O jogo da Espanha

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Era o grande dia. Hoje o Gavi ia jogar pela Espanha e eu já estava vidrada na TV mesmo faltando 3 horas ainda pro jogo começar.

-Você é ansiosa demais- Julia comenta sonolenta ainda se sentando ao meu lado.

-Meu neném vai jogar, me deixa.

Ela me encara da cabeça aos pés por um momento.

-Ana Luiza, você andou emagrecendo?- puxei meu moletom largo mais pra baixo cobrindo meu curto shorts jeans.

Aquele olhar de análise me incomodava. Edai se eu perdi uns quilos no último mês? Minha ansiedade me deixa enjoada e sem fome. Só isso. Foi um mês turbulento. Não tem nada além disso. Não tem nada além disso. É normal.

-Não começa com paranoia. É impressão sua. Me deixa- respondi ríspida e peguei meu celular.

Tirei minha face emburrada do rosto assim que li a notificação que tinha mensagem de Gavi.

-All my loving dos beatles- sussurrei parte da mensagem em voz alta sentindo meu coração quentinho.

-Que?

Mostrei a mensagem pra Julia e mordi o lábio.

-Eu e Gavi estamos trocando uma música por dia desde que ele foi pra Grécia. Vamos transformar em uma playlist e vai ser a playlist que vamos ouvir toda vez que estivermos separados- sorri apaixonada.

-Ainda bem que você é médica porque acho que vocês dois e todo mundo que convive com vocês deve ser diabético de tanto açúcar que vocês colocam nessa relação.

Fechei a cara e revirei os olhos ignorando-a e abrindo o spotify pra adicionar a música.

-Você é uma amargurada e inimiga dos românticos- critiquei emburrada.

-Ta, desculpa. Me mostra essa playlist ai.

-Essas são as minhas até agora:
When you're gone da Avril Lavigne
Por onde andei do Nando Reis
Talking to the moon do Bruno Mars
E as do Gavi foram:
505 do Arctic Monkeys
Hey there delilah
All my loving dos Beatles

Essa me encara debochada e pelo posição do seu lábio levemente arqueado eu já sei que vai sair uma resposta atrevida.

-Se vocês se amam a ponto de fazer essa playlist, não acha que deveria contar pro seu boy do seu passado?

Revirei meus olhos. Não ia ter jeito, eu e Julia iamos brigar hoje pelo jeito.

-Eu já contei o importante. Eu to bem.

-Eu não acho que você ta bem.

-Eu não perguntei sua opinião- retruquei irritada em um tom mais alto e ela se cala.

Respirei fundo e passei a mão no rosto arrependida. Sabia como era Julia, ela ia provocar e pressionar até me tirar do sério e descobrir o que queria.

-Desculpa, Ju- pedi suspirando- olha, eu e Pablo estamos bem e eu estou bem. Não tem nenhuma vantagem em contar isso pra ele agora. Se algo estivesse acontecendo, eu te contaria. Você ta viajando com tudo isso, sério.

Ela me encara por alguns segundos.

-Sabe qual o problema? Eu não acho que seja só isso. Eu to batendo nessa tecla, eu sei, mas eu sinto que você ta me escondendo mais uma coisa. Tem algo que você queira me contar? Precisa de ajuda com alguma coisa?

Um arrepio passa tão forte na minha espinha que eu me remexo incomodada. Que sexto sentido essa dai tem?

-Não. Ta tudo ótimo. Podemos assistir o jogo?

Ela me encara decepcionada por um momento, mas levanta as mãos em sinal de redenção.

-Tudo bem, essa semana já é pesada o suficiente sozinha. A gente pode deixar essa conversa pra outra época- ela me abraça de lado- como você ta?

Suspirei cansada.

-Sinceramente? Acho que nossa melhor ideia foi ficar bem longe do Brasil. Meu único meio de aguentar essa semana é ignorar o Brasil, não to respondendo ninguém e nem entrando no instagram pra ver stories. Uma semana 100% Barcelona. E você?

-Os pesadelos tão bem piores essa semana, mas... Bom, to dando uma aumentada nos remédios pra ficar mais calma e lembrar menos, acho que tá ajudando.

A abracei forte colocando minha cabeça em seu ombro.

-Te amo, ta? Você é a pessoa mais forte que eu conheço.

-Te amo também, demais mesmo. Você é minha dupla e por isso eu preciso que você se cuide e me conte se precisar de algo.

A abracei forte e depois me separei do abraço sorrindo. Íamos ficar bem. Estávamos aguentando essa semana como verdadeiras guerreiras.

Eu sabia que as pessoas deviam estar comentando adoidadas sobre isso no Brasil, foi um acontecimento que mexeu muito com todo mundo na faculdade, um verdadeiro caos. Não sei como Julia aguentou continuar ali, aquele lugar me sufocou até o último dia de aula, eu só tinha a certeza que precisava ir embora urgente dali. Pelo menos Guilherme ia se formar esse ano, ia ser uma pessoa tóxica a menos pra Julia lidar no dia a dia. Ela não merecia isso.

(...)

O jogo estava prestes a começar e eu já estava com o coração na boca de ansiedade por Pablo, era a primeira vez que eu o veria jogar pela seleção. Vejo os jogadores entrando em fila e, nossa, ele fica ainda mais lindo com o uniforme da seleção.

-Olha meu mozão!- apontei quando a câmera foca nele.

Gavi aparecia ao lado de Pedri com uma expressão séria e concentrada. Ambos usavam o uniforme azul claro da Espanha com a manga comprida da mesma cor por baixo.

-Caraca, como fica gostoso de azul, hein- comentei alto e Julia dá risada. Outra coisa que eu estava amando em tê-la ali, poder voltar a falar português 24 horas por dia. Que delicia.

Poucos minutos depois o jogo começa e meu coração palpita forte. Bom, é a Grécia né? Eles iam ganhar fácil, não tinha com o que me preocupar. O que me preocupava era a última mensagem que Gavi tinha me mandado.

Gavi: "Amor, escolhi seu presente já que você não escolhia. Você vai ver hoje durante o jogo. Não é algo material, mas acho que você vai gostar"

Nada que eu pensava conseguia se encaixar com o presente que ele poderia me dar no meio de campo. As únicas duas coisas que me vieram na cabeça foi: arrumar briga por mim em campo de novo -porque ele sempre faz isso e ama brigar-, mas não seria um bom presente. Ou Gavi fez uma tatuagem com a minha cara e vai mostrar em jogo, mas eu ia chamar ele de maluco e Gavi nem gosta de tatuagens.

Que loucura ele aprontou agora?

Terminou o primeiro tempo e Ferran e Koke tinham feito os gols até então, um com uma linda assistência de Gavi e o outro com uma assistência de Laporte.

-To nervosa, meio jogo e nada desse menino falar que surpresa que é- comentei com Julia roendo as unhas de nervoso já.

-Até eu to nervosa, to no terceiro balde de pipoca pra aguentar esse jogo. Futebol e suspense é de matar- comenta de boca cheia.

-Dá um pouco aqui- pedi estendendo a mão e ela sorri me entregando o pote.

Duas ansiosas e nada do Gavi me dar respostas. Odiava quando os outros me deixavam curiosos, nunca conseguia ver séries antes de ter todas as temporadas porque achava um absurdo ter que esperar um ano pra descobrir X mistério.

O Jogador e a brasileira- GaviOnde histórias criam vida. Descubra agora