107 - Mansão Nagasaki, 1997

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Ele olhava os arbustos de rosas com desgosto. Odiava o cheiro delas. Odiava a cor delas. Odiava tudo nelas.

Pansy vinha pelo caminho de cascalhos, parecia nervosa de se aproximar. Mattheo arrancou uma flor do caule, amassando as pétalas na mão e jogando-as com força para longe. Pontinhos brancos voaram no céu e caíram delicadamente no gramado congelado.

Pansy parou ao lado dele, observando as pétalas caírem. — Eu tenho uma coisa para você.

Mattheo não olhou a garota. Ela se movimentou, o som dos agasalhos pesados foi ouvido. E então...

Um tilintar.

O coração de Mattheo acelerou com uma esperança inútil.

Ele se virou para Pansy, esperando que, ao invés da garota morena, cachos dourados estivessem na sua frente. Claro que não.

Ela segurava a pulseira.

A maldita pulseira com berloques.

Pansy entregou para ele, que segurou o objeto com força, temendo que sumisse. — Encontrei no porta-jóias dela quando checava nosso quarto, fazendo as malas. Achei que você...

As memórias sopraram sobre ele. Um beijo em uma estufa há muito tempo. Um toque em uma banheira. Um beijo roubado. Uma aventura atrevida na biblioteca.

Um colar. Um sorriso lindo.

E o maldito tilintar da maldita pulseira.

Pansy mordeu o interior da bochecha, esperando. Mattheo ofegou. — Onde... Por que ela parou de usar?

Pansy deu de ombros. — Não sei. Acho que deve ter quebrado, não entendo também.

Mas a pulseira estava inteira.

Ela saiu quando percebeu que ele precisava ficar sozinho. Mattheo olhou para a pulseira em sua palma, reparando pela primeira vez nos berloques.

Tinha uma flor maior, uma espada, um trevo de quatro folhas e um pequeno livro. Os outros eram aleatórios, como folhas, mais flores redondilhas, dois pequenos pássaros e uma gota vermelha.

Sangue?

Ele abriu a pulseira e colocou no pulso. Conseguia até mesmo ouvi-la dizer em seu ouvido "Ihhh Mattheo, tá jogando pro outro lado?"

Mattheo chacoalhou a pulseira, os berloques tilintando alto. Ele ofegou, o peito doendo absurdamente.

As pernas cederam. Ele caiu no chão, encolhendo-se sobre os joelhos, e chorou.

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— Precisamos conversar. - Pansy disse ao ver Blaise na sala, em frente à fogueira. Sabiamente, Theodore e Lorenzo saíram às pressas do lugar.

Pansy sempre suspeitou daqueles dois. Na cabeça dela, eles se comiam nas segundas, quartas e sextas.

Ela não estava tão errada assim.

Zabini franziu as sobrancelhas; não estava com vontade de falar com ela. — Não.

Pansy continuou em pé, os braços cruzados enquanto olhava para o moreno.

Tantos meses... tantos meses de toques e conversas proibidas, para serem descartados com duas simples palavras.

Me desculpe.

— Olha, eu sei que você está puto comigo por eu não ter dito nada quando descobri o que Angel faria. Mas isso está sendo ruim para o grupo.

Na verdade, ninguém se importava. Todos estavam atolados demais nas próprias merdas, para sequer prestarem atenção na briga de ficantes dos dois.

Blaise soltou um riso de escárnio. — Você age e fala como se fosse a líder dessa porra Parkinson, mas sabe que quando Angel voltar, vai ser substituída num estalar de dedos.

Angel não era a líder, mas ela unia aquele grupo por ter se envolvido com Mattheo. E também, pois ela era um raio de sol por si só.

Pansy franziu os lábios. — Não estou tentando tomar o lugar dela.

Blaise desviou o olhar, focando em algum ponto do papel de parede florido e delicado da mansão. Pansy revirou os olhos, saindo da sala.

Ele ignorou a pontada de dor no peito que sentiu ao vê-la fechar a porta.

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Theodore e Lorenzo tinham uma regra.

Se alguém perguntar, estávamos bêbados.

Nas três vezes?

Não, em todas.

Eles ofegaram, os lábios próximos, enquanto caíam na cama de Berkshire. Arrancaram as roupas com desespero e Theodore ficou por cima.

Ele sempre ficava por cima.

Não é que tenham se apaixonado ou algo do tipo. Mas um dia, estavam mais drogados por causa de uma erva que haviam comprado de uns lufanos, e começaram com uma conversa estranha.

"Já provei de tudo, e parece que não tem mais graça." Theodore estava sentado no chão, com a cabeça apoiada no estofado do sofá.

"Do que estamos falando?" Lorenzo perguntou. Os amigos já haviam saído da sala. Com garotas ou sozinhos.

"Sexo."

"Ah, entendi... - uma pausa - O que quer dizer?"

"Que eu quero experimentar algo novo."

Uma coisa levou à outra naquele dia, e eles descobriram que era algo muito, muito interessante.

Eles ainda amavam uma buceta. Mas essa interação entre os dois aproximou os garotos no sentido literal da palavra, e fez com que se sentissem mais íntimos. Mais amigos.

O grupo de amizade que faziam parte era tomado por drama. Só Angel e Mattheo já eram fodidos o suficiente para uma vida inteira, e eles sabiam disso.

Daí tinha Saori e Draco, com o novo problema da poção do amor. Já Pansy e Blaise...

Todos deveriam parar de pensar tanto e só transar. Era melhor quando eles se comiam todos os dias.

Lorenzo ofegou, desfazendo-se na boca de Theodore. — Você melhorou nisso.

— Tá me dizendo que eu não sabia chupar um pau?

O garoto sorriu de canto. — Estou dizendo que eu sou melhor. - e se ajoelhou.

𑁍

Mattheo chacoalhava a pulseira. De novo e de novo, nunca se estressando por conta do som. Ele nunca mais se irritaria com aquele barulho.

Era um conforto e uma dor de lembrete. Angel estava lá fora, e ele não sabia se ela continuava viva.

Tinha que estar.

Ele parecia entrar cada vez mais fundo na mente, a cada dia que passava. Sabia onde Potter teria levado a garota, pois era uma das áreas de fuga que Dumbledore havia mostrado para Pansy e Saori no dia que invadiram a mansão Riddle.

E já tinham o plano inteiro na cabeça.

Ele não aguentava mais esperar pelo "momento certo". Queria vê-la. Mesmo que de longe.

Mattheo colocou a pulseira no bolso e com um estalo, aparatou.

A Biografia de Mattheo RiddleOnde histórias criam vida. Descubra agora