103 - A Toca, 1996

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Depois de tanto tempo, eu ressurgi das cinzas! ✩

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Ela olhou ao redor; estava no sótão. Conseguia ouvir alguns ruídos abafados, muito longe de onde estava. Havia uma janela pequena, que refletia a luz leitosa do dia pelo lugar abafado. Angel forçou seu corpo para se levantar, mas estava fraca e o corpo cedeu.

— Você estragou tudo. - ouviu o irmão dizer, assustando-se ao perceber que ele estava do seu lado. Ela franziu os lábios.

— O que quer dizer?

Harry grunhiu, levantando-se da cadeira que estava e indo até a irmã. — Se não tivesse agido como uma puta e fodido o Riddle, nada disso teria acontecido. Agora, por sua causa, Dumbledore está morto e estamos sendo caçados! - ele explodiu, cuspindo contra o rosto dela. Angel fechou os olhos, as ofensas não doíam tanto assim. Ela então reparou que o irmão carregava uma bolsa escura abaixa dos olhos inchados e avermelhados. O que tinha acontecido?

Ela não sentia vontade de falar com Harry. Nem com ninguém, na verdade. Estava exausta emocionalmente, e precisava de um bom tempo sozinha. Só ela, comida e luz do sol. Bastante luz do sol.

— Vai ficar aqui até que eu diga o contrário. - Harry continuou, indo em direção à porta. Angel não se dignou a olhar para ele, o que o irritou ainda mais. Ele voltou para perto da cama, agarrando as bochechas dela com uma mão e trazendo o rosto da loira para perto do seu. — Você acha que é inocente nessa porra, caralho?! Dumbledore está morto por sua culpa, sua cadela, e tudo porque você não pôde agir como alguém decente e precisou sentar no primeiro pau que te prometeu fama! - ele gritou, saliva espirrando no rosto dela. Angel sentiu o coração quebrar ainda mais.

Os cacos estavam virando grãos.

Poderia fingir o quanto quisesse, mas lá no fundo, essas palavras acabavam com ela.

Angel engoliu o choro, virando o rosto com força para sair do agarre do irmão. — Você não sabe o que eu passei, Harry, para descontar toda essa merda em mim.

Ele riu com escárnio, sentando-se de volta na cadeira. — O que você passou? O que você passou, porra? Eu perdi todo mundo ao meu redor, e você quem sofreu?!

— Eu nunca tive ninguém ao meu redor, cacete! - ela gritou de volta, tonta pelo mínimo esforço. Harry bufou, revirando os olhos. — Sempre a vítima, não é, Angel?

Ela soluçou, a respiração falhando enquanto o peito se contraía. — Não tenho energias para você agora, Harry. Por favor, ajude nós dois e vá embora.

Ele a encarou com nojo, levantando-se e seguindo para a porta. — As refeições serão tragas até você. - disse e saiu. Angel ouviu o click da porta se trancando.

Em outras palavras: não queremos você perambulando pela casa. Não se dê ao trabalho de tentar.

𑁍

Ela havia devorado o prato enorme de comida que deixaram para ela sobre a mesa. Não viu quem havia entrado, pois estava dormindo.

Seu corpo inteiro doía. Ela viu pelo reflexo da janela que estava magra e pálida, totalmente sem forças. Quando comeu tudo que aguentava, Angel se encolheu, encostada contra a cama e completamente banhada pela luz do sol, e chorou.

Ela chorou e chorou e chorou.

Chorou de exaustão. De tristeza, ódio e desespero.

Chorou de saudades.

Mesmo que vê-lo significasse dor e sofrimento, pelo menos Mattheo estava lá com ela, nos momentos de tortura. Agora, ela não sabia onde ele estava.

Não sabia quanto tempo havia se passado desde que foi resgatada, pois pôde ter ficado apenas horas ou muitos dias inconsciente. Não sabia que dia era, pois dentro daquela cela, o ontem e o hoje se mesclavam com o amanhã.

Então Angel chorou até a garganta doer e a cabeça girar de fome. Bem na hora, a porta se abriu e alguém chamou por ela.

— Angel?

— Onde ela está?

— Acha que ela fugiu?

— Por onde fugiria?

— Pela janela, ué.

— Olha o tamanho daquela bosta. Ela não passaria por aquela grade.

— Você viu o estado dela quando eles chegaram? A menina é um esqueleto.

— George, isso é meio ofensivo de se dizer...

Os gêmeos ficaram imóveis ao vê-la agachada no chão. Tão pequena e delicada que parecia prestes a quebrar a qualquer momento. Ela ignorou o fato de que eles começaram a respirar mais devagar.

— Oi, Angel. - Fred sorriu fraco; ele carregava uma bandeja que cheirava muito bem. Apoiou-a sobre a mesa e se aproximou dela com cuidado - Você está bem?

George também carregava uma bandeja, e a colocou do lado da que seu irmão segurara. Ele foi para perto do gêmeo, sorrindo meio forçado. Angel intercalou o olhar entre eles. Ela reconhecia os dois por causa da escola, mas nunca haviam conversado.

Com a garganta rouca pelo choro, ela os respondeu. — Oi.

Os gêmeos trocaram olhares, sentando-se no chão. Angel os observou com cautela, esperando. Fred suspirou. — Harry disse que você não quer descer. Tem certeza disso? Lá embaixo tem um jardim grande, você pode pegar quanto sol quiser.

George concordou com um aceno. — É. E também, está mais fresco. Mas anda bem frio, então teríamos que trazer agasalhos para você...

— Frio? - ela perguntou em alarme. Na última vez que havia visto o sol, ainda era início de outono - Que mês é esse?

— Dezembro. - Fred respondeu, olhando-a de uma forma estranha - Quatorze de dezembro.

Angel ficou imóvel. Ela encarou o nada enquanto assimilava aquilo tudo. Três meses. Faz três meses desde que esteve em Hogwarts. Ela piscou, engolindo o choro. — Ah.

Os gêmeos ficaram em silêncio. Angel limpou a garganta, passando a olhar para o céu. — Por quanto tempo eu fiquei desacordada?

George olhou para o irmão, preocupado. — Duas semanas e quatro dias.

A Biografia de Mattheo RiddleOnde histórias criam vida. Descubra agora