Capítulo CII

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Aquela não era sua avó, mas também o conhecia. Era uma antiga empregada, a empregada chefe. Ela já cuidou de Verlaine quando ele era pequeno, e cuidou de Rimbaud quando o visitava. Eles demoraram a reconhecê-la, embora a mais velha soubesse quem eram instantaneamente. Apesar disso, Chuuya estava tão nervoso que começou a pensar que as chamadas de vídeo eram erradas, que haviam deformado o rosto de sua avó, já que as imagens não estavam batendo. Ela não conhecia Chuuya, e Chuuya não sabia diferenciar dentre tanta flacidez se aquela era ou não sua avó, e decidiu não cumprimentá-la de início. Sua avó não é a pessoa que abre a porta, ela tem empregados suficiente para não mover um único dedo se quiser viver assim.

- Entrem. Me sigam. - Ordenou a mais velha, e os quatro estavam ansiosos, mas obedeceram. Dazai obviamente o que melhor sabia de portar por crescer nessa cultura, mas ele tinha bem menos educação que qualquer um ali. Osamu tentava lembrar das aulas de etiqueta que teve com Akutagawa e as de conduta que teve com Kenzaburo.

- Nossa! - Comentou Osamu, surpreso enquanto olhava ao redor. A frente da casa era maior que ele pensava, e o jardim era tão extenso que fazia curva, havia um lago de pedras no caminho, cortado por uma ponte pequena de madeira. Lá, haviam carpas coloridas e de escamas brilhantes, eram grandes, tão chamativas que Dazai parou por um momento na ponte para observá-las com Chuuya. Era estranho pensar que uma casa com tanta vegetação e lago ficava na capital. - São bonitas.

- São mesmo. A gente come dessas? Lá na fazenda tem um-- por que você tá me olhando assim? - Perguntou constrangido, Dazai estava com o cenho franzido e confuso encarando o mais velho. - Quê? Fiz alguma coisa errada?

- Você quebrou totalmente o clima. - Reclamou, e Chuuya ficou ainda mais confuso. - Elas mó bonitinhas e você falando de comer elas, vida. - Reclamou, e Nakahara explicou que na fazenda, há um lago de peixes onde a avó de Chuuya o levava para ver peixes e pesca-los. - Esses são de enfeite.

- Ai, tá. - Resmungou infantilmente, voltando para Verlaine e Rimbaud, analisando a estrutura da casa. Apesar de tradicional, a arquitetura ainda denunciava o poder e dinheiro que essa família possuía. Na entrada, eles lavaram os pés, secaram e receberam novos chinelos para entrar. Posicionados uma sala grande e arejada, com uma porta aberta que dava para o jardim e uma varanda suspensa, os rapazes foram deixados sozinhos. Rimbaud e Verlaine sentaram nas almofadas grandes e confortáveis, perguntando se os rapazes estavam bem, e, com a afirmação de ambos, o casal começou a conversar sobre a nostalgia que era estar naquela casa. - Verlaine, eu posso sentar na varanda pra olhar os peixes? - Perguntou, e o irmão concordou, não era grande coisa. - Vem, Dazai.

- Aqui é enorme. Não combina nada com a cidade, mas é muito bonito. - Comentou Osamu, se aproximando de Chuuya e sentando na varanda sob as próprias panturrilhas. Chuuya estava sem os chinelos, sentado com a ponta dos pés fazendo ponta para tocar no lago, sem sucesso. Apesar de não haver uma grande diferença de altura entre o lago e a varanda, as pernas de Chuuya não eram longas o suficiente. - Vida, se você forçar muito, vai escorregar. - Afirmou, e Nakahara afirmou que não aconteceria. - Eu tô avisando. - Resmungou o moreno, e Chuuya permaneceu fazendo o que queria, ao menos até ouvir a empregada chefe anunciar a entrada dos avós. - Levanta, meu bem. - Pediu, e o outro obedeceu, voltando a sala e assistindo os avós entrarem.

A avó tinha a altura de Chuuya, cabelos grisalhos, lisos e presos num coque bem-arrumado. Assim como o Dazai, ela usava um sueter azul e calças jeans. Rimbaud foi o primeiro a notar, e ficou surpreso com a semelhança. Chuuya analisou o rosto da mulher, enrugado, nariz pequeno e achatado, lábios finos, as bolsas abaixo dos olhos eram grandes, os olhos profundos e a sobrancelha rala. Para idosos ricos, eles não aparentam ser vaidosos quando se trata de pele, não tentam retardar o processo de envelhecimento, apesar dos cuidados. Os pais de Kansuke o tiveram aos 24 anos ambos, ou seja, puderam aproveitar a infância dele e juventude, após sua morte, quando já estavam na casa dos 60, acabaram se descuidando de muitas formas, principalmente em aparência. O avô possuía a altura de Verlaine, também tinha a pele enrugada, pálida, nariz grande e fino, fios grisalhos, lisos e curtos, um corte semelhante ao de Osamu. Usava um par de calças jeans preta e uma camiseta branca de mangas curtas, não havia nenhum desenho, apenas um bolso no peito esquerdo. Chuuya não sabia o que fazer ou como cumprimentar, ele interagiu com eles algumas vezes pelo telefone, mas não se sentia íntimo mesmo fazendo parte da família.

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