Com todo o ódio e rancor de seu ser, Chuuya não podia evitar a indecisão de seus próprios sentimentos. Ele quer confortar Kenzaburo depois de tudo que aconteceu. Não é como se conseguisse ignorar uma história daquelas, Kenzaburo é um bully, mas ainda é humano. Um garoto que foi abandonado por todos, que interagiu com sua meia irmã e toda a família que seu pai escolheu ter e ignorar a existência de seu primogênito. Chuuya estava totalmente confuso. Kenzaburo não merece conforto, ele escolheu machucar os outros e está sofrendo as consequências das escolhas que fez, por outro lado, ele morreria de fome com sua mãe se não o fizesse. Prostituição, bullying e morte. Nenhuma das opções é atrativa, mas eram as que ele tinha. Inclusive, ouvindo aquela história e ouvindo de Osamu que Kenzaburo realmente estava disposto a vender o próprio corpo se não fosse aceito na loja, fez Nakahara ficar totalmente confuso com a probabilidade de Oe ter tentado ou até realmente conseguido se vender. Da mesma forma que uma mãe está disposta a dar a vida por seus filhos, Kenzaburo está disposto a dar a vida por sua mãe.
Chuuya estava irritado com a indecisão dos próprios pensamentos, então, parou de andar, chamando a atenção de Osamu que também parou encarando o menor. O ruivo franziu o cenho ao ver os olhos de Dazai levemente marejados, estava triste. Provavelmente ouvir toda a história, e descobrir o porquê Kenzaburo fez o que fez para chegar a este ponto. Eles são amigos desde a infância, Oe tem influência nos sentimentos de Dazai, e olhar um ao outro e vê-los tão tristes os fez dar meia volta e correr para a casa, destrancando a porta com a chave que Dazai tinha no bolso e procurar por Kenzaburo, que não estava mais no corredor. Foi possível ouvir o choro vindo do quarto de Dazai e, ao abrir a porta, havia um incenso queimando, a flor murcha que Oe ganhou fora entregue a mãe de Osamu, e Kenzaburo estava lá, de joelhos, aos prantos. Sem pensar, Dazai correu, e Chuuya o seguiu, em poucos segundos, Kenzaburo estava recebendo seu primeiro braço após cinco anos.
— Eu não posso mais cuidar dela. Não tenho mais como cuidar dela. Eu não quero perder ela. Não entendo o que deu errado. Eu só tentei cuidar da gente. Como as pessoas conseguem isso tão fácil? Eu tô aqui há anos, tentando e tentando, mas não consigo sair do lugar. Meus métodos foram péssimos, mas minha mãe não tem nada a ver com as decisões que tomei. — Resmungou engasgando com o próprio choro, transtornado. Kenzaburo estava tremendo como louco, seu coração disparado, a fala engasgada, o corpo tenso, sua respiração estava ofegante, quase não podia puxar o ar. Oe estava tendo uma crise de ansiedade. Se não fosse por sua mãe, Kenzaburo jamais teria saído das ruas. Mas, também, se não fosse por sua mãe, Kenzaburo jamais teria sido abandonado pelo pai. Provavelmente, não precisaria enfrentar tantos problemas e destruir a própria vida tentando sobreviver. — Chuuya, por favor, não faz nada com ela. Eu imploro, só deixa minha mãe em paz. Ela é uma boa pessoa, nunca vai encostar um dedo em você ou no Dazai. Eu me responsabilizo por tudo que ela fez, por favor, não mexe com ela. — Implorou, limpando o rosto e se virando para Nakahara, segurando as pequenas mãos macias com suas grandes mãos ásperas e trêmulas, de joelhos, Oe se curvou, tocando a testa no chão de madeira, deixando os lisos fios castanhos caírem contra as coxas do mais novo. — Posso me matar se quiser, a gente se odeia de qualquer jeito. Eu tô implorando pra você, deixa minha mãe viver em paz. Não faz nada com ela, deixa ela pra lá. — Implorou, a voz quebrada suplicando pela liberdade de sua mãe.
Chuuya estava sem reação, era a primeira vez que alguém que estava de joelhos perante ele implorando pela vida de outra pessoa. Nakahara estava com os olhos arregalados e boca aberta, a respiração presa na garganta e as mãos sentiam o aperto das quentes e trêmulas mãos daquele suplicando pela liberdade de sua mãe. O menor encarou Dazai, atordoado, sem entender que especie de ligação forte e doentia era essa que aqueles rapazes tinham com seus agressores. Ter Oe naquela situação, fazendo algo tão humilhante e significativo já que além de se curvar e implorar por sua mãe, está implorando para alguém mais novo que ele, fez Chuuya sentir um aperto no peito e resolver acolher por um momento aquela pobre criança desamparada. Desacreditado do que seu cérebro estava impulsionando o corpo a fazer, Nakahara puxou a cabeça Oe para sua coxa, e o deixou soluçar enquanto chorava lhe implorando com a voz mais miserável possível para que deixasse a mãe do rapaz longe de problemas, afirmando que Nakahara poderia descontar o ódio em si da forma que quisesse.
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Soukoku - High School
FanfictionNakahara Chuuya acaba de ingressar no ensino médio em uma nova escola e novo país, tendo que lidar com a diferença cultural além do bullying que sofre por conta dos fios alaranjados. Osamu Dazai é um veterano que está sempre na detenção por aprontar...