Capítulo XLI

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Chuuya estava em choque com tudo o que ouviu e, francamente, lutava para não fazer muitas expressões. Ele queria chorar, estava imaginando toda aquela situação e como a relação dos dois estava praticamente fadada ao fracasso. Kenzaburo, abandonado pelo pai e vive com uma mãe viciada. Dazai, teve a mãe morta e um genitor violento. Osamu conheceu pessoas ruins em seus momentos de vulnerabilidade, e viu o mundo das drogas como uma forma de fugir de tudo aquilo. Kenzaburo conheceu outras pessoas ruins em seus momentos de vulnerabilidade, e pegou o que elas tinham a oferecer como uma forma de se sustentar. São crianças desesperadas, apenas crianças desesperadas. Um deles desesperado para evitar lidar com o luto, e o outro desesperado para evitar lidar com a mãe. Eles fizeram escolhas erradas, estavam lidando com seus traumas quando deviam estar sendo protegidos. Nakahara sente pena, sinceramente, pena de todos dois. Com uma história trágica ou não, Oe é digno de ódio, e ele sabe disso. Kenzaburo escolheu maltratar os outros para não morrer de fome, Dazai escolheu maltratar a si próprio para não morrer de tristeza. Dor física e dor emocional, todas as dores vão machucar, não importa o quanto tente evitar. Dor é dor, e isso nunca vai mudar. Pensando assim, descartar os irmãos no vaso sanitário livrou Kenzaburo, de forma trágica, de se preocupar com o bem estar de outro ser que seria de sua responsabilidade. Feliz é o feto morto, aquele que teve a sorte de não passar por todo sofrimento da vida, que não precisou sentir a dor da fome, a dor da perda, a dor da traição, a dor da preocupação, a dor do medo, a dor do abandono, a dor da consciência.

Kenzaburo estava com o rosto abaixado, escondendo sua expressão chorosa. Chorar em público é algo mal-educado de se fazer, entretanto, aquele rapaz não conseguia se conter. Chuuya fez um afago na coxa do namorado não oficial ao vê-lo irritado, tentando não fazê-lo iniciar uma discussão ou se magoar mais. Dazai estava tentando administrar as próprias emoções, e tentando ver o lado de Oe, era impossível. Osamu sabe que viver no mundo das drogas não é bom, mas ele detesta ouvir o mesmo discurso de como deveria se esforçar para sair dali, odeia que as pessoas chorem por ele. Ouvir que está errado, ouvir o choro de alguém que se importa com ele o machuca. Enquanto tentava processar o que foi dito, Chuuya franziu o cenho relembrando a última frase. Drogas? Chuuya não ingeriu nenhuma, não conscientemente, ele apenas bebeu duas doses de vodka a qual foram o suficiente para fazê-lo detestar o teor de álcool naquela bebida. Entretanto, antes de interromper aquele momento, Dazai tomou a frente.

— Eu parei. — Resmungou zangado, desviando o olhar para o único hambúrguer na mesa, fazendo Oe lhe pedir para repetir, levantando o rosto úmido. — Não tô usando nada, okay? Limpo. Totalmente limpo. Nada entrou no meu corpo tem um mês, eu acho. Mais que isso na verdade. — Explicou, Kenzaburo imediatamente se inclinou, analisando todo o rosto do rapaz, não havia o pó branco de sempre em seu nariz, seus olhos não estavam tão vermelhos e Osamu não estava tão pálido quanto antes. — Chuuya reclamou disso também. Akutagawa me obrigou a fazer um bando de coisa, fiz uma desintoxicação horrível, lembro até hoje da agonia da abstinência, tô fazendo terapia, até tomei uns remédios. Eu descobri que tenho TDAH, ansiedade e depressão. — Murmurou, e Oe desviou o olhar para Nakahara, que acenou positivamente com a cabeça, o fazendo abrir um sorriso largo apesar das lágrimas em saber que o outro havia deixado de vez o vício. — No começo, eu até senti vontade, mas agora não é algo que tão atrativo. Tenho um pouco de medo até. Depois de ver por outra perspectiva, acho que mudou o pensamento que eu tinha. — Murmurou, sem olhar para Oe até sentir Nakahara cutucar sua coxa por baixo da mesa, apontando para Kenzaburo, que estava chorando novamente. — Você tá bem? — Perguntou confuso, afinal, Kenzaburo estava bem recentemente.

— Eu tô, é que não esperava por isso. — Resmungou limpando o rosto ainda fungando, tentando parar de sorrir. — É triste que você tenha tantos problemas neurológicos, mas fico feliz por você ter parado. Achei que só tava engordando por causa do álcool, é bom saber disso. Desculpa por surtar assim, fiquei meio sensível, sei que é chato. E eu sei que não importa o quanto eu queira me desculpar, não vai fazer o que eu fiz com você ser diferente ou menos traumático. Não devia ter aceitado aquela proposta, devia te explicado. Dizer o que eu devia ter feito só é ridículo, me lamentar pelo passado não vai fazer ele mudar. Sinto muito. Sei que é chato esfregar o problema dos outros na cara deles, desculpa. — Se desculpou entristecido, mas logo sorriu lembrando que Dazai largou o vício, e que seus amigos o ajudaram a fazer isso. — Eu tô muito feliz por você, sério. Tipo, você conseguiu sair daquele ambiente doentio com aquele arrombado e ainda largar as drogas, isso é muito foda. A gente se odeia, não se importa um com o outro e tudo mais, mas acho que ver você vencendo também faz parte dos meus sonhos. É divertido. Queria que minha mãe tivesse feito isso também, acho que ela seria legal. Mas você não apresentou nada pra ele quando tava se drogando, né? Acho que o Chuuya é muito... Santo? Ou tem cara pelo menos. Fala muito palavrão, mas não parece ter noção das coisas. Na festa, ele tava chapado e nem percebeu. Foi você? — Perguntou confuso, e Nakahara lhe deu um peteleco por encarar aquilo como uma ofensa. É verdade. Por viver sempre no topo da hierarquia social, Chuuya não tem tanta noção das coisas que ocorrem fora de sua bolha segura.

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