10 - Hogwarts, 1996

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Quando ele a viu andando pelo corredor, com sua amiga Saori, gargalhando e puxando a japonesa com pressa por entre os alunos, provavelmente por estar atrasada, seu peito foi inundado com uma sensação quente, de puro alívio.

Ela estava bem. Estava bem, e sorrindo. A maldita pulseira dela estava tilintando em seu pulso. Ela estava bem. A atrevidinha estava bem.

É como se ele pudesse respirar de novo.

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A mesa do salão principal estava, como sempre, vazia. Quando ele entrou no salão, reparou que apenas Zabini estava lá, cochichando no ouvido de uma garota do quinto ano. Angel e Saori estavam há algumas mesas afastadas da sua. Ele sentou-se e logo a comida apareceu, o cheiro fazendo com que ele percebesse que não comia nada há mais de dez horas.

Ele passou a colocar pães e bolos em um prato, comendo silenciosamente quando alguém se sentou ao seu lado. A pessoa o cutucou, e em seguida, o cheiro anormal de chuva, maresia e dama-da-noite o atingiu como um soco. — Oi. - Angel disse com a voz baixa, mas ele sabe que ela sorri só pelo tom - Vai na festa do Slughorn hoje?

Ele não se lembrava de festa alguma.

A loira ainda o encarava, com aquelas orbes grandes e castanhas. Mas que festa?

Ah, o convite que o professor havia lhe entregado ontem.

Seu olhar foi para ela. Os cachos dourados estão contidos em duas marias-chiquinhas baixas, caindo em cascata sobre seu peito. Ela ainda usa a blusa, embora as mangas estejam um pouco arregaçadas por conta da temperatura, e ele repara que seu pulso não carrega uma cicatriz; apenas um arranhão. Ela segue o olhar do garoto, sorrindo sem graça, e ajeita a manga para cobrir a pele machucada.

— E então? Você vai?

Do que ela falava? Ah, a festa. Ele faz um gesto que não, voltando a comer. — Ah, vai! Eu não quero ir sozinha, e você é a única pessoa que conheço e foi convidado... - choraminga.

Zabini aparece com um de seus sorrisos cafajestes, sentando-se ao lado da loira. — Angel! Que bom vê-la aqui.

Ela faz uma careta, empurrando o braço de Blaise, que estava indo se apoiar nos ombros da garota. — Xispirita, Zabini.

— O que está fazendo aqui, hein? Sentada na nossa mesa?

Ela dá de ombros, revirando os olhos. — Conheço o Mattheo.

— Vai para a festa hoje? - ele diz, pegando um bolinho da mesa. A garota dá de ombros mais uma vez, olhando para Mattheo.

— Por favoor! - biquinho. Ele encara seus olhos cor de mel encontrando-se com os dele, fazendo com que seu corpo esquente como brasa. Mas que merda estava acontecendo?

Ele suspira, sabendo que ela só sairá de lá com um sim. — Tudo bem. Esteja na comunal às nove e meia. - ordena, fazendo-na sorrir abertamente. O sorriso da garota fazendo com que Mattheo se sinta tonto por um instante. Ela gargalha correndo de volta para onde Saori estava sentada. Blaise o encara, chocado.

— O que acabou de acontecer?

— Cale-se, Zabini.

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Ele termina de vestir o terno, alinhando um fio que estava solto. Puxou um cigarro, acendendo-o e soprando a fumaça pela janela de seu quarto. Estrala o pescoço, entediado, e olhou para o relógio.

Nove e vinte e dois.

Deu uma última tragada no cigarro, apagando-o contra a mesa, saindo do quarto. A comunal está cheia à esta hora. Todos lançam um olhar para ele quando se encosta contra a parede de pedra. Ele foca o olhar na janela, o lago refletindo por trás do vidro, a sombra de alguns peixes e criaturas é a única coisa que dá para definir com a fraca iluminação da noite.

Um "aham" capta sua atenção, e ele se virou para encarar Angel. Seu fôlego ficou preso em sua garganta por um mero segundo. A loira usa um vestido de cetim verde-escuro que delineia todas as suas curvas. Os acessórios de prata, colar, brincos e pulseiras, deixaram-na ainda mais... linda. Atrevida e linda. Linda pra caralho.

