Capítulo LXXXV

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Ouvir o simples cumprimento de um amigo fez Chuuya sentir-se tentado a perguntar por Dazai, mas não o fez. Ele sabia o porquê Oe estava ali, mas não sabia como raios aquele garoto o ajudaria. Chuuya, querendo ou não, estava numa pequena briga interna consigo mesmo e seus pensamentos intrusivos mais pesados. Ele tinha os olhos vidrados em Kenzaburo, esperando uma explicação ou conto sobre como Dazai estava após a confusão do dia anterior, o que não veio. Na verdade, Kenzaburo, após não ser respondido, levantou e arrumou as coisas no quarto, indo ao banheiro em seguida. Ao sair e acender as luzes, ele finalmente notou que precisava encontrar uma forma de se comunicar com Chuuya.

— Você fala? — Perguntou, e o outro não fez um movimento sequer. — Não fala e não se mexe. Beleza. Você morde se encostar em você? — Perguntou, novamente, sem nenhuma resposta. — Eu arrisco a sorte. Onde ficam as coisas aqui? Você não levanta pela falta de força ou porque não quer mesmo? Eu tô tentando entender sua mímica, mas tá difícil. Você tem lenço umedecido ou algo pra eu limpar seu rosto? — Perguntou, confuso, se aproximando do banheiro e começando a fuçar nas gavetas até encontrar um pacote de lenços. Kenzaburo ficou parado com o lenço em mãos encarando Chuuya, esperando que o garoto sentasse, mas, acima de tudo, se perguntando o quão estranha seria aquela convivência. — Tá. Mas se você me bater ou morder, eu te jogo daquela sacada sem nenhum lençol. — Ameaçou, sentando na borda da cama e começando a limpar o rosto do mais novo, que parecia colaborar com aquilo. A purpurina saiu em maioria, mas não totalmente. — Como eu acho esquisito dar banho em você, eu vou desfazer essa trança.

— Por que agora você tá calado mesmo? Conversou comigo e com o Dazai no hospital. — Resmungou Oe, forçando Chuuya a sentar-se, começando a tirar as tranças de seu cabelo. Como Chuuya não saiu do lugar, permaneceu com o ar-condicionado funcionando e não ficou suado em momento algum, ele estava, entre muitas aspas, limpo visualmente falando. — Ele tá bem. O Akutagawa tá lá. Seu irmão, que me trouxe, eu sinceramente achei que ele fosse me matar. Ele chegou lá tarde, sozinho e foi muito estranho. Você lavou seu cabelo? Tá cheiroso. Acho legal seus cachos e eu entendi um pouco do porquê você sempre deixa eles completamente arrumados e finalizados. — Resmungou, começando a afagar os fios de Chuuya que há tanto estavam presos na trança até então não tocada pelo casal da casa, já que Nakahara sempre se escondia nas cobertas quando tentavam se aproximar. — Você tem sorte que eu não vou trabalhar agora de manhã, então vou encher você. Eu convivi com o Dazai por três dias seguidos, eu tenho muita energia acumulada agora. Acho que tenho shampoo seco aqui, espera. — Resmungou, soltando Chuuya e indo até a própria bolsa. Ele havia comprado para caso precisasse ir da academia direto ao hospital, sem tempo de lavar o cabelo, e acabou sendo muito útil.

Apesar de Oe afirmar ter energia acumulada, ele não fez nada de mais além de massagear o couro cabeludo de Chuuya e fazer um coque envolvendo todos os cachos de Chuuya. Não muito tempo após fazer isso, ele acabou sendo chamado para comer, e assim ele fez, quieto como o esperado, visto que não se sentia próximo daquelas pessoas e muito menos confortável em estar ali com o clima tão pesado. A única coisa boa naquela casa certamente era Rimbaud, a quem Oe questionou o que Chuuya iria comer. Recebendo a notícia do quão difícil estava sendo conversar com aquele adolescente e ainda mais fazê-lo comer, Kenzaburo decidiu que seu primeiro passo seria instruir Chuuya a conseguir fazer algo sozinho. Sem que lhe forcem ou façam por ele.

— Embora eu ache que você queira escutar sobre o Dazai, não tenho muito o que falar dele. Ele fica meio quieto quando fala de você porque tá com saudade, ele chorou muito no começo, mas acho que distraímos bem ele. Fica ouvindo música e gritando de um lado pro outro. — Explicou, acariciando Leno Brega, que estava feliz com a companhia de Kenzaburo. — Eu vi meu pai anteontem, minha mãe tá em estado vegetativo e tal, então é provável que minha guarda acabe indo pra ele. — Explicou, verbalizando seus pensamentos. — Eu posso procurar o disco do Chico Buarute? Gostei daquelas músicas. Como você não verbaliza, pode piscar quando eu apontar pra onde pode estar ele? Uma vez é, sim, e duas é não. Pode ser? — Perguntou, e o outro piscou uma única vez, não porque havia aceitado, mas porque realmente foi um reflexo. Entendendo aquilo como um, sim, Oe começou a apontar para todos os cantos do quarto até que Chuuya enfim afirmasse algo, e ele se deixou procurar. — Você tem o álbum da Tata? Sério? — Perguntou, a fim de tocar naquilo, mas sem fazê-lo ao ver a preocupação que Chuuya tinha em preservar aquele presente. Colocando o disco para tocar, Oe se aproximou do teclado e ligou o mesmo, disposto a ensinar Chuuya a tocar. Durante a primeira música, "Construção - Chico Buarque" embora Oe não estivesse entendendo a letra, ele entendia a parte técnica da música, e, ao fim dela, parou o disco, encarando Chuuya, descrente. — Alguém morre nessa música? Que coisa triste. Volta, prestei muita atenção nessa parte.

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