122 - Mansão Nagasaki, 1997

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Ele acordou com uma dor de cabeça do caralho. A luz do sol inundava o quarto, fazendo com que seus olhos ardessem.

Mas Mattheo tinha certeza que, na noite anterior quando desmoronou na frente de Draco, a cortina estava fechada. Ele se levantou, olhando ao redor do quarto, vendo Saori e Pansy ali. Elas tinham a feição séria, apesar dos olhos preocupados e tristes.

Pansy segurava uma bandeja que cheirava muito bem. A barriga dele doeu pela fome, mas ele escondeu aquilo. Apenas encarou as meninas com desdém. — O que estão fazendo aqui?

Saori deu um riso de escárnio, estalando a língua. — O que deveríamos ter feito há muito tempo.

Mattheo ficou confuso, encarando as amigas. — O quê?

A japonesa respirou fundo, olhando para Pansy. — Primeiro, você vai comer. Tá parecendo um morto-vivo, de tão fodido que está.

Pansy mordeu o interior da bochecha, apoiando a bandeja na cama e abrindo a tampa de metal que cobria o prato. Ovos mexidos, duas fatias de pão extremamente atraentes e uma banana. A boca de Mattheo salivou. Ele olhou mais uma vez para as garotas, e puxou o prato para si, comendo com gosto.

Quando tudo o que restava eram farelos, e a dor de cabeça já não estava mais tão forte, Saori recolheu a louça suja e olhou para Pansy. A morena suspirou, olhando firmemente para Mattheo. — Já chega.

Ele encarou as duas em confusão. — Como assim?

— Exatamente isso. Já chega. - Pansy respondeu, o rosto mostrava uma máscara de confiança e seriedade.

— Chega de quê? - ele perguntou, ainda confuso.

— Dessa merda que você está fazendo, Riddle. - foi Saori quem respondeu. Ele engoliu em seco, desejando não ter comido tanto.

— Está machucando vocês dois, e muito. Nós entendemos; nada do que consigamos imaginar vai fazer jûs às coisas que vocês dois sofreram naquelas semanas. Mas você não vê? O que está fazendo com ela? Como está machucando ela? - Pansy falou com um certo desespero na voz - Não percebe em como isso está acabando com vocês dois?

— Eu não... - ele começou, mas foi interrompido.

— Não venha com esse papo de que você está bem, Mattheo, porque não está. Olhe só para você. Já viu suas olheiras? Os olhos inchados de tanto chorar? As bochechas magras? Isso é absurdamente desesperador, porra! - Saori gritou, e ele reparou que ela tremia levemente.

— Eu não ia...

— Angel está quebrada, Mattheo. Você sabe bem o que ela passou, e sabe que ela está fingindo estar bem. - Pansy o interrompeu, com dor no olhar - Ela foi dormir às três e meia da manhã ontem, porque às nove ela começou a chorar, e não parou mais.

O peito de Mattheo se comprimiu como nunca havia feito antes. Sua garota...

— Ela está tão sem vida, Mattheo. - Saori chorava - Tão vazia. Mas ela finge estar bem, por nossa culpa.

— Ela olha para seu quarto por horas, esperando que você apareça. Chora pelos cantos da casa, e nós sabemos que não é só pelos traumas que ela tem. Ela põe a porra do prato para você, que vai ficar vazio e pegar poeira da noite para o dia. Mas na hora do jantar, ela vai lavar aquele mesmo prato e deixar tudo limpo para você, com esperanças que você apareça, porra! - Pansy gritou irritada, com os olhos queimando em tristeza e fúria.

Eu sei, ele queria dizer. Eu sei, eu sei, eu sei.

Mas ele ficou quieto, o peito se apertando cada vez mais a cada sílaba que as meninas diziam.

— Ela precisa de você, Mattheo. Angel está sofrendo, e precisa de você. Mas você não está lá por ela. - Saori falou com a voz embriagada.

— E você claramente precisa dela. - Pansy sussurrou - Então por que você se recusa a vê-la?

O peito de Mattheo se espremeu, e o coração partiu. — Por que... eu não quero machucar ela ainda mais. - ele sussurrou, contendo as lágrimas. Saori ofegou, o rosto estava molhado pelo choro, e Pansy engoliu em seco, com lágrimas escorrendo pela bochecha.

— Você a machuca a cada dia que não a vê. Não percebe isso? - Pansy sussurrou com dor na voz, e o mundo de Mattheo caiu.

— Você fez com que ela sentisse vontade de viver, Mattheo. - Saori conseguiu dizer - Eu a conheço há mais de seis anos. E só agora eu conheci a Angel que é genuinamente feliz. E isso se deve à você. Você a fez respirar pela primeira vez, droga. Por que não aceita que, ao menos uma vez na vida, alguém pode amar você?

Ele ficou em silêncio. Pansy e Saori ficaram em silêncio. A cabeça dele não pulsava mais, embora seu coração sim. Mattheo engoliu em seco. — Não quero... não quero que ela sofra de novo.

— Você não percebe que nada disso foi culpa sua? - Saori falou baixinho, ainda chorando - Nada disso é culpa nossa. Nada.

— Voldemort estaria atrás dela com ou sem você. - foi a vez de Pansy - Ela é uma Potter. Seu pai a caçaria independentemente dos namorados dela. Só coincidiu que fosse você.

Ele engoliu em seco. Ele sabia disso. Mas não poderia deixar de se sentir culpado...

— Se tem alguém que seja o culpado dessa história, é Voldemort. Ninguém mais. - Saori falou com um sorriso fraco - Principalmente você. Mattheo, você é uma vítima, talvez mais que todos aqui.

— Entenda que você não é culpado pelas merdas que seu pai faz. Entenda que você é a maior vítima dessa história, pelo tanto que sofreu. E aprenda a se deixar ser feliz. Aprenda que você merece a felicidade, merece ser amado. Principalmente por aquela garota, que ama tanto você. Eu nunca pensei que uma pessoa poderia amar tanto alguém, até ver o jeito que Angel te olha. - Pansy finalizou, com um sorriso leve.

— Vá falar com ela. - Saori ordenou, sorrindo.

E elas saíram do quarto.

𑁍

Ele encarou a parede, com a cabeça à mil, por vinte minutos. Ele engoliu em seco, se levantando da enorme cama e abrindo o vidro da janela. Encheu a banheira e tomou um banho longo, esperando que a água lavasse seus pensamentos também.

Mattheo se vestiu; roupas limpas que Draco havia lhe dado há tanto tempo. Fez a barba, embora ela não estivesse aparente, e escovou os dentes. Ele se olhou no espelho, reparando na aparência de merda que tinha, mas não estava com tempo para isso.

Mattheo inspirou fundo, saindo do quarto e parando de frente à porta de Angel. Ele ergueu o punho, mas parou antes de bater na porta.

E se ela não quisesse vê-lo?

E se ela tivesse passado a odiá-lo?

E se ela o desprezasse, após o que ele havia tentado fazer com ela?

Cada vez mais, os pensamentos e a insegurança invadiam sua cabeça. Ele tremeu, suando frio, e recuou um passo.

Não conseguiria. Se ela o odiasse, se aqueles olhos que ele tanto amava, o encarasse com ódio e nojo, ele não aguentaria.

Deuses, tudo o que ele havia feito...

Ele abaixou a mão, pronto para voltar para o quarto.

— Mattheo? - a voz doce o chamou, e seu corpo inteiro travou. Ele segurou o choro, virando-se para Angel, que estava parada no início da escada.

A Biografia de Mattheo RiddleOnde histórias criam vida. Descubra agora