2 - Hogwarts, 1996

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Ele odeia esse lugar.

As pessoas vazias e rasas, que fingem ter um propósito para quando saírem dali. Inocentes e idiotas, que justificam as maldades do mundo com palavras simples.

Odeia como são fáceis de assustar e aterrorizar.

Sangue escorre de sua mão, a ardência do corte é fraca demais para limpar sua mente. Sua cabeça gira, pulsando com pensamentos intrusivos e nunca realmente se acalmando.

Ele mergulha a mão no balde de ferro, suspirando quando o álcool entra em contato com o ferimento. A carta sendo lida novamente em seus pensamentos, sua ficha finalmente caindo. A liberdade que pensava ter era uma grande mentira.

Draco agora é um comensal. Ajude-o a matar AD. Draco agora é um comensal. Ajude-o a matar AD. Draco agora é um comensal. Ajude-o a matar AD...

Draco agora é um comensal. Mate Dumbledore pois você sabe que ele não vai conseguir fazer isso.

Idiota.

Ele leva o cigarro até a boca, tragando a fumaça e sentindo-a encher seus pulmões. A sensação é que sua mente está flutuando dentro de seu corpo, mas ele não consegue fazer nada para trazê-la de volta. Devagar, solta a fumaça pela boca, a nicotina preenchendo o espaço vazio em seu corpo.

Ele abre os olhos com dificuldade, pois estão pesados. Repara na garrafa de whiskey caída no chão, muito longe de onde está. Olha ao redor, vendo a banheira que transborda, lembrando-se de que iria tomar banho. A água escorre silenciosamente pela porcelana, molhando o chão de mármore do banheiro de sua suíte. Ele se encontra apoiado na parede oposta à porta, que está aberta, e encharcada com a bebida. Os cacos de vidro cintilam no chão, algumas poucas garrafas estão inteiras.

Ele teve um ataque de raiva.

Mate Dumbledore, mate Dumbledore, mate Dumbledore...

Tanto faz.

Ele se levanta, andando cambaleante até o quarto, seus pés se cortando nos cacos de vidro. Procura pelo chão a garrafa que acabara de enxergar. Sua visão turva e a cabeça confusa... Merda, onde está?

Ele enxerga a garrafa, caída na horizontal. O líquido âmbar escorre pelo gargalo lascado aos poucos. Soltando um palavrão, agacha-se para pegá-la, bebendo em seguida. Quase corta sua boca, mas não se importa. A bebida desce por sua garganta queimando, a ardência fazendo com que se sinta vivo.

Ele volta ao banheiro, uma pontada de dor indica que cortou ainda mais seus pés. Apoia a garrafa no chão antes de entrar na banheira, afundando todo o corpo na água que ainda transborda. Ah, ele não está afim de desligar a torneira.

Ele escorrega pela porcelana cada vez mais, até que sua cabeça finalmente esteja submersa n'água, e sua visão já turva, torne-se embaçada. Não se levanta quando seus pulmões liberam todo o ar com bolhas gordas subindo para a superfície. Não se levanta quando eles imploram por oxigênio. Não se levanta quando o desespero ataca e, se estivesse sóbrio, estaria se debatendo agora.

Mas seu corpo está traindo qualquer instinto de sobrevivência, pois continua imóvel.

Quando seus arredores começam a escurecer, ele percebe que já basta. Usa toda a força que não possui para se levantar, engolindo baforadas de ar com um certo desespero.

Sua cabeça recosta na banheira, enquanto ele ouve o som da água da torneira ainda aberta. Tudo tão distante. Seu coração bate rápido no peito. A adrenalina faz com que ele se sinta vivo de verdade, com que ele respire.

A água volta a cobri-lo novamente.

𑁍

A primeira mesa da Sonserina sempre está vazia. Aquela mesa é dele, e somente algumas pessoas têm a permissão de sentar lá.

A Biografia de Mattheo RiddleOnde histórias criam vida. Descubra agora