Um tempo pra mim

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Desliguei meu celular querendo me isolar um pouco do mundo. Só o iria ligar daqui 5 horas quando soubesse que Julia tinha chegado no Brasil. Tranquei a porta do quarto me isolando também de Lupe que bateu lá algumas vezes. A esse ponto Gavi já deve ter falado algo com ela e era capaz até de ter já contado tudo pra ela.

Eu me sentia tão exposta, tão invadida, tudo que eu mais queria esconder foi jogado na cara de Gavi sem a minha permissão e agora eu teria que lidar com Gavi a todo momento achando que algo estava errado.

Não tinha nada de errado!

A própria Dra. Helena me disse que eu teria quer lidar com dias bons e ruins. É totalmente compreensível que eu tivesse alguns dias ruins depois de assumir minha relação com Gavi e agora estou me acostumando ainda com tudo isso. Meses de adaptação e tá tudo bem.

Eu me sentia bem. Eu tinha um combinado comigo mesma de 3 meses e eu ainda tinha 1 mês. Eu não estava doente. Eu estava bem.

Apaguei a luz, fechei as cortinas, liguei o ar condicionado, tomei um remédio pra ansiedade e me deixei o mais confortável possível debaixo da coberta e vendo meus filmes bobos favoritos. Aos poucos a dor no peito e a angústia foram sendo aliviados. Tava tudo bem.

Assisti dois filmes e na metade do terceiro decido finalmente ligar meu celular e falar com Julia. Eu ia tirar isso a limpo com ela e a conversa não ia ser das melhores.

Assim que liguei o celular tomei um susto com a atualização de notificações. Tinha 10 ligações perdidas de Gavi e 15 mensagens dele. Suspirei pesado. Depois eu lidaria com ele.

Liguei pra Julia incessantemente até ela me atender, o que aconteceu na quarta vez que eu liguei pra ela.

-Oi, acabei de pisar em casa, o que foi?- escuto um barulho de mala ao fundo.

-Quem você pensa que é? Namoral- me irritei já no início.

A ligação fica um silêncio por alguns momentos.

-Você e Gavi conversaram?

-Como você pode contar isso pra ele? Eu confiei em você. Eu te acolhi aqui, eu conversei com você milhões de vezes sobre isso- senti minha voz embargar- como você pode me expor dessa forma?

-Aninha, você lembra da promessa que a gente se fez? Quando eu tava no fundo do fundo? Que uma sempre ia cuidar da outra, que uma sempre ia buscar ajuda pela outra. Você ta do outro lado do mundo e não ta se cuidando. Talvez você não esteja percebendo, mas você já tá em recaída.

-Você me vê por 4 dias e tira essa conclusão? Não me lembro de você já ter seu diploma em medicina e residência em psiquiatria pra sair dando diagnóstico por ai- retruquei cínica.

Era meu corpo, eu saberia se tivesse em racaída. E se eu tivesse, eu iria procurar ajuda por mim, não precisava de ninguém pra isso.

-Amiga, eu vivi o seu pior e vivi o seu normal- ela amansa a voz- quando eu entrei em depressão quem me obrigou a buscar ajuda foi você, quem esteve do meu lado foi você. Eu não me reconhecia doente. Me desculpa ter exposto algo tão pessoal pro seu namorado, mas me apavora a ideia de você estar doente de novo e não ter ninguém ai pra te ajudar, alguem que saiba o que fazer. Só quis seu bem. Tudo bem se você ficar brava, me odiar e tudo mais, mas pelo menos vou saber que você está bem e em segurança.

Desliguei a ligação. Minha cabeça já estava doendo e eu não precisava brigar com Julia e Gavi no mesmo dia. Também não precisava ficar ouvindo sermão dos dois. Arremessei o celular pela cama e me deitei fitando o teto.

Ele tocava e tocava e tocava sem parar. Julia era muito insistente quando queria. Peguei o celular pronta pra desliga-lo de vez de novo, mas paro ao ver o nome de Pedri na tela.

Ninguém vai me deixar em paz hoje, não?

-Para de me ligar- atendi emburrada.

-Boa tarde pra você também.

-Gavi não devia ter te contado o que contou e eu não quero saber da sua opinião sobre isso. Não é da sua conta- complementei grosseira.

Se mais alguém viesse me questionar sobre isso, eu ia ter um surto. Ai sim iam ter razão pra se preocupar.

-Novamente você pensa tudo errado- ele suspira- não foi pra isso que eu te liguei.

-Ah, não? Me ligou pra pedir indicação de shampoo?- ri seca.

-Não, mas bem que podia pedir indicação de curso de sarcasmo né- ele devolve no mesmo tom.

Eu dei uma leve risada. Pedri sempre melhorava meu humor.

-Por que me ligou então?- perguntei menos defensiva.

-Vou provar que te liguei nas melhores da intenções te contando que você só está trancada ainda nesse quarto por minha culpa.

-Que?

-Bom...- ele muda seu tom de voz pro seu tom fofoqueiro- Gavi ligou chorando pra Lupe falando que vocês tinham brigado e você tinha sumido e desligado o celular e sei lá o que. Ai você xingou a Lupe quando ela te chamou no quarto, inclusive, nada legal xingar minha gatinha- revirei os olhos- e a Lupe tem chave extra de todos os quartos...

-Ela ia entrar aqui? Eu ia bater na sua namorada- meu quarto é meu espaço e pronto.

-Para de ameaçar a minha bebê!- ele reclama chateado.

Novamente me arranca uma risada. Pelo menos os dois iam bem juntos, eu torcia demais pra eles.

-Ta, continua sua história.

-Gavi tava preocupado e quando ele apareceu ai ela disse que ele podia pegar a chave e entrar, ele perguntou minha opnião e eu disse que, além de ser errado invadir sua privacidade dessa forma, você ia bater nele se ele fizesse isso. E pela sua reação, estava correto.

-O Gavi veio aqui?- eu nem ouvi a porta ou voz dele.

Pedri da uma risada do outro lado da linha.

-Se ele veio? Aninha, o bonito ta sentado do lado da sua porta faz 2 horas. Ta esperando você sair pra conversarem- que??

Fiquei em silêncio um momento pra absorver o que ele falou.

-Ta falando sério?

-Ele não quer invadir seu espaço, mas quer conversar com você urgentemente. Você não respondeu ele e nem atendeu...

-Ta, eu vou conversar com ele- suspirei irritada- mas você ainda não falou porque me ligou.

-O primeiro motivo era pra te contar essa história e você ter dó do menino e abrir a porta- dei risada- e a outra era pra te dizer que eu amo você, nunca quis invadir seu espaço ou sua história, Gavi estava desesperado e não sabia o que fazer. Nada do que ele me contou vai sair da minha boca, de verdade, tenha certeza disso.

Sorri aliviada. Viu, Gavi, aprende com o Pedri: abstrai e ignora.

-Ensina isso pro seu amigo também- reclamei.

-Bom... Se eu estivesse no lugar dele, eu estaria agindo igualzinho. Ele ta preocupado com a namorada. To te dando seu espaço porque sei que você não queria que eu soubesse e sei que Gavi vai conversar e cuidar de você como sempre.

-Obrigada por ligar, Pedri. Suas conversas me fazem muito bem. Eu te amo, ta?

Desliguei a ligação e tomei coragem destrancando a porta e abrindo. O corpo de Gavi que estava apoiado na porta despenca pra trás caindo nos meus pés e quase me desequilibrando.

O Jogador e a brasileira- GaviOnde histórias criam vida. Descubra agora