmã gosta muito de trocar ideia comigo, afinal, temos 1 ano e 1 semana de diferença de idade. Sempre fomos melhores amigos!

Ela só é sistemática pra caramba, apesar da carinha de ursino carinhoso. Se ela não gosta de alguém, ou de algum bagulho, ela fecha o tempo maneiro, sem leme.

— Vai entrar não? — falou quando eu deixei a caixa na frente da porta.

— Vou nada. Amo vocês, tá? — dei um beijo na cabeça dela. — Manda beijo pra geral aí, vou marcar um dia pra voltar.

— Eu duvido. — dei dedo pra ela. — Mas se vier, traz a Manu.

— Positivo, puxa-saco.  — entrei no carro e guiei de volta pro morro.

Eu amo a minha família, tá ligado? Amo pra caralho. Mas eu não sei dizer o que me trava desse encontro com eles, porque apesar de ninguém ser a favor da vida que eu levo, eles nunca me destrataram, só deram o papo deles e tal, mas nunca deixaram de me amar, de se preocupar, enfim... Eu acho que meu problema é a vergonha. Não me orgulho dessa vida, mas se fiz, foi pensando no bem de geral.

Cheguei no morrão, passei pelo salão de festas e já tava tudo fechado, então, fechei os vidros pra não correr o risco de dar de cara com esses vacilão e subi pra casa da Manuela.

Estranhei quando vi tudo apagado e fechado, dei um grito, mas como não tive retorno, só apoiei na lateral do carro e fiquei esperando.

Logo menos, ela apareceu no toque da minha pretona. Toda marrenta, cara fechada. A própria dona da porra toda! E enquanto ele descia da moto com a Angélica, meu celular tocou. Era mensagem do Esqueleto, passando a visão dela toda posuda em cima da moto. Essa mulher é demais!

Nossa noite foi maneira demais, Manuela e eu fizemos até papel de cupido. Juntamos Angel com Esqueleto, tamo fazendo nada mermo...

Mais ou menos umas 3h da manhã, ainda estávamos na resenha lá atrás, até caipirinha eu já tinha feito pra Manuela, que tava rindo a beça. Eu, como sou fração pra bebida, fiquei só na cerveja pra não passar vergonha.

— MANUELA! — alguém chamou no portão.

— Ih, isso é Rogério. — ela falou puta. — Não sai ninguém daqui, deixa ele se esgoelar, se entrar aqui, chamo o Fidel e pronto. — falou simples.

Continuamos lá atrás, mas ficamos quietos, prestando atenção na gritaria que começou do nada. E eu logo saquei que eram os caras do movimento.

— Se a gente for ali no corredor sem acender a luz eles conseguem ver a gente? — Angélica perguntou.

— Não, só se fizermos barulho. — Manuela respondeu.

— Bora lá, então, po. Ver esse comédia tomando esporro. — o Esqueleto falou e eu o repreendi com o olhar. — Coé, cara...

— É nosso superior, porra. Se controla. — falei com ele.

Fomos até o corredor que dava na garagem e conseguimos ver só o final da situação. Kid sendo colocado a força no carro do Gordão, enquanto o Renan levava a moto dele.

— Af. Não vai cansar nunca, né? — Manu falou puta e voltou pisando duro pra mesa.

Daí pra lá, o clima ficou meio pesado. Um tempo depois, a Angel disse que ia embora e o Esqueleto se ofereceu pra levar, pronto. Feito!

— E tu, gatinho... — Manuela me chamou a atenção. — Vai dormir comigo?

META
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