9 - Mattheo, 1993 (passado)

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A minúscula e pobre vila trouxa estava afogada em caos e desespero, enquanto corpos e mais corpos caíam pelas ruas. Ele ignorou desde o primeiro Avada que sua varinha proferiu, a sensação de nojo que sentia por si mesmo. Três, quatro, cinco... quando ele voltou em si, dezoito corpos estavam caídos por sua causa.

Seu pai sorria, observando o pandemônio de cima, vendo as mortes como se fossem chuva em um dia de verão. — Mattheo! - ele o chamou por Ofidioglossia, e o menino nunca se sentiu tão grato por ouvir sua voz odiosa. Ele aparatou para o morro que envolvia a cidade, o ponto mais alto de terra em quilômetros. Seu pai e sua cobra, Nagini, assistiam tudo dali.

— Sim? - sua voz já não mais lhe pertencia. Há muito tempo ele deixou de conhecer quem ele era, mas sabe que quem era naquele momento não era ele. Não é quem ele é.

— Assista isso comigo, meu filho. - seu pai ordenou com um gesto simples da mão. Ele foi para o lado do homem, sentindo um arrepio incômodo descer por sua espinha. A sensação horrível de que ele odiava aquele lugar e odiava sua vida naquele momento.

Ele conseguia ouvir os gritos, abafados, de onde estavam. Clarões apareciam a todo momento lá de baixo, com os feitiços; corpos e mais corpos deixavam as calçadas cobertas de neve, agora cobertas de sangue. Os comensais da morte voavam pelos ares, aterrizando logo atrás de suas próximas vítimas, atacando-as por trás.

— Sabe o que estamos fazendo aqui, meu filho? - aquele que ele chamava de pai, perguntou. Mattheo nega com um gesto, enjoado demais para falar. - Esses trouxas ousaram comemorar quando uma das crianças desgostosas deles foi descoberta bruxa. A vila inteira... Incomum, tenho que dizer. Normalmente, eles julgariam. Bom, infelizmente, precisei matá-los por ousarem festejar. Odeio festas.

Seu estômago pesa, mas seus braços estão tão leves... embora o sangue em suas mãos pesem mais que seu próprio corpo.

— Ah, sinta! - Voldemort inspira fundo - O cheiro da morte. Hilária, humana e ridícula. Só os fracos se submetem à ela.

Sim, ele sentia. O cheiro de sangue, da carne queimada e do medo. O cheiro repugnante e pútrido que um massacre causava. Ele queria vomitar.

— Volte, Mattheo. Comece a entender o que é ter poder.

Ele precisou respirar fundo, engolindo em seco antes de desaparatar. Os gritos são tão altos quando ele aterriza, que precisa de alguns segundos para se acostumar com a tontura que lhe causaram. Ele olha ao redor, reparando em uma mulher com um bebê no colo, esgueirando-se pelas sombras, e tem o impulso de ignorá-los. Mas a Ofidioglossia, aquela língua tão detestável, soou em sua mente. — Mate-os.

Ele hesitou, por tempo o suficiente para saber que se arrependeria mais tarde, antes de erguer a varinha e sussurrar o feitiço, vendo a mulher e o bebê caírem no chão. Vendo de primeira mão, sua alma se quebrar também.

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— Por que hesitou?! - Voldemort está gritando.O corpo do garoto implora por um descanso, o suor cobre toda sua pele, misturando-se com o sangue que escorre de seu peito. Ele respira com dificuldade, sua visão ficando turva pois sua consciência está se esvaindo.

— E-Eu não sei. - mentiu.

— Mentiroso! - seu pai grita, e novamente a dor assola seu corpo, seguida por um clarão de luz. Outro corte se abre na pele de Mattheo, mas ele não consegue mais sentir o lugar. A dor corrói seu corpo todo, então poderia ter sido em seu abdômen, ou pernas, ou braços, ou...

Ele não sabia. Tudo dói, a dor se mistura.

Seu grito ecoa pela sala, sua pele parece estar queimando de dentro para fora, borbulhando seu sangue e derretendo seus ossos.

Ele leva alguns segundos para perceber que seu pai parou com a maldição Cruciatus. Uma sombra cobre seus olhos, e Mattheo enxerga turvamente a figura do homem ao seu lado.

— Da próxima vez que eu lhe der uma ordem, Mattheo, você cumpre.

O garoto soluça, concordando com o pai antes de vê-lo sair pela porta. Espasmos correm por seu corpo inteiro, e ele se sente exausto. As tiras de couro que prendiam-no na mesa estão abertas agora, permitindo-lhe o movimento.

Ele faz um esforço sobrenatural para sair da mesa, caindo com um baque seco no chão. Um gemido de dor escapou de seus lábios, seu corpo está em chamas. Ele precisa se arrastar pelas paredes da casa para chegar até a escada, e ele deve ter levado dez minutos inteiros para subi-la. Finalmente em seu quarto, não consegue segurar o vômito até o banheiro, então despeja tudo em um vaso de plantas que há ali.

Estava segurando a porcelana com tanta força, que ela se partiu em sua mão, cortando a palma profundamente. Ele murmurou palavrões, secando o sangue que começava a escorrer pelo pulso em sua roupa encharcada de suor, mas para quando percebeu que seu corpo inteiro parecia relaxar. A dor parece anestesiar.

Ah, sim. Foi aí que ele descobriu que o corpo só aguenta uma dor de cada vez.

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Horas mais tarde, o luar iluminava o jardim de rosas. O vento chacoalhava as folhas dos arbustos e árvores, causando um som seco e triste. Estava frio, o que indicava neve.

Ele correu seus dedos pelo caule de uma das muitas rosas brancas que estavam espalhadas pelo banco em que estava sentado, apertando a pele de seu dedo contra o espinho. O sangue passou a escorrer pelo caule até pingar nas pétalas brancas, manchando-as pois a flor estava de cabeça para baixo. Ele movimentou a planta, se divertindo ao ver a forma com que seu sangue dançava sobre as pétalas, pintando o branco de vermelho.

Olhou para o céu repleto de nuvens, mas que ainda assim, deixava um espaço grande para que a lua brilhasse livremente. Meia noite.

Feliz quatorze anos, Mattheo.

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A Biografia de Mattheo RiddleOnde histórias criam vida. Descubra agora