O começo de tudo

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Cheguei na porta do meu novo apartamento com o estômago na boca.

Não é fácil ter 19 anos e largar sua família e amigos para morar em Barcelona e terminar de cursar medicina. Apesar da oportunidade maravilhosa, eu estava morrendo de medo.

Tinha conseguido alugar um apartamento que ficava a poucos minutos da faculdade, ela era espanhola, tinha 18 anos e estava terminando o colegial.

No começo fiquei com medo de dividir apartamento ainda mais com alguém que não era brasileira também já que as culturas podem ser muito diferentes, mas tudo era muito caro em euro, não tinha como eu morar sozinha.

Cheguei com 3 malas de viagem, meus sonhos na boca e um monte de borboleta no estômago.

Toquei no apartamento sentindo até minhas mãos tremerem. Assim que Guadalupe me libera entrei no prédio com dificuldade pelas malas, entrei no elevador tentando ao máximo controlar a ansiedade. Pelo menos estava ali, não era um golpe, realmente existia o apartamento. Estava realizando algo que quis muito e minha mãe sempre sonhou.

Assim que a porta do elevador de abre encontro Guadalupe sorrindo na porta do apartamento.

-Oi, bem vinda, Anita!- ela se aproxima me abraçando.

Tínhamos conversado bastante no último mês depois que decidimos nos mudar juntas. Achava engraçada essa mania dela me chamar de Anita mesmo eu explicando que no Brasil o apelido pra Ana é Aninha, toda vez que ela me chamava de Anita eu me sentia a própria cantora.

-Obrigada, Lupe- retribui o abraço.

-Deixa eu te ajudar com as malas- ela fala pegando uma da minha mão.

Ela me mostra o apartamento rapidamente e meu quarto também. Agradeço e ela logo sai dizendo que ia me deixar arrumar as coisas. Me jogo na cama sem a mínima condição de arrumar nada agora. Estava exausta.

O quarto tinha uma cama de casal e um armário, mas eu tinha pedido pra entregarem uma escrivaninha e um espelho que deviam chegar no começo da semana.

Mandei uma mensagem pros meus pais avisando que tudo tinha dado certo e tomei coragem pra levantar e tomar um banho pós viagem.

Os últimos três dias tinham sido muito bons, como eu cheguei na sexta, Lupe passou o sábado e domingo me levando pra alguns lugares de Barcelona que ela considerava essenciais para visitar. Hoje era segunda e faltava exatamente uma semana pras minhas aulas começarem. Levantei preguiçosa quase 11 da manhã, mesmo me esforçando eu nunca conseguia acordar cedo. Fui até a cozinha e encontrei Guadalupe fazendo café da manhã.

-Bom dia, Lupe- cumprimento.

-Bom dia, Aninha- ela estava tentando se acostumar com o outro apelido- quer torradas?

-Não, brigada, não gosto muito de comer de manhã- dei de ombros.

Ela me encara pasma.

-É a melhor refeição- protesta.

Lupe realmente amava café da manhã, vi seu prato no sábado e quase tomei um susto pela quantidade de comida que ela fazia tão cedo na manhã.

-É um hábito ruim, eu sei- admiti.

-Deixa eu te perguntar uma coisa- ela senta na bancada na minha frente- nós não conversamos muito sobre isso, mas eu como eu morava sozinha, eu acabava trazendo muitos amigos aqui as vezes, tanto meninos quanto meninas, você se incomoda?

-De jeito nenhum! Adoro casa cheia- sorri.

Além disso, seria bom começar a conhecer algumas pessoas por aqui, vai que todo mundo na faculdade me odeia?

-Ai, ótimo, brigada! Acho que meu melhor amigo vai vir depois da aula aqui.

-Tudo bem- sorri.

-Ei, e sinta-se a vontade pra trazer amigos ou... namoradinhos pra cá também- ela pisca pra mim me fazendo rir.

-Um gatinho espanhol é tudo que eu quero.

Me despedi dela e sai indo pra o ponto turístico que eu mais queria visitar desde que eu cheguei, mas não consegui pela programação de Lupe: o estádio do Barcelona.

Como boa brasileira eu amava futebol e apesar do meu time do coração ser o flamengo, eu ainda tinha carinho por um outro time desde 2015: o Barcelona.

Quem poderia não se apaixonar pela história desse time? E pelas temporadas que eles fizeram com o trio MSN? Tempos bons do Barcelona que não voltam mais...

Cheguei no estádio perto do horário de almoço e nem podia acreditar naquele tour. Entrar nos vestiários, no gramado e na arquibancada era algo surreal. Respirei fundo antes de entrar no museu e chorei que nem criancinha vendo todos as taças, fotos e a história do time. Foi o momento mais emocionante em Barcelona até agora.

Passamos pela loja de souvenir no fim e eu me segurei muito pra não falir. Pensei seriamente em ficar um mês sem fazer mercado pra comprar uma camiseta do Pedri pra combinar com a minha do Gavi, mas me segurei e fui pra casa pensando em como fazer um planejamento financeiro que me permitisse comprar: 2 blusas, 1 cachecol, 1 corta vento e o lego do estádio que custava um rim.

Cheguei em casa completamente avoada e tendo a certeza que ia voltar lá ainda essa semana. E se eu aproveitasse e fosse até a saída dos treinos tentar um autografo? Eu seria muito louca? Eu facilmente perseguiria o carrão do Lewandowski, claramente surtaria ao ver o Raphinha e me jogaria em cima do mini cooper verde do Pedri sem pensar duas vezes, inclusive se o Gavi tivesse dentro do carro era capaz de eu me agarrar ao para-brisa.

Mas tudo bem, preciso deixar desses pensamentos de maluca.

Entrei em casa encontrando uma Lupe afobada correndo pela casa.

-Tá bem?- perguntei confusa.

-To, to- responde distraída- como foi seu passeio? Onde você foi?

-Foi ótimo, eu fui ao...

-ACHEI!- ela grita me assustando- desculpa, Anita, depois você me conta, to muito atrasada.

Ela passa por mim como um furacão e bate a porta da casa, olhei o celular e percebi que faltava exatos 3 minutos pra aula dela começar, então sim, ela estava muito atrasada.

Almocei e logo os homens da mudança vieram trazer meu espelho, minha TV e minha escrivaninha. Como uma boa brasileira mão de vaca que eu sou, não quis pagar 30 euros a mais pra alguém montar a escrivaninha e fixar a TV na parede porque achei que seria super fácil. Resultado? Duas horas depois e eu não sabia nem identificar onde era o pé da escrivaninha.

Peguei meu celular mandando mensagem pra Lupe.

Eu: Alguma chance de você ser uma mestra em marcenaria e saber montar uma escrivaninha? To há duas horas tentando e nada dá certo

Ela responde depois de alguns minutos.

Lupe: jajajajajaja, não creio! Relaxa, vou recrutar uns amigos pra isso. Tenho zero talento.

Com essa mensagem decidi desistir da ideia e assistir uma série no meu computador, já que a TV também não tinha dado certo, acabei cochilando depois do segundo episódio.

O Jogador e a brasileira- GaviOnde histórias criam vida. Descubra agora