83 - Hogwarts, 1996

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O dia estava frio e chuvoso. O cheiro de terra molhada envolvia a escola como um cobertor macio e as aulas externas haviam sido canceladas pelo lamaçal que havia se formado lá fora.

Independentemente do tempo, Angel estava pulando por cima das poças de água que se acumularam na grama, e se encolhia debaixo da capa de chuva para atravessar o campo.

Ela abriu a estufa, o cheiro de suas flores abafando o da terra molhada. Acendeu as velas do lugar, observando todas as fileiras de damas-da-noite que eram seu maior orgulho.

Meia hora mais tarde, todas as flores já haviam sido regadas - incluindo as rosas de Mattheo - e seus dedos estavam sujos de terra seca que se esfarelava. Ela bebeu um pouco da água que havia levado em uma garrafinha, secando o suor da testa com o pulso antes de voltar a afofar a terra.

O verão chegaria em breve, e o jeito que o solo havia sido moldado, de uma forma que sobrevivesse ao inverno, causaria danos às flores no futuro próximo.

A loira murmurava sua canção, sorrindo fraco ao se lembrar que Mattheo já havia visto a garota cantando aquela mesma música, tantos anos antes.

Que engraçado, o destino.

O relicário que Mattheo havia lhe dado estava frio contra sua pele. A corrente ficava escorregando por seu pescoço, fazendo cócegas.

Ela fincou os dedos na terra úmida, escavando toda a parte regulada da terra e fazendo uma grande bagunça.

De repente, gritou ao sentir algo gosmento escorregar por seus dedos, tirando as mãos do lote rapidamente. Ela ofegou, passando a gargalhar de si mesma ao ver a minhoca se retorcendo sobre o chão.

— Misericórdia, que susto do capeta... - murmurou, passando a juntar a bagunça de terra que havia feito no chão.

— Você não tem ideia, boneca. - Mattheo disse atrás dela, com os braços cruzados e apoiado contra uma pilastra. Ela gritou novamente, virando-se assustada para o garoto; seu coração batia tão forte pelo susto que sentia a pulsação na boca. — Infeliz! - gritou, pegando um punhado de terra e jogando aos pés do moreno.

Ele riu, aproximando-se. Havia visto a loira andando pelos jardins, mesmo naquela chuva, e decidiu vir fazer companhia para ela. Mas decidiu ficar em silêncio e apenas observá-la fazer o que gostava, pois aquela calma e paz era algo novo para ele.

Ele nunca admitirá que, por reflexo, havia apontado a varinha para o solo que estava sendo amaciado pela loira quando ela gritou. Todas as possibilidades em sua cabeça: minhoca, cobra, um animal peçonhento e nojento e venenoso...

— O que está fazendo aqui? - ela perguntou, limpando as mãos em um pano que havia ali e sorrindo para o Riddle.

Mattheo deu de ombros. — Não tinha nada para fazer.

Realmente; suas aulas já haviam acabado. Ela olhou para ele, o coração já acelerando.

Ainda era difícil entender aquele sentimento que enchia seu peito a cada fôlego; expandindo-se ainda mais a cada dia e queimando suas entranhas.

Ela nunca havia sentido aquilo antes, afinal. Amor.

Angel abraçou o moreno, querendo somente sentir o cheiro dele. Ele ficou um pouco confuso com o afeto repentino, mas envolveu a cintura pequena da garota e afundou o nariz na curvatura do pescoço dela, inspirando fundo.

Ela se sentiu em casa. Ele se sentiu feliz.

— Quer me ajudar? - perguntou ao se afastar - Preciso remodelar todos os lotes.

— Por que? - ele perguntou, seguindo a loira até onde ela trabalhava até agora há pouco; se ajoelhou e ergueu as mangas da camisa.

— O jeito que está arrumado agora deixa a terra preparada para o frio do inverno, assim as flores sobreviverão pois preserva calor. Mas se eu deixar com esse nivelamento, vão superaquecer durante o verão e tudo morrerá.

— Que trabalho do cacete. - ele resmungou, colocando as mãos limpas no solo já revirado - Não pode falar para algum elfo fazer isso?

Angel revirou os olhos. — Não. Essa estufa é o meu cantinho; quem cuida das coisas por aqui sou eu.

— E eu, aparentemente.

A loira sorriu de canto, empurrando um ombro do moreno com o próprio. — É bem justo. Esse lugar é nosso.

Sim. Aquela estufa era o lugar deles.

Ele escondeu o sorriso, bufando falsamente e passando a cavucar no solo gelado.

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— Vocês viram o casal por aí? - Pansy cumprimentou os amigos; estavam reunidos em uma das muitas salas que ficavam na câmara abaixo da comunal. Naquele cômodo em específico, haviam várias poltronas e sofás, tapetes e uma lareira que queimava. Por mais que estivesse esquentando lá fora, a câmara havia sido cavada em pedra pura. Conseguia ser ainda mais fria que a comunal.

— Angel havia falado alguma coisa sobre ir florescer. - Zabini comentou, ele mastigava um chiclete - Será que eles foram transar?

Saori revirou os olhos. — Não, eles foram para a estufa.

— Que estufa? - foi Theodore quem perguntou. Saori bebeu um pouco do chocolate quente que haviam levado até ali.

— Eu nunca fui lá. Mas Angel tomou posse de uma das estufas em desuso da escola e ela planta flores lá. Era o jeito dela de escapar do presente e coisa assim.

— Mas como o Riddle já conheceu aquele lugar, se você mesma nunca foi?

Saori sorri. — Isso é algo deles. Angel precisava desse espaço então não me ofendo muito. Espero que ela se sinta confortável de me levar lá um dia, claro; mas antes de tudo, se ela deixou Mattheo ir lá, significa que confia nele. E gosto da ideia de que ela confia em alguém além de mim.

— Ela tem sorte de ter você como amiga. - Berkshire é quem diz, mas a japonesa dispensa o elogio com um movimento de cabeça.

— Ela tem a todos nós agora, assim como nós a temos. Assim como nós nos temos. - Draco diz em um tom rouco, atraindo a atenção para si. Ele estava sentado mais próximo da parede e longe da lareira, meio afastado de todos.

Zabini sorriu. — Ele tem razão. Somos uma família agora, temos uns aos outros para o que precisar.

— Que coisa mais boiola. - Pansy falou, fazendo uma careta de nojo. Saori gargalhou e Theodore bufou uma risada debochada ao ver o rosto ofendido de Zabini.

— Muito bem, seus bando de porra! Quero beber essa noite, mas precisamos de todos aqui. Vamos procurar os dois coelhos no cio! - Pansy pulou da cadeira, sorrindo feito um gato antes de sair da sala.

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A Biografia de Mattheo RiddleOnde histórias criam vida. Descubra agora