104 - Mansão Nagasaki, 1996

199 29 0
                                    

Dê seu voto! ★
Comente! ✍︎︎

𑁍

Duas semanas e quatro dias.

Faz duas semanas e quatro dias desde que Mattheo acordou desesperado, procurando Angel e descobrindo que ela não estava ali.

E nas últimas duas semanas, quatro dias e oito horas, ele criou um plano absurdo para recuperar sua garota.

Estava obcecado. Ia dormir e acordava pensando nela. Já havia explicado o plano para os amigos centenas de vezes, e ninguém entendia o porquê de ele estar tão... desesperado assim.

Sim, eles querem que Angel volte para casa. Mas ela estava segura, mesmo que estivesse com Harry Potter. Ele não a machucaria, afinal, era seu irmão.

Mas Mattheo... ele não se permitiria descansar enquanto Angel não estivesse na sua frente. Respirando, piscando, com a porra do coração bombeando a quantidade certa de litros de sangue por minuto dentro do peito.

Ele precisava ter a certeza de que ela estava viva. Porque se ele sucumbisse aos pensamentos que rodeavam sua mente...

Ele enlouqueceria.

Ele não poderia se dar ao luxo de sofrer. Não quando seu sofrimento era, por grande parte, sua culpa.

Se ele tivesse ignorado ela na torre de astronomia aquele dia, como teria feito normalmente, isso não teria acontecido.

Se tivesse ignorado seus desejos e não fosse atrás dela naquele jogo de quadribol, isso não teria acontecido.

Se ele não tivesse seguido ela para a estufa naquela porra de dia, isso não teria acontecido!

Se ele não tivesse, nada disso teria acontecido.

Se ele não tivesse...

𑁍

O clima estava tenso na mesa. Saori e Blaise - que, com o espanto de todos, sabia cozinhar - haviam feito o jantar com os legumes orgânicos que cresciam na pequena estufa aos fundos da casa.

Pelo menos assim, eles não gastariam a comida estocada que mantinham guardada nas mochilas mágicas.

Mattheo mal comia. Ele parecia à beira de um colapso.

Saori sorria apaixonadamente para Draco, e o resto, comia em silêncio. Pansy suspirou alto, atraindo a atenção de todos para si. Ela olhou para Draco e Saori, mordendo o interior da bochecha.

— Eu preciso fazer uma coisa. - ela falou, pegando o pequeno frasco de dentro do bolso do moletom que vestia, e se levantando. Pansy hesitou ao ficar entre Draco e Saori.

Os dois a observava com curiosidade. Pansy respirou fundo, virando o líquido nas bebidas do casal. — O que é isso? - Saori perguntou, aproximando-se do copo e cheirando. Não detectou nada.

Pansy se afastou, dando a volta na mesa e se sentando em seu lugar. — Bebam.

Saori encarou a amiga com estranheza. — Pansy, o que é isso?

Parkinson mordeu o lábio inferior, o coração pulando no peito cada vez mais rápido. Ninguém falava, esperando.

— É um antídoto. - ela se obrigou a dizer.

— Para quê? - Draco perguntou, olhando para seu próprio copo.

— Para uma... poção do amor.

Saori e Draco fixaram o olhar na amiga. Theodore, Blaise e Lorenzo estavam de queixo caído, e só Mattheo parecia inabalado pela notícia. Saori riu sem humor. — O quê?

Pansy fechou os olhos, os dedos brincando com o tecido da calça. — Isso é um antídoto... para uma poção do amor.

— Que brincadeira é essa? Isso não é hora para isso, Parkinson. - Blaise acusou e Pansy ignorou a pontada de dor que sua desconfiança lhe causou.

— Não é uma brincadeira. - Mattheo respondeu, chocando a todos. Ele só falava quando era para explicar seu plano, de novo e de novo.

— O-O que...? - Saori sussurrou, desacreditada.

Mattheo encarou a japonesa sem nenhum carinho no rosto. — Vocês estão sob o efeito de uma poção do amor há mais de quatro meses. Angel quem descobriu isso. Porque vocês nunca receberam o antídoto, eu não sei. Mas toda a paixão de vocês começou com uma magia.

Saori ofegou, intercalando o olhar entre Mattheo e Pansy. Draco apenas encarava a japonesa, desacreditado.

— Não... - ela murmurou, olhando o loiro e em seguida, o copo - Parem com isso. Não tem graça.

Mattheo deu de ombros. — Se não acredita, beba.

Saori encarou o moreno com raiva, pegou o copo e engoliu todo o suco de uma só vez. Draco observou-a, imitando os movimentos da namorada em seguida.

Eles esperaram.

E esperaram.

E esperaram.

Até que Saori piscasse e as bochechas corassem. Draco inspirou fundo, olhando para ela com certa dor no olhar. — Vocês... estavam falando sério. - ela sussurrou, algo parecido com tristeza na voz.

A japonesa olhou para o anel de namoro em seu dedo, mordendo o lábio inferior com inquietação e depois, encarando Draco. O loiro olhava para a própria aliança.

— A gente... - ela começou, mas o loiro se levantou da mesa e saiu do cômodo. Saori piscou algumas vezes para afastar as lágrimas, e saiu também, indo na direção oposta à ele.

Theodore assobiou. — Caramba. Então tudo era magia?

Pansy encarou as cadeiras onde o casal estava segundos antes com tristeza. — Não. Mas eles ainda não sabem disso.

𑁍

Ele estava sobre o corpo ensanguentado dela. Murmurava um pedido de desculpas enquanto apertava os cortes com as mãos, tentando estancar o sangramento.

Sua magia não estava funcionando; o feitiço continuava.

Ele assistiu ela se engasgar com o próprio sangue ao tentar dizer algo, e chorou ainda mais.

Era sua culpa. Angel estava morrendo e quem tinha matado ela...

Ele tinha matado ela.

Era sua culpa.

Ela ofegava, engasgando cada vez mais com o sangue vermelho-intenso, buscando por um ar que não viria; a traqueia dela estava obstruída.

Angel chorou, arranhando a garganta em busca de ar, e Mattheo chorou junto, assistindo a garota que amava morrer abaixo de si.

E tudo era sua culpa. Tudo era...

Ela ficou imóvel. Mattheo soltou o aperto dos cortes, e em negação, começou a gritar e gritar.

O luto quebrou tudo que restava dele. Ele gritou e chorou e implorou por uma segunda chance que não viria.

Ele beijou uma última vez aqueles lábios. Uma última vez, antes de erguer a varinha - que havia se transformado em uma adaga fina, e cravar em seu próprio coração.
.
.
.
.

Mattheo abriu os olhos com calma, embora seu coração doesse dentro do peito. Ele ergueu os braços e viu seu sangue escorrer pelos pulsos e pingar no colchão: as unhas cortaram as palmas.

Ele se arrepiou com a sensação do sangue nas mãos. Lembrava tanto do sangue dela. Da vida dela se esvaindo do corpo magro...

Uma lágrima escorreu pelo rosto. Vazia. Sem esperança.

Uma vez.

Ele só queria conferir se ela estava viva. Pelo menos uma vez.

A Biografia de Mattheo RiddleOnde histórias criam vida. Descubra agora