Sua boca estava brilhando com um gloss avermelhado, e ele precisou resistir ao impulso de beijar aqueles lábios. Que porra estava acontecendo com ele?!

Ela sorri, corando. — Todo mundo está encarando...

Ele revirou os olhos, sentindo-se leve pela primeira vez em muito tempo. — Ignore-os.

Ergue seu braço, que ela aceita, enroscando sua mão nele. Ela sorri mais uma vez. Coloca um cacho do cabelo solto para trás da orelha, envergonhada, e ele os guia até a saída da comunal.

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Perto da sala de Slughorn, a música os alcança. A luz brilha de dentro do cômodo, conversas e sussurros. Eles entram na sala, a luz amarelada fazendo com que os olhos do garoto ardessem. Ele vê Angel, piscando algumas vezes antes de olhar para ele, desviando rapidamente o olhar.

Slughorn os alcança, com um sorriso que não chega aos olhos. — Bem vindos ao jantar! - e ele continua falando, mas Mattheo já não presta atenção. Uma mesa redonda foi posta com vários tipos de comida. Harry Potter, Hermione Granger, um garoto da Grifinória, Cormac e mesmo Zabini estão lá.

Slughorn os guia até a mesa, e o garoto repara que Angel o puxa para o mais longe possível de Potter, que a encara com uma expressão incomum, segundo Mattheo, para que o Herói Potter sinta. Desprezo.

Ele nunca os viu conversar, Mattheo repara. Por que ele a repudia? Com toda a certeza, Potter não estava o encarando.

A loira se senta, suspirando. Blaise muda de cadeira, ficando à esquerda de Mattheo, enquanto Angel está à sua direita. Slughorn ainda está na porta, conversando com alguns alunos que acabavam de chegar. Mattheo ainda sentia o olhar de Potter sobre Angel, a curiosidade martelando em sua cabeça.

Alguns minutos depois, Angel se aproxima um pouco do garoto; seu perfume atingindo seu nariz, inebriando-o de uma maneira mais forte que a nicotina. — Mattheo... - sussurra - Estou entediada.

E no que isso o afeta?

— Conversa comigo. - pelo tom, ele já sabia que ela está fazendo um biquinho. Ele a encara, a vontade de beijá-la voltando. Inspira fundo, limpando a mente. Ela sorri — Tá bom, eu começo. Gosta de ler?

Se ele gosta de ler? — Sim. - responde, a voz sai rouca. Sim, eu lia para abafar minha mente e a culpa de ter matado alguém.

Ela sorri ainda mais, corando, enquanto ele bebia um pouco da água que havia sido servida. — Que tipo de livros? Eu gosto de romance.

Ele olha ao redor da sala, pensando. Do que ele gostava de ler? — Leio sobre tudo.

— Ah... tem um livro preferido? O meu é Jane Eyre, da Charlotte Brönte.

— Já li esse. - ele responde, finalmente voltando o olhar para ela. Seus olhos estão brilhando por causa da luz das velas, o mel deles parecendo mais escuro. Ela carrega um sorriso tímido, as bochechas coradas.

— O que mais gosta de fazer? - pergunta, bebendo um pouco de champanhe que havia na sua taça. Ele suspira, pensando. — Fumar.

Ela faz uma careta, negando com a cabeça. — Nunca mais vou tentar fazer isso. Que sensação estranha. - ele solta um riso, lembrando-se de como ela engasgou naquele dia, na torre. Ela ri fraco, apoiando a taça na mesa. — Por que você fuma?

Ele fica em silêncio por um tempo, pensando se realmente deveria responder. — Eu queria ter um controle na minha vida.

Ela o encara, e ele devolve o olhar. Nenhum dos dois soube explicar o porquê de seus corações terem passado a pular com força no peito, deixando-os sem ar. Fale alguma coisa, ela pensou. Essa sensação é estranha. Ela abriu a boca, prestes a dizer algo, mas desiste quando Slughorn se senta, começando a discursar; a comida finalmente sendo liberada.

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A Biografia de Mattheo RiddleOnde histórias criam vida. Descubra agora