Capítulo CXIII

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Naquela noite, Kenzaburo acabou acordando o casal e os forçando a comer. O que mais lhe deixou surpreso foi ver Rimbaud novamente após um dia inteiro longe, ele ganhou um abraço, beijo na testa e foi comunicado sobre sua sessão de terapia marcada para o dia seguinte à festa. Ele não esperava por aquilo, realmente achou que podia empurrar com a barriga e não dariam atenção. Elisa e Verlaine não foram vistos por ele naquela noite, e francamente não entendeu o porquê já que Elisa costuma lhe desejar boa noite. De qualquer modo, ele dormiu e o dia raiou, o fazendo acordar o quanto antes apenas por estar ansioso. Ele não queria sair do quarto, ao mesmo tempo que não suportava continuar lá. Então, trombou com Rimbaud no corredor. O homem estava com uma caneca de chá enorme, e lhe ofereceu, o que o adolescente negou. Rimbaud acordou mais cedo que Verlaine por conta do loiro ter passado mais tempo acordado pela madrugada, e Arthur o fez dormir para tentar ter algum descanso. Kenzaburo acabou na varanda do próprio quarto com Rimbaud, ambos sentados nas poltronas, usando seus pijamas.

— Terapia não é realmente estranha, né? Eu tô bem, Lin. Eu sei que vai me ajudar e tal, mas não sei se quero ajuda. Tenho muita ciência de mim e dos meus problemas. — Kenzaburo começou a falar, nervoso e encolhido na poltrona como uma verdadeira criança. Oe nunca teve tempo de ser criança, ele precisou crescer rápido demais. — Que horas eu vou me enfiar nessa sessão? Minha rotina é corrida. — Ele estava assustado, a ideia de precisar lidar com seus sentimentos não lhe parecia agradável. — E não sei se ela aguentaria o tanto de informação que eu tenho. As pessoas são muito sensíveis.

— Acho que não é questão de sensibilidade, você só se acostumou com a dor e permanece imparcial. Mas isso machuca, isso dói. — Comentou, e o rapaz revirou os olhos frustrado. — Você tem certeza do que vai fazer quando voltar? — Perguntou, e o rapaz afirmou. Não há razão para deixá-la lá, não mais. Kenzaburo entende que sua mãe não tem mais serventia, logo, não tem porquê manter-se viva. Embora não seja saudável trocar uma coisa por outra, Oe fez exatamente isso. Direcionou a importância que sua mãe tinha para a importância que Dazai tem. — Por que decidiu isso?

— Minha mãe não responde. Acho que me dói mais ver ela todos os dias acamada sabendo que entrou num estado irreversível do que saber que ela morreu. — Explicou, e Rimbaud afirmou ser um bom raciocínio, mas o lembrou que trocar as dores não significa não senti-las. — Eu entendo, Lin. Não precisa se preocupar. Me virei a vida inteira sozinho, não é agora que eu vou desandar. — Avisou, fazendo o outro permanecer em silêncio, despreocupado sobre. Após tantas conversas, Rimbaud entende que discutir com Kenzaburo não é algo que irá ter resultado. Oe segue a risca aquilo que acredita. Rimbaud então questionou o que o adolescente espera da terapia, e se espera algum diagnóstico. — Não. Acho que ela e eu vamos pensar que tudo é uma grande estupidez. Eu não sou ansioso, depressivo e nem tenho desvio de atenção. — Afirmou, e Rimbaud questionou o porquê Oe achava isso. — Porque eu não sinto nada disso?

— O estereótipo do que é ter algum desses transtornos? — Perguntou, e o outro afirmou. Kenzaburo usou Dazai como exemplo, que eles não são parecidos. — Você sabe que o Chuuya e o Dazai tem quase os mesmos diagnósticos, certo?

— Aquela bola laranja tem depressão? — Perguntou confuso, e Rimbaud afirmou, explicando que Nakahara tinha outros diagnósticos além, mas que, sim, tem transtorno depressivo. — Eu achei que ele só fosse ansioso e tivesse déficit de atenção. — Comentou, e Rimbaud negou, afirmando que a lista de remédios que o garoto precisa tomar é extensa. — Já vi quando tava ajudando ele mudo, parecia que tinha assaltado uma farmácia. — Resmungou, e Rimbaud deu risada, negando em seguida. — Enfim, não sabia. Única vez que eu vi ele mais deprê foi quando ele tava amoado e quieto, mas não achei que fosse isso. Eu nunca fiquei assim. Nunca parei. Nunca tive crises generalizadas de ansiedade, só quando eu realmente tava em situações ruins. Minha casa pegando fogo, o Teru, e minha mãe. E eu também não tenho dificuldade de concentração, nem sou imperativo. Nada.

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