Pós jogo

3.3K 213 89
                                    

"Pablo, sei que você ta puto que eu deixei escapar sobre a Pelayo, mas eu quero ressaltar a sua burrice em trazer ela aqui. Nem eu achei que ia ser uma ideia tão ruim, mas isso ta um desastre. Ela ta alfinetando a Aninha desde que elas se cumprimentaram. Ta um clima muito chato, ela ta tendo um desrespeito gigantesco com a sua namorada. Achei que você deveria saber"

Joguei o celular pra longe e bati minha cabeça no armário algumas vezes. Que dia infernal, não é possível.

-Bate mais vezes que você ta merecendo- ouço a voz de Xavi.

Merda. Esse come ia vir forte. Antes que ele falasse mais alguma coisa os outros começam a entrar no vestiário também. Não acredito que tinhamos perdido em casa pro United com um gol daquele babaca. Xavi gritou, corrigiu e explorou nossos milhões de erros em campo, mas novamente minha mente tava em outro lugar.

-E você, Gavi, matou de vez o jogo quando foi expulso no fim quando mais precisavamos de você- ele me repreende e todos se viram para mim.

-Eu sei- disse simplesmente de cabeça baixa.

-Ou você melhora seu temperamento, ou talento nenhum no mundo vai salvar sua carreira.

O encarei irritado. Foda-se, eu não precisava ouvir isso agora.

-Preciso tomar um ar- avisei saindo vesitário.

Isso ia me custar caro, Xavi prezava muito por respeito e disciplina e ele ia surtar comigo por ter saido simplesmente, mas é melhor do que ter explodido com ele e com todos ali. Meu celular começa a tocar e eu atendo irritado.

-O que é?- pergunto ríspido.

-Nossa, Pablo, se acalma ai- era Nico- você já saiu? Onde a gente se encontra?

-To subindo ai- desliguei meu celular.

Me sentia péssimo, furioso e cada vez que eu lembrava da última frase de Xavi eu tinha mais vontade de chorar. Minha carreira ia pro lixo porque eu sou um idiota que não sabe se controlar.

-Eu não acredito que você arranjou briga e foi expulso- Aninha me recebe na ponta da escada com os braços cruzados.

Obrigado por me lembrar o óbvio, Aninha.

-Gostou do gol pra você? Era isso que você queria, né? Atenção?- passei reto por ela.

Mas assim que meus olhos pousaram na Pelayo eu dei a volta pensando melhor e lembrando da mensagem de Lupe. Fui até Aninha e a abracei. As brigas a gente resolveria em casa e não na frente da Pelayo. Não queria que ela se sentisse mais insegura do que Lupe disse que ela estava. Aninha não retribui o abraço de primeira estranhando meu gesto, mas logo me abraça de volta, beijei sua cabeça e eu a puxei pela mão para perto dos outros.

Cumprimentei os meninos com um abraço apertado, eu sentia falta deles todo o dia, era inevitável. Cumprimentei Guadalupe também e vejo a Pelayo ao lado.

-Parabéns pelo jogo, você jogou muito bem, Pablo- Pelayo se aproxima me abraçando brevemente.

-Brigada, Anita. Podemos conversar rapidinho?

Ela assente e eu a puxo um pouco pro canto pros meninos não ouvirem a conversa.

-Escuta, que história é essa que você e minha namorada estavam se estranhando durante o jogo?- cruzei meus braços paciente.

Eu conhecia Pelayo desde os 5 anos de idade, e apesar de sermos grandes amigos, eu sabia que ela podia ser bem cruel quando queria e eu não ia aceitar isso com minha namorada. Não importa o tempo de amizade.

-Ah, Pablo, foi coisa boba. Coisa de mulher, sabe?

-Não, eu não sei- disse sério- Ana, somos amigos nossas vidas inteiras, somos amigos muito antes de sequer rolar um beijo entre a gente, você deve respeito a minha namorada. Pela nossa amizade. Eu não sei o que rolou, mas você deve desculpas a ela.

Ela sorri inocente.

-Qual é, Pablo? Ela ta exagerando, não foi nada demais. Acha que eu iria, sei lá, xingar sua namorada por nada?

