128 - Mansão Nagasaki, 1997

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𑁍

Ele não conseguia acreditar na sua realidade atual. A garota que ele amava, a primeira pessoa que amou em sua vida, cortava folhas secas de samambaia com um sorriso enorme no rosto, cantarolando uma melodia aleatória. E... ela era dele.

Esses momentos casuais, Mattheo percebeu, eram os mais importantes. Era quando ele descobriria cada detalhe, cada traço de Angel.

Ela tirou uma tesoura de dentro do bolso do avental marrom que vestia, podando as folhas ressecadas, e Mattheo assistiu. Com um caderno nas mãos, ele rabiscava nas folhas amareladas um retrato quase perfeito da loira, de costas. Olhava brevemente para ela, e passava os traços para o papel.

Aquela noite havia sido difícil. Ela acordou chorando no meio da madrugada, com gritos de medo e dor, implorando para ser salva. Mattheo engoliu o choro e a culpa ao abraçá-la, apertando fortemente o corpo pequeno, até que ela se acalmasse. Demorou meia hora para que a respiração de Angel voltasse ao normal.

Então eles ficaram abraçados por horas, quando a loira finalmente dormiu. Mas ele não conseguia; ainda se culpava por tudo. Por não ter sido capaz de protegê-la, de impedir seu pai de infligir as incontáveis de violações contra ela.

Assim, horas mais tarde, quando o sol já iluminava o quarto frio do garoto e Angel acordava, ele decidiu que não adiantava ficar se culpando. Infelizmente já havia acontecido, e ele não conseguiu impedir. Mas poderia agora. Ele estava determinado a dar sua vida por ela, se fosse preciso. Por que somente a ideia de viver sem sua garota...

O causava arrepios e simplesmente não. Ele não vive sem ela. Sua vida não existe sem ela.

Ela é a razão justificada de sua existência. Ele nasceu e viveu uma vida de merda, só para estar ali no presente. Para conhecê-la, amá-la e possuí-la. Para dedicar sua alma mísera, seu coração minúsculo e sua mente fodida à ela.

Por isso ele a disse para que fosse fazer algo que amava. Então Angel sorriu, o beijou uma vez e depois outra, antes de ir se lavar. Vestiu o avental e disse "venha plantar comigo". E agora, ele a desenhava com a maior concentração possível.

Passos abafados soaram na parte de fora da imensa estufa, e pelo vidro que servia de parede, ele viu Pansy se aproximando. A morena entrou, sorrindo e respirando pesado pela temperatura mínima que estava do lado de fora. — Ai que frio da peste. - ela murmurou, batendo o casaco pesado que vestia para que a pouca neve que estava ali se desgrudasse. Tinha nevado durante a madrugada, e ainda caía alguns flocos.

Pansy sorriu para Mattheo, aproximando-se. — Ai meu Merlin! Que lindo, Riddle! - disse ao espiar seu caderno. Angel, que havia entrado mais profundamente nos corredores de plantas, se aproximou. — Angel! - Parkinson exclamou, encarando a amiga de cima a baixo - Você tá uma puta de uma gostosa com esse avental.

A loira riu, revirando os olhos. — Você também está uma delícia com esse casaco de urso.

A morena soltou um arquejo, ofendida. — Casaco de urso?! Isso é a última moda de Milão, querida! - explicou com um tom debochado, erguendo o nariz com metidez. Angel gargalhou ainda mais, indo até a amiga e abraçando-a.

— Por que saiu aqui fora nesse frio? - a loira perguntou, ajeitando a touca de Pansy no lugar.

Pansy olhou ao redor da estufa. — Vim chamar vocês para o café. Saori está dizendo que o chá vai acabar daqui a pouquinho se não correrem.

O queixo de Angel caiu, e sua mão foi ao peito em uma encenação. — Ai não! O que será de mim sem o chá aguado de Blaise?

Parkinson gargalhou alto. — Ele não acerta nem uma xícara, é incrível! Mas hoje quem fez o chá foi Narcisa. Então... meio que está muito bom.

A Biografia de Mattheo RiddleOnde histórias criam vida. Descubra agora