7 - Mattheo, 1990 (passado)

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Eu fiz uma merda enorme. Fiz uma merda muito, muito grande; é o que se passa pela cabeça de Mattheo enquanto ele corre pela floresta que fica atrás da mansão Riddle, ofegante e desesperado.

O que ele vai fazer comigo?

Ele consegue ouvir a respiração da criancinha atrás de si, tão ofegante quanto ele. Seus passos pequenos tentavam acompanhar seu ritmo, mas era difícil por ser tão pequeno.

— Vamos. - diz entredentes - Se apresse, garoto, eles não podem pegar você.

— Mas o que vai acontecer com você? - a voz infantil está próxima, o que lhe informa que ele está se apressando. Sua pergunta fez com que seu coração parasse por alguns segundos, medo inundando-o e fazendo com que ele se afogasse em pensamentos.

— Vou ficar bem. - ele responde a criança, puxando seu braço gordinho para que ele se desvie de um galho grosso sobressalente da terra. A criança segura um grito, encarando-o. — Quantos anos você tem? - pergunta, colocando o menino nas costas, gemendo com o peso dele mas acelerando, indo para o centro da floresta.

— Seis. E você?

Seis anos. A idade que Mattheo tinha quando passou a assistir as sessões de tortura de seu pai com os prisioneiros. Inferno.

— Onze. - ele ofega. Estava sendo difícil respirar com o peso da criança em suas costas e correr ao mesmo tempo, mas ele forçou seu corpo a aguentar. Preciso lidar com essa fraqueza, merda!

— Por que você estava lá também? - o menininho diz após um tempo, quando já não era possível ver a luz da lua por entre os galhos das árvores, tão fundo na floresta em que estavam.

Lá? Na mansão, ele quer dizer?

— Eu moro lá.

— Ah... e qual o seu nome? Eu sou o Ethan.

— Mattheo.

Um barulho ecoou por entre as árvores, e o garoto se espremeu contra Mattheo, o rosto se escondendo na curvatura de seu pescoço. — Eu quero minha mãe. - choramingou, mas Mattheo não podia explicar para a criança que ele estava órfão. Não agora.

— Calma, vai ficar tudo bem.

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Não ficou tudo bem.

Os comensais os encontraram, cercando-os, e apagaram Mattheo. Quando ele acordou novamente, estava amarrado em uma mesa, na conhecida sala de reunião. Ethan chorava, acorrentado contra uma cadeira e amordaçado com um pano sujo.

— Você me desobedeceu hoje, Mattheo. - é seu pai quem diz, embora ele não consiga vê-lo; ele presumiu que o homem esteja atrás de si.

— Pai, eu...

— Cale-se! - ele grita, e o garoto repara que Ethan se encolheu na cadeira. Sua pele morena estava pálida demais - Desobedeceu-me e ainda tentou fugir com o prisioneiro... - o tom que ele usou não delata seu humor - Como punição por tal traição, assistirá enquanto eu o torturo.

— Pai, não! - ele grita, começando a se desesperar. Seu coração está pulando no peito e ele sabe que é inútil discutir. Quando desamarrou Ethan da cela, ao descobrir que havia uma criança com menos de oito anos aprisionada e levando-o para fora da propriedade da mansão, ele estava aceitando os riscos também. E ele sabia que seu pai não seria tão misericordioso assim.

Uma traição.

Ethan gritou quando seu pai o amaldiçoou, e foi o grito mais doloroso que ele já tinha ouvido. O menino chorava e gritava, implorando por socorro com as cordas vocais se estilhaçando. Mattheo assistiu-o contorcendo-se na cadeira, os gritos da criança aumentando ainda mais quando riscos e cortes passaram a marcar sua pele morena.

— Pai! - Mattheo grita, e o homem entra em seu campo de visão, com fúria nos olhos.

— Não! Você me deve, Mattheo. Me traiu! Meu próprio filho! Aceite as consequências. - foi o que respondeu. Em seguida, os gritos de Ethan ficaram distantes, pois os que Mattheo emitia passaram a ecoar mais alto, quando um corte profundo, do peito até o umbigo, rasgou sua pele.

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Ele fez com que Mattheo matasse Ethan naquela noite. Suas mãos e consciência jamais ficaram limpas daquele sangue.
Mesmo quando ele machucou as mãos ao lavá-las.

Era sua culpa, e ele sabia disso.

Se não tivesse fugido com ele, será que ainda estaria vivo?

Não, ele sempre respondia a si mesmo.

Não; se eu não tivesse fugido com aquela criança, no dia seguinte meu pai me obrigaria a matá-lo. E eu teria hesitado, o que levaria Voldemort a torturar o garoto até eu terminar meu trabalho.

Às vezes, ele até tenta encarar as coisas com mais leveza. Pensa que pode ter sido um destino pior para ele; ter feito a merda que fez, levou seu pai a descontar a maior parte de sua raiva no filho, não na criança.

Então pude matá-lo com rapidez.

Eu não sou um monstro, eu não sou um monstro, não sou um monstro.

Ou ele é, mas cria justificativas e ilusões para si mesmo pois tem medo de encarar a verdade.

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A Biografia de Mattheo RiddleOnde histórias criam vida. Descubra agora