-Anita, você ta com o Curro agora, eu te dei ingresso em respeito a isso e a nossa amizade. Mas eu não te dei esse ingresso pra você arrumar problema ou diminuir a mulher que eu amo. Eu juro que eu to tentando resolver isso da forma mais simples e pacifica do mundo porque eu gosto muito de você e do Curro e nós sempre fomos bons amigos, mas não testa minha paciência. Não me testa em relação a Aninha.

-Você ta levando as coisas pra um lado muito extremo. To te falando que não foi nada demais.

-E eu to te falando: se você tem respeito a nossa amizade, você vai conversar com Aninha e pedir desculpas e não vai fazer isso de novo. Eu te conheço muito bem, não esquece isso.

Ela suspira e cruza os braços assentindo de leve. Ela fica em silêncio por algum tempo antes de me encarar culpada e jogar seu olhar pro chão.

-Tudo bem. Eu passei dos limites. Eu fiz um comentário sem noção, ela respondeu grossa e depois eu acabei ficando na defensiva e fui estúpida com ela algumas vezes. Me desculpa.

Tudo bem. Pelo menos esse problema estava se resolvendo aos poucos.

-Não quero que peça desculpas a mim, quero que peça a Aninha. Porra, Ana, qual o seu problema? Tratar minha namorada mal, você ta maluca?

Eu só queria queria que as coisas se encaixassem, que meus amigos vissem meu jogo, conhecessem minha namorada. Que Pelayo e Aninha se entendessem. Eu sei que elas nunca iam se entender 100%, mas pelo menos ao ponto da convivência.

-Eu sei, eu fiz merda. Não queria te chatear assim.

-Você fez uma confusão desnecessária. E Curro? Pensou em como ele ficou vendo você e Aninha discutindo? Como isso soou pra ele? Quando eu fui pra Sevilla da última vez e eu te falei que estava apaixonado e nós não iríamos mais ficar, a única coisa que você disse que se importava era nossa amizade e eu te garanti que isso nunca seria perdido. Mas olha a situação que você me deixa? Se Aninha me pedir pra nunca mais olhar na sua cara depois de hoje, você quer que eu fale o que?

Ela me encara chorosa e eu percebo o olhar de Curro sobre nós. Eu ia ter que conversar com ele depois também. Eu tinha que aceitar que as coisas mudaram agora que eu namoro Aninha, Pelayo era um problema e não tinha mais como eu trata-la igual antes.

-Você ta falando que a gente não pode mais ser amigo por causa de uma discussão de nada? A gente é amigo desde a infância, Pablo. A gente cresceu junto!

-Eu to te falando que como minha amiga, e mais que isso, uma amiga que já teve passado comigo, você precisa ter limites e respeitar a minha namorada. Foi inaceitável isso, de verdade. Eu to muito decepcionado com você. Isso é um aviso.

Ela me encara séria e assente um pouco triste.

-Vou conversar com ela. Não quero causar problemas na nossa amizade e muito menos no seu namoro, Pablo. Eu... sei lá o que me deu. Mas eu fico feliz de te ver feliz- mal sabe ela que eu to miserável no dia de hoje- Não vai acontecer de novo. 

Respirei aliviado e sorri pra ela. Viu, eu sabia que ela não era má pessoa. Só precisava de um puxão de orelha de vez em quando.

-Vocês voltam amanhã cedo, certo? Podemos sair todos para jantar hoje- sugeri em busca de uma trégua entre as duas.

-Vamos, sim. Cadê sua namorada pra eu falar com ela?

Me virei confuso. Ela estava logo aqui. Olhei Lupe que me encarava de longe balançando a cabeça negativamente.

-Ela foi no banheiro mais ou menos na hora do abraço de vocês dois- merda.

Me aproximei de Lupe.

-Ela foi no de cima ou no andar debaixo?

-Baixo. E deve ta chorando no banheiro- ela cruza os braços me julgando.

Eu só tava tentando resolver meus problemas. Desci apressado querendo achar Aninha. Parei na porta do banheiro e ouço um barulho estranho.

-Aninha?- a chamei receoso.

-Um momento- responde baixo.

Esperei mais alguns minutos e já estava agoniado. Aninha finalmente abre a porta e parecia abatida e um pouco chorosa. E... COM A PORRA DA BLUSA DO UNITED?

-Você tava vomitando?

O Jogador e a brasileira- GaviOnde histórias criam vida. Descubra agora